quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Cuidado com a Magia Inconsciente!

No post anterior comento que fiz uma magia para 'chamar' o tambor e acabei provocando na própria Carolyn algum desconforto que levou-a a ter o desejo de descobrir se ele havia chegado. Ou seja, mexi com a energia dela através do tambor, ainda que nem de longe esta fosse minha intenção, pois tinha certeza de que a parte que lhe cabia no processo já havia sido concluída. Felizmente este foi o diferencial para a descoberta do 'mistério', pois então ela pode me passar os dados da transportadora (algo que eu não havia pedido) e o processo se concluiu. Mas há sérias reflexões a serem feitas sobre este episódio nada banal.

A primeira reflexão é sobre a conexão energética que criamos com tudo aquilo que passa por nossas mãos. Tudo que manipulamos e, principalmente, tudo aquilo que confeccionamos, ganha uma característica energética que a física quântica chama de entrelaçamento. E, termos práticos, tudo aquilo que vier a acontecer à 'coisa', se ainda permanecemos conectados a ela, irá nos atingir de um jeito ou de outro. Portanto, quando damos algo a alguém, precisamos, antes de qualquer coisa, fazer um exercício consciente de 'liberar' energeticamente aquilo, entregando de coração e soltando todo e qualquer vínculo que possamos ter com o objeto. Isto irá dar ao novo possuidor da coisa a liberdade de fazer com ela o que quiser; e também irá nos dar a segurança de que se algum dia aquilo for usado de forma negativa, não irá nos fazer mal por correspondência energética.

O ato de doação ou de presentear alguém precisa ser, pelo exposto, absolutamente generoso e desprovido de qualquer expectativa caso queiramos que nossa energia permaneça intacta nos tempos futuros e não seja afetada por, por exemplo, um roubo da coisa - que gera uma carga negativa ruim sobre o objeto roubado. Com relação ao tambor, certamente o gesto da Carolyn foi generoso, mas como artista é natural que ela quisesse um feedback sobre o fato de minhas expectativas terem ou não sido atendidas. Isto a manteve energeticamente vinculada ao mesmo e, portanto, a magia que fiz a atingiu. Por sorte (dela!), minha magia era branca e eu só pedi que ele viesse às minhas mãos, nada mais.

Outra reflexão sobre este fato é ainda mais séria, mesmo que não se aplique em todos os termos: todos temos a capacidade de fazer magia quando nosso emocional está envolvido e, para desespero dos nossos anjos de guarda, às vezes fazemos esta magia de forma inconsciente e totalmente maléfica para pessoas que não tínhamos a intenção de prejudicar. Se, ao invés de estar infantilmente ansiosa e apenas 'chamando' o tambor, eu estivesse emanando raiva, mágoa ou ressentimento pelo atraso, isto teria tido um efeito inconsciente devastador sobre a Carolyn. Eu estaria fazendo magia negra sobre uma pessoa que admiro e respeito e nem teria consciência disto. Graças aos Deuses eu tenho um pouco mais de auto-conhecimento do que tive no passado e não me presto a emanar coisas negativas - e quando a minha frequência baixa eu peço aos meus guias que tomem conta dos processos, pois nestes casos me declaro incapacitada de trabalhar 'por mim mesma'.

Infelizmente posso afirmar, tendo como base dezenas de outros exemplos que já vi no meu consultório, que nem sempre as pessoas têm este nível de controle sobre o emocional e, não raro, fazem mesmo é a magia negra de forma inconsciente. Este é o caso de minha paciente que 'joga' em cima de mim todo negativo que sente e que comentei no post Encruzilhadas da Vida. Até descobrir de onde vinha a energia, eu não tinha como trabalhá-la; e como sabia que vinha de uma paciente, não caberia simplesmente 'devolvê-la'. A magia inconsciente acontece todas as vezes que nos permitimos transformar uma pessoa em alvo para nossos sentimentos ou pensamentos obsessivos. Às vezes é raiva que sentimos de alguém que mobiliza em nós nossa Sombra; e passamos a 'debater ou brigar' com esta pessoa mentalmente, emanando uma carga energética potencialmente nociva que vai e, claro, volta!, sempre de forma inconsciente. Às vezes é mera 'curiosidade passional' que nossa consciência quer satisfazer, mas que se transforma num 'desafio' e, a partir disto, ganha a carga emocional necessária para se transformar em um vínculo energético suficientemente forte para atingir e desequilibrar o outro.

Já vi pessoas adoecerem fortemente simplesmente por estarem sendo alvos da 'paixão' de alguém com quem elas não tinham a menor afinidade. Também já vi pais adoecerem filhos e filhos adoecerem pais por ficarem verdadeiramente zangados com eles e alimentarem, diuturnamente, uma briga mental com poderosa carga emocional. Mas, nem de longe, estas duas coisas são para mim a pior forma de magia: a pior forma de magia é aquela que fazemos sem saber que estamos fazendo. É aquela que se baseia na falta de auto-conhecimento e que ocorre a partir de nosso inconsciente, das Sombras de nosso passado. E o caso a seguir é o exemplo definitivo para esta ilustração.

Uma paciente estava seguindo tranquilamente sua vida, aprendendo a saborear o prazer de uma solteirice recém adquirida, quando um rapaz decidiu que queria namorar com ela. Fez-lhe a corte por algumas semanas e ela, aos poucos, foi se permitindo baixar a guarda. Contudo, dias depois que começaram a namorar oficialmente, ele sentiu-se inseguro, ainda preso ao passado, e 'sumiu'. Assim que ela finalmente o achou, ele declarou que se enganou ao pedi-la em namoro. Ela lhe disse os desaforos cabíveis - já que ela estava quieta e foi ele quem insistiu - e deu o caso por encerrado. Conscientemente, pois para o seu inconsciente a história ganhou outra cor. Naquela noite ela sonhou que um 'outro eu' saia dela, pegava o rapaz como se ele fosse um boneco e realizava sobre ele uma série de procedimentos da mais pura magia negra que fariam qualquer 'manual' de mago negro parecer cartilha de criança! (Por motivos óbvios, não vou relatar os 'procedimentos').

No dia seguinte, na maior inocência do mundo, ela teve o ímpeto de comentar este sonho estranho com uma amiga que, graças à Mãe Divina!, estuda magia e que lhe explicou que aquilo era Magia Negra, e da 'boa'! Ela ficou apavorada, pois nunca, nesta vida, estudou magia, de nenhuma espécie. Não conhecia, portanto, a força e o efeito de todos os inúmeros elementos utilizados no procedimento. E, para piorar, jamais imaginou que tinha dentro de si um 'outro eu' que seria capaz de fazer algo tão poderoso sem que a consciência soubesse o ele que fazia. Saiu do trabalho imediatamente e foi para uma igreja. Acendeu algumas velas e pediu a Deus que não permitisse que aquilo acontecesse - conscientemente reconhecia que tomar um fora não seria motivo para vingança, menos ainda para uma vingança tão cruel. Aquilo ajudou, tenho certeza, mas não seria suficiente.

Quando ela chegou para a consulta e me relatou o fato - além de me presentear com mais algumas rugas e cabelos brancos! - me colocou imediatamente a questão: algo tão poderoso assim não pode ser desmanchado por ninguém além dela mesma e só uma oração não é suficiente. O procedimento tem que ser desfeito no mesmo 'passo a passo' no qual foi feito e, portanto, foi o que conduzi durante a consulta: uma visualização no qual ela invocava um outro Ser de Luz dentro dela mesma que a ajudava a desfazer o 'mal-feito'. Depois disto ficou claro para ela algo que eu já havia lhe dito assim que ela entrou no consultório há mais de um ano: ela havia sido uma bruxa no passado, uma feiticeira de muito conhecimento e poder e que não tinha a menor ética na utilização deste poder. Agora ela deveria separar o milho bom do milho mofado: recuperar o poder e aprender a usá-lo para o bem de forma CONSCIENTE.

... Esta moça é apenas uma dentre tantos outros pacientes que têm passado na Magia, de um jeito ou de outro. Mas desde a primeira consulta eu sabia que estava diante de alguém que tinha ido muito mais fundo que a maioria deles. Durante todo este ano que passou tentei mostrar para ela a necessidade de procurar se auto-conhecer também sob este aspecto, mas ela relutava. Agora esta relutância foi transformada numa certeza de que é sim a reencarnação de uma bruxa poderosa e que se não buscar este auto-conhecimento, acabará aqui e ali fazendo outras atrocidades como a que foi feita, sem a menor consciência do ato, mas com total responsabilidade espiritual sobre o mesmo.

... Espero que estas reflexões sirvam para os leitores pensarem com muito carinho em realmente voltar os olhos para sua própria Sombra e reconhecerem todos os recônditos da mesma, lembrando sempre que nem precisa ter sido tão poderoso no passado: basta apenas ter uma forte motivação emocional porque, no fim das contas, é isto que faz a Magia - de qualquer cor! - funcionar.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Lua Nova (parte 2): O Tambor

No post Tramas do Self comentei que estava às voltas com a localização mágico-mediúnica de uma encomenda que fiz da Inglaterra e que estava atrasadíssima na entrega. Hoje é o dia de contar este causo.

Em inúmeros posts comento a força e a importância que o trabalho da Carolyn Hillyer tem para mim. Suas músicas - que me foram apresentadas por minha amada comadre (gratidão eterna por isto também!!!) - ecoaram em minha alma de um jeito que nada antes havia conseguido. Mesmo tendo reencontrado meu caminho na magia há muitos anos, o que ela coloca em suas letras reverberou dentro do meu Ser de um jeito que, honestamente, apenas aos poucos estou conseguindo entender. Ela é uma maga, uma bruxa, uma sacerdotisa, uma mulher muito especial que se dedica há décadas a divulgar através de seu trabalho o Retorno da Deusa e a retomada do poder feminino. E eu fiquei tão fascinada que decidi que iria não somente ir aos poucos ampliando minha biblioteca de músicas com seu trabalho, mas que também iria ter um tambor feito por ela, custasse o que custasse.

Começamos nossa negociação em junho. E como meu inglês é tão sólido quanto um punhado de macarrão cozido além do ponto, tome Google Translator! Mensagem vai, mensagem vem, acertamos que ela iria confeccioná-lo de couro de Rena Vermelha, mas só no final de julho. As semanas foram se passando e eu, tal qual uma criança que espera o Papai Noel e pergunta - todos os dias! - se o Natal já chegou, olhava minha caixa de e-mails ansiosamente. No início de agosto, veio a mensagem: ele estava pronto e secando na cozinha dela (literalmente!!!). Se quiserem imaginar a minha alegria, é só olhar para o brilho infantil durante a montagem da árvore no início de dezembro. Mais algumas semanas de silêncio e eu, em cólicas, continuava olhando meu e-mail religiosamente, várias vezes ao dia (viva o iPhone!).

Finalmente, em 01 de setembro, ela me informa os valores totais (com frete) e o despacha no dia 02, com a promessa de que ele chegaria aqui em três dias. Bom, como estamos no Brasil, eu dei um desconto e imaginei que ele chegaria ali pelo dia 10. Só que a folhinha foi passando, 10, 11, 12, 13, 14... epa!, tem alguma coisa errada com a entrega, foi o que disse minha intuição. Não me fiz de rogada: programei um cristal de quartzo para 'me trazer' tanto o tambor, quanto dois CD que havia encomendado ainda em agosto e que eu sabia que deveriam estar chegando mais ou menos junto com o tambor (este vinha por entrega, os CD pelos correios); e ainda acendi uma vela - diariamente - reforçando meu 'chamado'. Atirei no que vi e acertei no que não vi: no dia 18 recebo dois e-mails da Carolyn, o primeiro perguntando se eu havia recebido o tambor e o segundo, uma hora depois, dizendo que ela havia descoberto pelo site da transportadora que o tambor havia ficado retido porque eles não entregavam no meu endereço, apenas no centro da cidade! E que, além disto, havia uma taxa de importação astronômica a ser paga. Ela se lamentou por ter declarado um valor tão alto e minha primeira medida foi escrever um e-mail para ela (este eu pedi ajuda à comadre) pedindo que não se martirizasse por isto, pois o valor de seu trabalho para mim não tem preço (se ela fosse brasileira, poderia dizer que o tambor é 'mastercard'!). Depois tirei uma carta do Goddess Guidance de Doreen Virtue (presente de aniversário MARAVILHOSO que minha comadre me deu - essa comadre já está merecendo um post só para ela - rss) e a carta que saiu dizia que eu não me preocupasse, tudo iria ficar bem. E ficou. Depois de mudar o endereço de entrega para o meu consultório, recebi o meu presente na segunda.

