domingo, 9 de outubro de 2011

Papel dos Guias

Dia desses, como se não tivesse mais nada para pensar na vida, comecei a me questionar qual é o estágio evolutivo e qual a natureza da personalidade de um Ser que possa legitimamente ser chamado de Guia? Como não conheço todos os guias, só pude ter como 'material de pesquisa' meus próprios mentores (e outros que me acompanham devido à natureza do meu trabalho) e, portanto, é apenas sobre estes que posso falar - mas, com um pouquinho de boa vontade, o leitor pode estender estas considerações.

Para início de conversa, é importante compreender que, no processo evolutivo, um Ser pode caminhar pela via da Devoção pura e atingir um estágio de total iluminação e integração com o Divino sem passar, necessariamente, pelo 'estágio' de mentor espiritual. Este é o caminho de muitos mestres orientais e é visível em muitas correntes do Budismo e do Hinduísmo. Um Guia, portanto, é alguém que decide compartilhar com os outros aquilo que já aprendeu e, em muitos casos - como na belíssima história de Kwan Yin -, decide retardar o estágio final de sua evolução em nome da compaixão que sente por aqueles que se encontram em estágios mais atrasados que o dele. Contudo, também como na história de Kwan Yin, um Guia que de fato tenha atingido um grau maior de evolução também já compreendeu que a ele cabe apenas o papel de inspiração, pois, como costumo repetir no consultório, 'experiência não se transmite; se adquire!'

Isto significa que nenhum Guia irá 'encurtar' para nós nosso caminho evolutivo; eles não irão nos tirar as necessárias experiências - seja de alegria e luz, seja de dor e sombra - que irão, num momento qualquer, nos habilitar a dizer que nos conhecemos a nós mesmos e também conhecemos a Criação. E este é o ponto chave da evolução: considerando que todos estamos aqui para atuar de forma consciente no processo evolutivo e que, em dado momento, estaremos nós mesmos exercendo conscientemente o papel de Criadores, aquilo que se chama 'ato de evoluir' pode ser basicamente definido como um 'estágio' nos diversos 'departamentos cósmicos'. É como se fôssemos todos 'filhos dos donos' de uma grande empresa e que, como herdeiros de tamanho patrimônio, precissássemos entender o funcionamento detalhado de todos os setores, desde o setor de limpeza, até a diretoria, passando pela produção e armazenamento. E não há como entender alguma coisa visceralmente se não pela vivência diária. Portanto, diferentemente do que muitas pessoas acreditam, os Guias dificilmente nos 'livram' de coisas que são úteis para nosso crescimento. O que eles fazem é nos explicar, nos treinar, nos apoiar e nos estimular a seguir em frente em nosso aprendizado.

Mas para se atingir este estágio, o Ser precisa ter duas coisas muito importantes: uma perfeita compreensão do verdadeiro significado do Tempo, e uma clara noção de que em última instância bem e mal, luz e sombra são intercambiáveis e sua polaridade depende, enormemente, do grau de consciência. Quanto a este último ponto, o Oriente, e precisamente a Índia, tem uma vantagem enorme sobre nós, ocidentais. A figura milenar de Kali, com sua língua sangrenta, seu cinto de crânios e a cabeça de um devoto decapitada nas mãos, é uma imagem bastante eloquente que nos lembra a todos que há luz na treva e treva na luz. Em termos práticos, isto fica claro em aforismos como 'há males que vêm para bem' e 'há ganhos disfarçados de perdas'; mas o contrário também é verdadeiro, pois inúmeras vezes desejamos algo que a princípio nos parece 'bom' e acabamos nos ferindo muitíssimo com aquilo - num exemplo extremo, qualquer ser humano que tenha tido o desprazer de se apaixonar por um psicopata pode testemunhar sobre 'perda' disfarçada de ganho...

Uma outra figura arquetípica, esta do budismo, também demonstra o quanto o 'mal' - do ponto de vista do indivíduo semi-consciente - pode, na verdade, ser um 'bem' disfarçado: o demônio Yamantaka é um ser bastante 'feio' que tem como atributo 'devorar' a morte. Em termos psicológicos isto poderia significar que o confronto honesto com o que há de menos bonito - ou mesmo mais horrendo - em nós nos leva a um estágio evolutivo superior, pois este confronto não se resume a ficar ali estatelado de medo, mas à realização de uma síntese que leva à superação das dicotomias bem/mal, bom/mau - e mesmo vida/morte. Este é um ponto muito, muito importante no processo de auto-consciência e poucos no Ocidente o compreendem inteiramente. Usualmente nós somos tão aferrados ao nosso ego e ao conceito de que o que é bom tem que ser bonito, arrumadinho e 'engomadinho', que quando encontramos algo verdadeiramente 'feio' em nós ou na Criação, tendemos a acreditar que 'aquilo' é um desvio, um ponto fora da curva. Qualquer desenhista, no entanto, pode explicar que a sombra ressalta a luz e que sem a primeira, não se delimita a segunda (donde o aforismo "Quanto maior a Luz, maior a Sombra" - e vice-versa). E, ainda, qualquer aluno de física elementar sabe que o Universo, tudo no Universo, se originou de um único ponto - a chamada 'singularidade' - e, portanto, luz e sombra têm a mesma origem .

A Verdadeira Consciência, portanto, é um ponto além desta dicotomia, como se fosse um estágio superior a ambas. Pessoalmente tenho a sorte de ter dentre meus guias muitos mestres verdadeiramente orientais (e alguns que já estão mesmo é em outros 'mundos') e com eles aprendi que a palavra 'relativizar' tem um sentido muito mais profundo do que eu mesma consigo entender - ainda. O que nos impede, portanto, de dar este passo de relativização é justamente a ignorância e o resultante apego doentio a uma visão polarizada da Criação. Mas não nos desesperemos: com os Guias também aprendi que mais dia, menos dia, atingiremos este estágio. E este é o outro 'pré-requisito' para alguém poder de fato ser chamado de Guia: conhecer a verdade de que o Tempo é o Senhor de Todas as respostas, aquele que realmente sabe que nosso destino enquanto Criadores Conscientes há de se cumprir inexoravelmente.

Um Guia, portanto, é alguém que tem uma visão muito sábia de nossos erros, tropeços e que, de quebra, ainda nos mostra como devemos utilizar nosso verdadeiro poder para atingir o estágio de Criador Consciente. Faço esta distinção porque, como bem prova a física quântica (e como comentei de passagem no post anterior), estamos todos criando nossa realidade todo o tempo - apenas que o fazemos de forma inconsciente, movidos pelas pulsões emocionais e desejos ocultos até para nós mesmos. Acrescentemos, contudo, o "ainda" (ainda criamos de forma inconsciente).

... Para finalizar quero apenas detalhar que a função de orientar alguém é um papel que, de um jeito ou de outro, todos nós exercemos ou exerceremos um dia, seja na figura de pais, professores ou mesmo orientadores espirituais. Contudo, isto é apenas um estágio no nosso processo evolutivo e usualmente o fazemos ainda movidos por relativa ou total inconsciência dos verdadeiros sentimentos e/ou motivações por trás deste gesto. Não é incomum que o façamos por apego, no caso de estarmos orientando alguém com o qual nos afeiçoamos ou tomamos por nossa responsabilidade, ou mesmo vaidade. O que aqui chamo de Guias são aqueles que já passaram deste ponto, já realizam sua função de forma totalmente consciente por terem atingido uma maturidade espiritual que nós ainda não alcançamos. Eles conhecem as Verdadeiras Leis do Cosmo e interagem com a Criação de forma bem diferente da nossa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário