sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Lua Nova: a Yaga, o Barba-Azul e o Pânico da Amiga

Seguindo a linha da "Mulher Que Caminha com Altivez" (post 10/11/11), escolhi trabalhar um trânsito lunar que ativava aspectos tanto de minha Casa XII (inconsciente, grosso modo) e Casa II (valores, idem). Tendo a Baba Yaga como 'filtro', o mote era repassar os valores que ainda prejudicam a expressão de meu Self Selvagem e reativar no inconsciente aquilo que algum dia possa ter me ajudado a estar mais próxima deste aspecto, e que possa ter ficado desvitalizado nos últimos tempos. Lembrando sempre que a Lua Nova é uma boa lua para limpeza (repassar valores Casa II) e também para semeadura (replantar aspectos Casa XII), estava eu elaborando justamente os meus propósitos mais claramente quando 'uma coleção' de sincronicidades virou um pouquinho o rumo da conversa. Mas, antes de explicar os causos, algumas digressões.

A primeira delas diz respeito ao fato de que, infelizmente, ainda nos dias de hoje, muitas pessoas desconhecem a força e o valor dos arquétipos do inconsciente coletivo e de como estes afetam de formas bastante objetivas a vida diária de cada um de nós. A ignorância, ao contrário do que se imagina, não imuniza o indivíduo do efeito pernicioso de um arquétipo degenerado pelo desuso ou negativo per si. Uma Baba Yaga enfurecida pode perfeitamente bem, como exemplo de um arquétipo bi-polar capaz de degenerar, 'abocanhar aos pedaços' uma mulher desavisada que ouse desafiá-la mantendo uma postura de 'boa-demais' ou a 'ingenuidade patológica' que ignora todas as exortações da intuição - visto que isto é o equivalente a relegar a Mulher Selvagem à periferia da psique. Em termos práticos a Yaga pode fazer com que ela seja sugada e exaurida até por aqueles que a amam ou, pior!, se envolva sistematicamente com pessoas que apenas lhe ativam mais e mais o arquétipo do Barba Azul - este sim, maligno por si mesmo - até que ela, a mulher, saia finalmente se arrastando pela vida à procura da Velha.

O Barba Azul, por seu turno, é um predador da psique, presente tanto na psique feminina quanto masculina. Seu objetivo é destruir a vida criativa, onde quer que ela aconteça. Sendo endógeno a todos nós, ele pode ser ativado tanto por forças internas quanto externas; ou seja, podemos tanto tê-lo atuando de dentro para fora quanto de fora para dentro, num perfeito movimento de sincronia. E, ainda, podemos acabar servido de 'canais' para ele sem que percebamos, trazendo para aqueles que nos são mais próximos a  força destrutiva que tanto nos apavora.  Em algum outro momento posso até escrever mais sobre estes dois, mas por agora sugiro que quem ainda não se familiarizou com o trabalho de Clarissa Estés e seu brilhante Mulheres que Correm com os Lobos (mas não só este) deveria procurar fazê-lo o mais brevemente possível. Estés foi de uma felicidade ímpar ao conseguir traduzir de forma perfeita o verdadeiro sentido por trás de alguns contos de fada. Seus livros têm todos a propriedade quase mágica de se transformarem completamente a cada releitura que fazemos e ainda não tive uma única paciente que depois de conseguir 'vencer' a primeira leitura (normalmente à base de chicotada - rss), não reportasse um verdadeiro deslumbre nas leituras subsequentes!

Outra digressão importante é um desdobramento do último parágrafo: todos nós estamos todo tempo canalizando a energia de arquétipos e, portanto, é de bom alvitre que observemos muito detalhadamente quais energias estamos deixando fluir através de nós para que possamos fazê-lo exatamente de acordo com nossa vontade, e não de forma inconsciente. E aqui começa a contação dos causos que levaram a 'ligeira' modificação nos rumos do meu ritual...