... Minha lua negra deste mês, obviamente, foi ao som de tambor. Um ritual de agradecimento à Rena que deu sua pele, à árvore que deu seu tronco para o aro e para a baqueta, às pessoas envolvidas no processo de coletar essas coisas, aos artesãos envolvidos e, claro!, à própria Carolyn, por tudo! E posso dizer que minha fixação por ter este tambor especificamente se provou plenamente justificada: ele é lindo, talvez um dos tambores mais lindos que já vi na vida. E seu som reverbera nos átomos de meu corpo de um jeito tão mágico que fiquei tocando-o por uma hora e meia e nem percebi. O som é afinadíssimo, nem muito alto, nem muito baixo, e me leva para uma dimensão inexprimível. Ganhei um maravilhoso companheiro de viagens. E estou muito feliz.

... Os CD ainda não chegaram; e a magia continua. Consigo visualizá-los ainda dentro da embalagem, o que me diz que eles não se extraviaram. Mas enquanto a greve dos Correios não terminar e as correspondências forem postas 'em dia', não há como comprovar se o que eu vejo é meu desejo ou é fato. Tirei duas cartas do Goddess Guidance: a primeira me pedia compaixão, e só posso entender que seja com os carteiros! A segunda era a mesma deusa que já tinha dito que o tambor estava bem e que tudo acabaria bem. Portanto, aguardemos.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Lua Nova (parte 1): Encontro de Ciganos

Hoje é Lua Nova e, claro!, comecei no início da semana passada minhas pesquisas de como iria ritualizá-la este mês. Estava eu no meio dessas reflexões quando fui convidada por um amigo a irmos, sábado, na Casa de uma Mãe de Santo do Candomblé, que também é amiga nossa: ela iria fazer um 'toque' e o cigano dele já havia avisado que iria descer. Opa!, estou dentro!!!, falei sem nem pestanejar. O cigano em pauta é um grande amigo espiritual de eras priscas com o qual interajo mediunicamente com muita facilidade, mas que, por motivos alheios à nossa vontade, há anos não encontro 'ao vivo' - ou seja, incorporado em seu médium.

Então no sábado lá fui eu, linda e loura, animadíssima por estar fazendo uma lua nova bem diferente: uma bruxa, num terreiro de Candomblé, interagindo com entidades de Umbanda. Cheguei quando a gira já havia começado e entrei na Casa no momento exato em que se cantava para Iansã... pensei comigo "isso promete". Depois que cantaram para todos os Orixás, a Babalorixá da casa incorporou sua pomba-gira e, minutos depois, começo eu a me 'tremer'... a minha cigana 'encostou' e disse: 'também vou descer'. E a Mula que vos escreve respondeu: 'não Senhora; a Senhora não tem permissão da Casa". Pensam vocês que ela foi embora? Ledo engano. A 'coisa' foi apertando... apertando... e eu dava umas desequibradas... e ela ia dizendo que ia descer... e eu ia respondendo que não podia... e ficamos nesta função até a Mãe Pequena da casa começar a rir do outro lado do terreiro, atravessar na minha direção e dizer, "deixa a Mulher descer'. Nem terminou a frase: sobe a Bruxa, desce a Cigana!