O primeiro destes casos diz respeito a três homens feridos e que, devido a isto, para usar a linguagem do Robert Bly (João de Ferro), permanecem com a 'chave debaixo do travesseiro da mãe'. Em sua vida adulta, eles simplesmente não têm conseguido seguir adiante e se permitir realmente adentrar nos relacionamentos afetivos. Não, eles não são meus pacientes - se o fossem, já teriam 'tomado jeito'. Eram, até alguns dias atrás, os companheiros de três de minhas pacientes. Mesmo amando profundamente, o que ficou muito claro para mim, para eles próprios e mesmo para as pacientes, eles acabaram por perder as relações e deixaram escorrer pelos dedos essas mulheres decididamente maravilhosas que preferiram caminhar sozinhas a viver com migalhas de amor. Para mim foi de cortar o coração ver as relações se esvaírem, pois conheço perfeitamente bem a psique masculina para saber que eles simplesmente não conseguiram - ainda que desejassem. Sei bem a diferença entre um homem 'sonso', um homem 'mau' e um 'homem temporária ou permanentemente incapacitado' - e consigo mostrar isto para as pacientes. Também sou absolutamente a favor de tentarmos tudo até que de fato não haja mesmo mais o que fazer, pois como fica bem claro no conto Mulher Esqueleto, nossa cultura tem a tendência de sair correndo rápido demais e fugir descaradamente até do menor desafio que uma relação nos proponha. Mas quando atingimos realmente o fim, se permanecemos na relação, ela acaba nos fazendo mal, acaba degenerando para uma negatividade que nos contamina e contamina o(a) companheiro(a) e passamos a fazer involuntariamente o papel de Barba Azul para quem amamos, acusando e ferindo o outro de forma surda ou aberta com cobranças e censuras de toda sorte que apenas minam a auto-estima, a auto-confiança e a capacidade do outro de se refazer depois de uma queda.

O outro caso, contudo, tem um tom bem mais sombrio e muito mais pernicioso que os anteriores: uma paciente que, sob a tirania de seu Barba Azul intrapsíquico, se envolveu com um homem que não teve, tem ou teria qualquer problema em 'materializar' o Barba Azul fisicamente para ela. Durante a relação ele, que é casado, lhe disse coisas como 'eu jamais me casaria com você', 'você é burra', ' você não serve nem para ser minha amiga'... mas lhe era útil para sexo, para servir de acompanhante e outras coisas que ele achasse interessante na hora. E por mais que ela tentasse romper com ele, sob a fascinação desta poderosa força auto-detrutiva do Predador, conjurada e conjugada à força destrutiva da própria relação, acabava se submetendo a todas as vontades do amante, quaisquer que fossem. MAS, ao contrário do que muitos poderiam pensar, de burra ou ignorante esta mulher não tem nada. Jovem, bonita, conquistou por mérito intelectual e profissional um cobiçado cargo na empresa para a qual trabalha. E esta paciente tem um outro atributo que deixaria qualquer um que a conhecesse completamente sem entender como não saiu ainda desta relação: ela é uma bruxa nata, uma dessas mulheres que num passado qualquer mergulhou fundo na magia e voltou a esta encarnação com um sólido conhecimento que agora lhe chega sob a via intuitiva. Muitas vezes quando olho para ela, me vejo há décadas atrás dizendo e fazendo coisas sem ter a menor idéia de como 'sabia' daquilo... e, para ser bem honesta, às vezes a sinto mais Bruxa do que eu mesma fui, sou ou serei um dia. Ela é de arrepiar!!!

... Continuando o causo da Lua Nova, na terça estava eu apanhando do inglês e tentando entender o livro Sacred House, da Carolyn Hillyer, quando esbarrei no seguinte feitiço:

"One who is without courage
will be granted a refuge
where all is absolved
by the writer of vows
and compelled to journey
until the carved scavenger
shall be torn apart
shall be torn in two."

Entendo 'carved scavenger' como o próprio Barba Azul e na mesma hora me lembrei tanto de uma amiga-bruxa que tomou contato há algumas semanas com o fato de ter estado sob domínio destas forças e, portanto, estava precisando de coragem para se perdoar e combater o negativo da forma adequada; quanto da paciente bruxa - e acabei mandando a transcrição do feitiço para ambas. No decorrer da semana, acabamos 'evoluindo' para sincronizarmos nossos rituais. Funciona assim: estaríamos as três invocando a Yaga para nos ajudar a recuperar a força da Mulher Selvagem e, a partir dela, criar um círculo de proteção forte o suficiente para manter o Predador longe. As músicas escolhidas foram da Carolyn, claro, com ênfase em 'Dança da Garra da Ursa' (post 'Não Resisti') e 'Give Me Wild', uma música que, vamos combinar?!, é a cara da Baba Yaga e perfeita para invocar a Mulher Selvagem. Mesmo meu inglês macarrônico é capaz de ler isto... rss.:


Storm beast rides in the belly of the night
Give me wild give me wild
Give me wild give me wild

Storm  beast curled on the wing of the wind
Give me wild give me wild
Give me wild give me wild

Waters amber waters crashing waters stinging rains
Wash me through wash me through
Give me wild give me wild

Mist yawning mist spinning mist trailing spirits
Wrap me round wrap me round
Give me wild give me wild

Clouds rolling clouds darkness clouds heavy thunder
Press me close press me close
Give me wild give me wild

Earth twisting earth heaving earth swaying belly
Rock me hard rock me hard
Give me wild give me wild

Light flashing light piercing light bolting horses
Fire my soul fire my soul
Give me wild give me wild

Trees beating trees madness trees leaping shadows
Free my dance free my dance
Give me wild give me wild

Ontem, portanto, fizemos o ritual MAS, no meio do caminho, ao invés de trabalhar meu próprio mapa natal, como havia planejado, me vi invocando a força da Yaga e da Mulher Selvagem para TODAS as minhas pacientes! Já tinha deixado o altar montado antes de ir para o consultório - o que é o mesmo que dizer que já tinha passado o dia mais pra lá do que pra cá - e, portanto, foi bastante fácil entrar em transe, chegar à casa da Yaga, perfilar as pacientes diante dela e fazer uma invocação de força que me arrepiava da cabeça aos pés. Pedi a Ela que acordasse a intuição dentro daquelas mulheres, que as chamasse à consciência de forma positiva, que as fizesse despertar para a necessidade de apurar olhos e ver com a alma; de aguçar os ouvidos e ouvir com o coração; que lhes ensinasse a separar o milho bom do milho mofado e a tirar o melhor do negativo (sementes de papoula do estrume). Que elas aprendessem a sentir o cheiro do Predador à distância e mantivessem especial cuidado com ele; que jamais se permitissem sentir menores ou inferiores a ninguém; que pudessem, daquele dia em diante, olhar com dignidade e cabeça erguia nos olhos de suas irmãs, de seus parceiros e, claro, daqueles que lhes quisessem algum mal. Pedi proteção e coragem e, mais do que pedir, eu exigi que Ela assim procedesse, baseada na autoridade de saber que dedico meus dias e minha vida para recolocar outras mulheres no Caminho e, portanto, sinto com direito de fazer exigências de colaboração por parte da Yaga e de quem quer que seja. 

... Terminado o ritual, fui dormir... com certa dificuldade, óbvio, devido à quantidade de energia que mexi. Mas dormi bem, ainda que tivesse que madrugar por causa do jardineiro...

... Pouco depois das nove uma outra amiga, que é minha vizinha, me ligou para contar que sonhou que via minha casa sendo invadida com três ou quatro homens e que me ouvia gritar por socorro; mas se sentia impotente para me ajudar e acordou em pânico... "hummm, pensei com meus botões, andei 'cutucando' alguns 'vespeiros'... sem problemas, pois como tudo que faço por minhas pacientes: para cada um que queira me derrubar, tenho dois que estão para me ajudar! Que assim seja; assim é!"


terça-feira, 15 de novembro de 2011

'Isso' é um Problema! E Falar 'Daquilo' é Outro Problema!

Ontem minha comadre comentou que ao ler os posts deste blog fica impressionada com o quanto eu me observo e me analiso. Minha primeira reação foi começar a rir, pois para mim a capacidade de se auto-observar é algo inerente ao ser humano e quando ela - ou qualquer um - me diz isto, vem na minha mente um desenho animado de um peixinho dizendo para o outro: "Nossa, como você consegue ficar tanto tempo debaixo d'água?!" Brincadeiras à parte, sei que é um hábito que a cultura não alimenta e, por isto, parece algo tão misterioso. E sei também que qualquer coisa que nunca se tenha feito ou que não se faça freqüentemente ganha ares de 'mistério' facilmente. Além disto, nem posso rir muito dos outros, pois, desde domingo, estou eu lidando justamente com algo que é fácil para a maior parte das pessoas mas que para mim é um grande 'problema'. Como costumo brincar no consultório, não dá para o macaco sentar em cima do rabo para falar do dos outros... Se não, vejamos:

No post "Lua Cheia de Novembro" comento no final que a Mãe Divina, através do Oráculo, me incitava a trabalhar a Casa VII procurando me permitir receber ajuda e 'delegar' algumas coisas aos outros. Se Ela tivesse me pedido para atravessar o oceano caminhando talvez fosse mais fácil para mim!!! Eu tenho uma dificuldade fora do normal de ser apenas receptora, em qualquer circunstância. Mas consigo, sob controle, manter a pose e não me meter facilmente aonde não sou chamada. Do ponto de vista exterior, isto costuma bastar; mas do ponto de vista interno é sempre uma queda-de-braço com meu impulso de ajudar, contribuir, colaborar. Como analista sei que se por um lado são estes impulsos que tornam os grupos solidários e sólidos, também sei que individualmente é uma porta aberta para a sombra do 'faz-tudo, sabe-tudo, pode-tudo'. E, também como analista, sei que essa mal-disfarçada Superwoman é um convite para o Self me tacar uma lasca de kriptonita bem no meio da testa!