... Esta Cigana é uma outra grande amiga espiritual com a qual tenho uma ligação tão profunda que não consigo descrever. Ela é, ao mesmo tempo, suave e forte; uma entidade de alto grau espiritual, que tem pleno domínio sobre si mesma. Uma sacerdotisa de tempos imemoriais, lavada e curtida em encarnações incontáveis. Sua magia é sutil, mas poderosa. Sua sabedoria está acima de nossa compreensão. E é do tipo que trabalha em silêncio: fala pouco, mas quando fala em seu espanhol rápido, coloca minha voz num timbre forte, e diz apenas o necessário (pensando bem agora, ela deve mesmo é falar um bom 'portunhol', pois fala tão rápido que falasse em espanhol mesmo, ninguém devia entender - só agora isto me ocorreu!). As pessoas que tiveram a oportunidade de estar com ela no Centro no qual trabalhei, dizem que ela é pontual e precisa em suas colocações. E eu, que a conheço 'por dentro', posso completar que por trás daquele sorriso existe uma entidade muito, muito firme: ela faz a minha 'brabeza' parecer brincadeira de criança...

... Não sei quanto tempo ela ficou em terra, lembro apenas do que ela disse ao subir: 'estou levando comigo um monte de coisas negativas.' Mesmo sendo médium consciente, preciso explicar que quando uma entidade minha desce, me entrego completamente e ela tem plena liberdade para trabalhar - e quando ela sobe, leva consigo a memória da totalidade do que aconteceu. É um fenômeno curioso para mim e mais de uma vez passei pela situação de encontrar alguém que era consulente de uma entidade minha na rua, ver a pessoa vir conversar comigo na maior 'intimidade' e me deixar com aquela cara de 'eu te conheço???!' até me dizer que era frequentadora do Centro.

... Apenas quem já teve o privilégio de receber mediunicamente grandes amigos espirituais  pode compreender o quanto é gostoso este contato entre eles e nossos perispíritos. E, usualmente, somos contaminados por uma força e um amor muito grande quando isto acontece - e se nos permitimos a tal, claro! No dia seguinte, precisei ir ao Shopping comprar um presente. Na sapataria vi uma sandália maravilhosa, mas com um salto digno de um Everest. A vontade de comprar a distinta foi tão grande que fiquei sem me entender: ora, estou há anos na fase dos calçados rasteiros, por que esta vontade agora??? Saí da sapataria sem a sandália e passei por um quiosque com muitas bijuterias. Subitamente fui invadida pelo 'desejo' de comprar um monte de coisas. Então me questionei de novo: 'caramba, tenho um  monte de coisas em casa, por que comprar mais?' Então a imagem da Cigana me veio à mente e, no meio do Shopping, dei uma gargalhada digna de uma pomba-gira! Ela tem seu próprio estilo: e me impregnou com um sentido de cultivo à feminilidade bem mais profundo do que o que eu já tenho! Hoje volto na sapataria...

... Só para terminar: depois que a Cigana subiu, fui finalmente conversar com meu amigo Cigano. Pedi-lhe ajuda para uma paciente que está doente em outro estado. Falamos também sobre o problema de meu amigo e ele repetiu o que eu já sabia: tudo vai acabar bem para meu amigo, mas mal para o denunciante (posts 'Da Sombra à Luz' e 'Tabula Smaragdina'). Para mim mesma eu não tinha coisas importantes a pedir, mas muito a agradecer: devo muito a todos meus amigos espirituais. Eles são meu porto, meu esteio, meus freios, minhas bússolas, os ombros sobre os quais choro, os rostos aonde encontro os melhores sorrisos. São os 'chicotes' que me desempacam, as luzes que iluminam minha estrada. Minha proteção, meu sentido de segurança.  Meus mestres, os modelos nos quais me inspiro. A fonte e alvo de minha fé. A manifestação 'física' do Amor da Mãe Divina por mim! E todos os dias, quando acordo, me pergunto: "o que posso fazer hoje para ser um pouco mais digna de tanta dedicação espiritual? Que posso mais fazer hoje para seguir os passos de meus guias?" Boas perguntas, não acham???