Curiosamente é mais fácil quando vejo que a questão não tem a ver com as 'dinâmicas de grupo', mas com os processos individuais. Sei perfeitamente bem que quando alguém está sofrendo, aquele sofrimento está servindo a algum propósito que me foge à compreensão e, por isto mesmo, deve ficar fora da minha alçada até que a pessoa me peça ajuda. Mas quando se trata de sentar o traseiro numa almofada, relaxar e apenas receber alguma coisa... ai, ai. Aí lascou-se. Some-se a isto a minha visceral dificuldade de ser 'mulherzinha' e tiro zero de vez! Antes que eu mesma pisque o olho, já estou pedindo licença para acrescentar alguma coisa, metendo a mão num processo que não fui chamada ou carregando tantas sacolas de supermercado quanto os homens presentes...

... sei lá, estou há tantos anos fazendo tudo por mim mesma que acho que sou capaz de ficar vermelha de vergonha - tipo assim: como um pimentão! - se alguém resolver carregar alguma coisa para mim. Me sinto como se estivesse fazendo 'corpo mole'. Note que o problema não seria problema se eu me comportasse de forma 'igualitária'. Contudo, o que o Oráculo quis dizer foi a mesma coisa que ouvi de todos os meus amigos, todos os meus familiares e também todos os homens que passaram pela minha vida: eu não deixo 'espaço' para o outro se sentir necessário na minha vida. Eu consigo entender o que eles me dizem. Mas não consigo explicar que, principalmente quando se trata de minha própria vida, 'não consigo não agir primeiro e perguntar depois'. Ainda há muito trabalho a fazer... e talvez eu devesse pedir ajuda (?! - rss).

... Mas nem tudo foi puxão de orelha neste fim de semana. Para equilibrar este fiasco, aconteceu tanto na meditação do plenilúnio, quanto no final do workshop do tambor, um fenômeno que tem se tornado cada vez mais freqüente desde o ritual citado no post Terra e Espiritualidade: ser invadida por uma onda de prazer que inunda todas as células do meu corpo. Se dosassem minha serotonina, apontaria uma 'overdose'! Eu ainda não descobri exatamente como faço isto, por isto fica muito difícil explicar. Só posso dizer que... que... nem sei o quê! Deixa eu tentar de novo: sabe quando se está próximo de atingir um orgasmo? Mas no orgasmo o prazer é genital, certo? Neste caso o prazer é no corpo inteiro: da pontinha do pé até o último fio de cabelo. Literalmente minhas células pulsam... Não é um 'gozo' - é melhor que isto, exatamente por ser energizante! Consegui me explicar? Espero que sim: por enquanto é o máximo que consigo.

domingo, 13 de novembro de 2011

Não resisti!

Esta música da Carolyn Hillyer não sai da minha cabeça desde que este CD chegou (Ice). Quando vocês lerem vão entender a metade do porquê... a outra metade fica por conta do poder sonoro da música mesmo - dá vontade de sair pulando, cantando e batendo o tambor!!!



DANÇA DA GARRA DA URSA

Mulheres estão invocando na direção da floresta da Ursa,
pedindo que as proteja.
Elas sussurram para seus trambores
E cantam as palavras frias
dadas pelas mães de suas mães
E recriam o mundo com sua música.
Todos os dias elas invocam a Ursa,
Todas as noites elas invocam a Ursa,
Ela vira? Ela virá? Ela virá?

Elas torcem seus cabelos úmidos
Em uma trança apertada, na qual usam
Empedrados ossos brancos de prender o cabelo,
Empedrados ossos azuis de prender o cabelo
Dados por irmãs de suas irmãs
E elas criam uma dança
De equilíbrio perfeito
Todos os dias elas invocam a Ursa,
Todas as noites elas invocam a Ursa,
Ela virá? Ela virá? Ela virá?

Elas cruzam os campos nevados
Por onde o gelo azul se derrama
E aonde encontram a liberdade de espírito
Que irão trazer de volta
Para dar as filhas de suas filhas.
E elas soltam as asas que
Existem dentro do coração da mulher.
Todos os dias elas invocam a Ursa,
Todas as noites elas invocam a Ursa,
Ela virá? Ela virá? Ela virá?

Ao amanhecer o som de um rugido escuro ecoa
Vindo dos penhascos de gelo.
Elas ouvem como o som se aproxima.
Existe um espírito feroz próximo ao acampamento,
Mas não é um urso da floresta.
Tão forte foi a magia que as mulheres fizeram que chamaram uma 
Ursa do gelo
Poderosa e bruta
É seu poder terrível que responde à canção
E as envolve com sua garra
Todos os dias elas invocam a Ursa,
Todas as noites elas invocam a Ursa,
Ela virá? Ela virá? Ela virá?

A Ursa do Gelo fará a jornada pela planície alta
Quando as mulheres cantarem a Canção da Garra da Ursa.
É ela quem as protege, agora e sempre:
Lembre-se disto caso pense em fazer algum mal a uma mulher.


sábado, 12 de novembro de 2011

Pois é...

Às vezes sinto como se estivesse caminhando pela trama de um tecido, pelos fios de uma malha. Uma coisa puxando a outra, um elemento intrinsecamente conectado a outro. Conscientemente sei que é assim: mas note que eu disse que 'às vezes eu sinto' - e isto é diferente de saber. Quando se 'sabe' algo, têm-se uma informação que, apenas depois de bastante digerida e assimilada pela alma, poderá vir a se transformar em conhecimento. Este, por seu turno, engloba pensamento e sentimento numa única esfera: e quando algo chega neste nível, podemos realmente dizer que compreendemos este algo.

Pois bem, refazendo a mesma frase do início: às vezes me aproximo da verdadeira compreensão de que minha vida não é feita de uma sucessão de atos isolados por uma linha espaço-temporal, mas de um conjunto holográfico de atos que compõem um existir. E, nestes últimos meses, tenho percebido este holograma de uma forma bem mais concreta que em qualquer outro período de minha vida.

Olhando em retrospecto, na última semana de outubro completou-se um ano da entrada do Cristal da Anja (post 'São Camilo...") na minha vida; e vejo claramente o quanto mudei neste último ano. De forma às vezes sutil, às vezes ostensiva, a influência deste Templo Dévico sobre mim é evidente de várias maneiras e em várias áreas; mas indubitavelmente foi na Magia o seu maior impacto. Sem muito planejamento consciente, muitas vezes apenas seguindo um impulso, fui agregando ao longo deste ano outras abordagens energéticas que se somaram a tudo que eu já utilizava - e que convergiram de formas inesperadas e, muitas vezes, curiosas.

Hoje, por exemplo, eu estava em uma sala com outras sete pessoas, participando de um workshop sobre tambor e, no fundo da sala, o livro 'Deusas da Galeria Celestial', de Romio Shrestha, estava em um cavalete, aberto na página da Tara Verde! (Post anterior - aliás achei a idéia tão interessante que já copiei, pois o meu ficava em cima de um móvel.) Quem leu o post 'O Tambor' viu ali que minha conexão mais forte com este instrumento de poder começou com as músicas da Carolyn Hillyerr. Eu obviamente já tinha um tambor que veio de uma xamã peruana e foi feito na cabaça; mas só o tocava em ocasiões muito especiais. Contudo, a Carolyn reverberou tão fundo na minha alma que mandei vir do outro lado do Atlântico um instrumento que tenho tocado com freqüência, ora acompanhando as músicas dela, ora de forma totalmente intuitiva. E isto é, honestamente, a coisa mais forte para mim. Contudo, ainda assim resolvi participar deste workshop, pois como as 13 Xamãs estão do lado de cá do oceano, quis aprender os chamados toques tradicionais do xamanismo norte-americano e ver quais são as semelhanças e diferenças em relação ao que já tenho feito (sempre lembrando que a força maior de uma magia, qualquer que seja, é aquela que vem pura do coração - e isto pode ou não estar de acordo com a tradição).  Portanto, sob certos aspectos, minha presença ali não passava de curiosidade científica... pelo menos era o que minha consciência imaginava. Mas, como tem acontecido nos últimos meses, o Inesperado sempre põe uma vírgula aonde eu achava que viria um ponto.

Antes de qualquer coisa, iríamos ser conduzidos em uma visualização cujo propósito era nos colocar em contato com o chamado animal de poder (algo que desde o primeiro post deste blog me intriga profundamente e até me traz um certo receio pelo grau de responsabilidade que gera). Ô ow!, eu tinha posto este 'assunto' de lado, loiramente acreditando que a ignorância seria a melhor alternativa... e tinha conscientemente passado por cima da informação de que esta 'busca' também fazia parte da proposta do workshop... mas, como já estava lá (e não dava para sair correndo!), entrei de coração na visualização, procurando me manter isenta de expectativas, intenções e, claro!, receios.

Depois do relaxamento inicial, que conseguiu me desconectar do barulho urbano, o comando nos mandava para o que se chama 'lugar de poder', e aqui a coisa já ficou interessante, pois fui parar exatamente no mesmo lugar que começou a 'viagem' do post 'De Volta para Casa'. Assim que 'pus os pés' lá, antes de qualquer comando ou chamado, praticamente antes mesmo de eu acabar de chegar e contemplar a paisagem, ouvi o pio de uma Águia ecoando pelo vale. Arrepiante! Na condução da visualização deveríamos entrar numa caverna e encontrar ali o guardião de todos os animais de poder, que iria nos dar permissão para encontrar o nosso na saída da caverna... eu entrei, o pio da Águia me acompanhou e, quando saí, lá estava ela, majestosa em sua força... quando tudo terminou, o som continuou reverberando dentro de mim e, ao chegar em casa, comecei uma pesquisa na internet justamente para confirmar se aquele pio era mesmo de uma Águia. Não demorou para achar um vídeo que começa exatamente com o mesmo pio - e meu coração pulou no peito, como se tomado de uma emoção totalmente desconhecida para mim, algo que vou levar dias para entender...

... Eu estaria faltando com a verdade se não contasse que quando voltei à consciência duvidei de mim mesma. Já disse inúmeras vezes que minha atitude inicial é sempre submeter qualquer coisa que acontece ao escrutínio da consciência e apenas quando suportados todos os testes lógicos e racionais é que afirmo que algo é como parece ser. E eu duvidei simplesmente porque a primeira coisa que me veio à mente quando 'voltei' foi o encontro com o Xamã do Supermercado. Certo que a meu 'favor' existia o fato de que nestes dias eu estava trabalhando uma música de proteção da Carolyn que invoca uma Ursa Branca e seria mais fácil minha consciência 'torcer' a visão para algo no qual eu que estava ligada minutos antes de chegar no workshop - e não para um episódio que relatei em 12 de agosto. Mas, por hábito ou vício,  coloquei a questão em suspenso assim mesmo: nem sim, nem não, aguardemos os fatos...

... nem precisei aguardar tanto assim: na saía, na calçada de uma das avenidas principais da cidade, com árvores no canteiro central, mas cercada de prédios por todos os lados, uma pena! Sim, uma pena, a quinze passos da saída do workshop. Não era de Águia, obviamente!, mas isto não me impediu de abaixar humildemente, recolhê-la e trazê-la para casa. Está ali no altar... agora me cabe estudar sobre a Águia.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Lua Cheia de Novembro

Mulher que Caminha com Altivez

Você caminha na Beleza, Mãe
Permitindo que todos vejam
A glória do Grande Mistério
Que Mantém Seu espírito Livre.

Guiada por seu êxtase,
Caminhando por sua obra,
Nunca precisando da aprovação dos outros,
A verdade do Seu Coração assume a liderança.

Com foco e direcionamento,
Você me ensina como caminhar,
Equilibrando pensamento e ação
Ao invés de fazer mal uso da palavra.

Me ponho diante de sua presença,
Mantenho minha cabeça erguida,
Com meus pés enraizados na Mãe Terra,
E meus braços envolvendo o Pai Céu.
(In Jamie Sams - tradução conjunta entre eu e a Comadre)

O texto fala por si. Nada há o que acrescentar. Exceto que esta lua cai na minha casa VII e até ontem à noite estava sem saber como juntar estas duas energias (Walks Tall Woman e Casa VII - dos relacionamentos estáveis e associações - falando resumidamente). Então perguntei à Mãe Divina, através do Goddess Guidance Orancle Cards, qual face Sua poderia utilizar para trabalhar este trânsito lunar. A resposta foi... bom, analisem por si mesmos:

Green Tara 
(Start Delegating)
"Ask others (including me) to help you, instead of trying to do everything by yourself."

... sem comentários! (rss) Depois conto sobre o ritual.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Gratidão

Gratidão... uma palavra simples de escrever. Um sentimento difícil de se fazer explicar. Mas hoje foi ele quem me motivou a ligar o computador e vir escrever, mesmo depois de um dia exaustivo. Isto porque tomei conhecimento de que uma das fundadoras do Centro no qual trabalhei e ao qual ainda sou espiritualmente vinculada veio a falecer na terça passada, vítima de um câncer de fígado diagnosticado apenas há dez dias atrás. Morte súbita se pensarmos que nem ela nem a família estavam preparadas para tal. Mas, como costumo dizer, a causa da morte é só o nome que damos ao irrevogável passaporte que nos leva de volta à Pátria; chega do jeito que for, na hora que tiver que ser, e não há nada que a impeça. E foi assim com essa Dona.

Não, não éramos íntimas, mesmo eu tenho sido terapeuta da filha dela, quando ainda nem tinha consultório e atendia delivery, cumprindo o irrevogável chamado dos meus guias, e vencendo todas as dificuldades, a ferro e fogo! Mas isto não foi problema para ela: ela acreditou em mim quando muitos ainda achavam estranho uma terapeuta que ia em casa, por estar evidentemente começando na jornada. Sou-lhe grata por isto! Mas não só por isto: é mais sério ainda. Esta senhora, junto com seu esposo e um casal de amigos, na casa de um deles, começou o trabalho que daria, anos depois, origem à Casa de Umbanda que em mais de 40 anos ajudou incontáveis consulentes, deu guarita a médiuns de todos os graus de conhecimento e evolução espiritual, possibilitou a manifestação de guias espirituais de todas as falanges de luz. À pessoa que me deu a notícia, e que também é do Centro, foi o que eu disse: "Temos todos uma dívida de gratidão com ela e com os fundadores. Se eles tivessem fraquejado, se tivessem desistido, não teríamos aquela Casa."

Poucos pensam nisto, mas é só nisto que eu penso: o quanto cada um de nós deve a todos aqueles que vieram antes e preparam o terreno para que nós vicejássemos. Aqueles que no passado se debruçaram para fundar um grupo, um centro ou algo que depois caminhou sozinho e serviu de porto para as gerações futuras são todos merecedores de nossa gratidão. Merecem nossa gratidão mesmo que não tenham tido personalidades fáceis, como no caso desta Dona. Comigo ela sempre foi cordata, atenciosa e mesmo carinhosa. Em um dia qualquer, chegou a me fazer confidente, a desabafar sobre o quanto lhe doía o que diziam dela (sim, toda Casa tem seus conflitos e disse-me-disse). Mas ainda que não fosse assim, ainda que tivesse me tratado do mesmo jeito espalhafatoso com que a vi tratar tantas outras pessoas, eu ainda lhe teria a mesma gratidão. Devo muito a meus guias, meus amigos espirituais. E teria sido mais difícil se aquela Casa que essa Dona ajudou a fundar não existisse, pois ali reconheci muitos deles, afinei minha mediunidade e recebi a força e o incentivo necessários para continuar na matéria e realizar meu trabalho. Essa Dona, portanto, foi um elo, apenas um elo, mas como todo elo, importante numa corrente que me fez chegar até aqui, no dia de hoje.

Ao chegar em casa, liguei para o meu amigo que é médium na mesma Casa e combinamos uma 'reza' conjunta: ele de lá, eu de cá. Dois filhos de Iansã, trabalhando para outra filha de Iansã. Peguei o tambor. Acendi uma velha. Invoquei nossa Mãe. Fiz uma primeira batida forte, de proteção, para a isolar do sentimento de choque e dor daqueles que aqui ficaram. Depois fui suavizando o toque, entoando mentalmente Amor e Paz, mandando calma, pedindo serenidade nesta readaptação no mundo espiritual. Terminei sentindo-a descansar (algo que ela só vai fazer enquanto durar o transe magnético, pois era extremamente ativa! Segue a minha linha: não vai 'descansar' nem depois de 'morta'!).

Terminamos a 'reza'. Foi o mínimo que pudemos fazer diante do tanto que ela nos ajudou a receber. Gratidão. Sentimento bom de sentir. Alegria gostosa de poder dizer: Dona C. Muito Obrigada!!!!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Um Samhain em Dois Tempos

Ancestrais... muito devo a todos eles! Como analista, sei que meu inconsciente recebe de herança as experiências vividas por eles e tem ali um repertório acessível para dar voz às minhas próprias experiências.  Suas vidas são como pratos servidos em um grande banquete, no qual minha alma se alimenta e se desenvolve. Mais do que características físicas, a melhor e mais efetiva herança que nossos antepassados nos dão são aquelas que vêm de suas experiências e aprendizados, sejam estes de conquistas ou derrotas. Eles nos dão o 'vocabulário', o repertório, e mesmo que os textos de nossas vidas sejam escritos exclusivamente por nós, se não tivessem nos dado as palavras, nós nada escreveríamos. E, na maior parte das vezes, este repertório nos chega sem que saibamos, numa espécie de transfusão de alma para alma. Mas quando somos honestos, e nos propomos a investigar, muitas vezes encontramos no passado a semente do que somos hoje.

Para mim, este é o verdadeiro sentido de honrar os ancestrais: voltar conscientemente minha mente para eles e agradecer por tudo que eles me deram. E foi o que eu fiz. Voltei minha mente aos meus avós paternos e agradeci por ter recebido deles, via inconsciente, a capacidade auto-didata, a coragem de viver de com um olho na matéria e outro no espírito, a gargalhada sonora do meu avô, a tenacidade silente de minha avó, dentre tantas outras coisas... Agradeci também a meus avós maternos, dos quais recebi a generosidade desprendida e honesta de minha avó, a paciência calma e profunda de meu avô, e de ambos a resistência à dor e ao sofrimento, mesmo os mais profundos; também foi no inconsciente deles que meu inconsciente buscou o repertório para amar tanto a Umbanda, pois 'na surdina', sob os sussurros maldosos dos filhos e genros, eles estavam aqui e ali em um terreiro de umbanda... Dos quatro herdo a coragem de trabalhar sem medo do cansaço, e das duas avós o gosto por ter as mãos ocupadas e a coragem de enfia-las na terra, para plantar ou arrancar alguma coisa, até as unhas ficarem tão negras e quebradas como as de uma Yaga! E foi exatamente assim que escolhi fazer minha homenagem a eles este ano: plantando dois canteiros de mudas floridas.

Comecei no sábado indo a um pólo verde, uma região da cidade que concentra um bom número de lojinhas de mudas, pois o custo de um canteiro fica razoavelmente baixo quando se trabalha com mudinhas. Além disto, em termos mágicos, acompanhar o crescimento da planta tem não somente o efeito de acompanhar a quantas anda uma energia, mas também possibilita realimentar o processo de forma contínua. Escolhi plantas que não precisam de sol o dia todo, mas fiz questão de que fossem do tipo 'florescentes'! Beijinhos, dois tipos de onze-horas, impatiens, tagetes (a única 'anual') e mais três outras que DDA tenta por tudo lembrar o nome, mas não consegue... afh! Detalhes à parte, cheguei em casa e enquanto preparava a 'plantação' fui declarando minha intenção, mentalizando meus avôs e avós e estendendo minhas reflexões a outros antepassados, procurando me lembrar dos fragmentos de histórias que conheço e o que daquelas pessoas ainda vive através de mim.

Assim, cavando na lama, me lembrei da avó do meu pai, que depois de viúva não teve 'pudores' de começar um caso com um trabalhador de suas terras e peitou filhos, genros, noras e mesmo a pequena sociedade da cidadezinha aonde viviam. Essa mulher de personalidade forte foi a única bisavó que conheci, mas quando a vi na cama ela já era cega e somente muitos anos mais tarde compreendi que aquela imagem frágil era apenas o esconderijo de um espírito independente que, na surdina, devia estar apenas esperando o desligamento do corpo para sair voando livremente pela janela. E dei minha risadinha de bruxa contemplando esta imagem... tenho a quem puxar!

Depois minha mente foi caminhando mais longe ainda enquanto meu corpo lidava com formigas enfurecidas por minha invasão de seu espaço e mutucas que insistiam em suas picadas atrevidas em meu corpo de biquini. SIM!, filtro solar 30 pode não ser uma coisa ancestral, mas estar quase nua mexendo com terra é!, pelo menos para mim, pois ali,  sentada no chão, estava também honrando a avó de minha avó materna, 'índia pega no laço', como ela contava quando eu era criança... mas, novamente, apenas na idade adulta consegui entender que isto significava uma mulher arrancada das raízes e aparada e podada até ficar como uma planta murcha e sem graça. Mas algo desta mulher certamente vazou por debaixo das saias compridas e golas altas... escorreu pelos dedos e bicos dos seios e passou adiante: seu filho já era homeopata do início do século passado, e deve ter sido um dos primeiros. Numa sociedade em pedaços, ele fez parte daqueles que ousaram falar de seres inteiros: herança materna, certamente!, de onde também tirei este gosto por morar no mato, sem os medos histéricos que as pessoas 'urbanas' têm de aranhas, besouros e outras coisas inofensivas. E terminei esta parte do Samhaim exatamente nesta linha: levando no bom-humor o fato de ter pisado na tonta de uma abelha que estava fazendo sabem os deuses o quê (?!) no chão, mas que nem por isto deixou passar a oportunidade de me ferroar na sola do pé - como se eu estivesse no lugar errado!!!

... Na segunda, no dia historicamente consagrado para homenagear os antepassados, montei um altar tendo ao centro um quadro que foi resultado de outra homenagem aos meus ancestrais: uma montagem com as fotos dos meus avôs e avós, meus pais e uma foto de 'carinhas' de quando eu tinha um ano. Esta montagem, tipo scrapbook, tem por título "Raízes me deram Asas". Ao redor do altar coloquei vasos com gérberas e hortências (que já foram devidamente plantados ontem). Também trabalhei com velas para os sete raios e uma branca, que é a síntese, representando as sete potencialidades de todo ser. Como músicas escolhi Angels of the Risin Dawn, da Carolyn, como uma espécie de oração de bênçãos para eles; e também Egypt Dust que começa com ela pedindo asas para voar às suas irmãs e compartilhar 'gifts'... sem comentários!

... Deixei para fazer este ritual no fim do dia, depois de voltar do consultório e agradeci muito a mim mesma por isto: é sempre tão emocionante me conectar completamente com meus avôs e avós que terminei lavada em lágrimas!