sábado, 24 de setembro de 2011

Tramas do Self

Lá se foram nove dias desde o último post. Mas neste período aconteceram tão fortes comigo que parece que foi há muito tempo. Bem que eu sabia que o livro iria me tirar de outras coisas, mas o fato é que nem escrevi tanto assim. Durante a semana minha agenda pessoal é bem fragmentada, disposta nos espaços matinais espremidos entre o acordar tardio e os atendimentos vespertinos e noturnos. É neste tempo miúdo que cuido dos cães, dos peixes, caminho, cuido da alimentação, do canteiro, estudo, leio, produzo alguma arte ou escrevo... desde que não tenha alguma questão 'atravessada' para resolver - e foi bem este o caso da semana que finda hoje. Estive às voltas com a localização - entre mágica e mediúnica - de uma encomenda que saiu da Inglaterra há semanas e já deveria ter chegado. Parte dela foi encontrada, mas só vou contar a história toda quando resolver de vez o problema. Fica aqui apenas o registro de que o desejo e a vontade dirigida são capazes de influenciar até aqueles que não conhecemos pessoalmente, mas aos quais nos vinculamos energeticamente - o que é uma benção se você souber que faz e como faz, mas pode ser um desastre se não se tiver plena consciência e responsabilidade com o ato mágico. Depois explico: por agora vou deixar o mistério no ar...

... Hoje quero falar do livro. No fim de semana passado, que é de fato quando tenho mais tempo, também não mexi nele, mas por causa dele mesmo: fui participar de uma oficina de bordados que acumulou duas sincronicidades bem interessantes. A primeira foi que o convite para esta oficina chegou em minha caixa de e-mail minutos depois de eu acabar de pensar que estava sentindo 'saudades' de bordar. A segunda foi que esta oficina associa o ato de bordar com a magia de contar histórias e com as danças circulares. No post Linhas da Alma eu relaciono poeticamente meu livro, que se materializou depois de um ritual (post A Força da Mulher do Sol Poente), com o bordado que se constrói ponto a ponto. Portanto, por mais que um lado meu desejasse escrever, outro lado sabia que duas sincronicidades seguidas (da concepção e metáfora do livro com a proposta do trabalho; e a do e-mail) deveriam querer dizer algo, e eu precisava descobrir o que. De fato eu já conhecia o trabalho e tinha até um bordado finalizado para compartilhar com elas - e esta seria, também, uma boa oportunidade. Mas o que aconteceu foi muito além disto.

De manhã foi tudo tranquilo, mas à tarde a coisa foi bem diferente. A história que se contou foi sobre uma menina que queria pôr a mão numa estrela e que, no final, descobre que é possível realizar o seu sonho - ainda que de uma forma bem diversa daquela que imaginou. Aparentemente esta seria apenas uma história encantadora, mas ao mostrar o bordado que realizei no ano passado me dei conta que eu mesma já havia criado uma história para minha sobrinha na qual uma menina-estrela faz de tudo para se transformar numa menina-gente e, ao conseguir, sai pelo mundo distribuindo alegrias. Enquanto a contadora finalizava seu trabalho, eu ia me dando conta de que a história dela e a minha eram complementares e fechavam um círculo perfeito: na minha história a menina 'desce' para realizar o seu sonho; na dela, a menina 'sobe' para fazer a mesma coisa. Não bastasse isto, ali, bem no meio da contação da história, eu fiz uma conexão até então incompreensível para mim entre estas duas 'meninas' e o nome que assumi neste blog.

No ano passado eu não tinha ainda recebido o nome Mulher das Estrelas das 13 Xamãs e, portanto, só vi a história que criei do ponto de vista de uma tia puxa-saco. Mas, como psicanalista, confrontada com tudo que aconteceu entre o momento no qual criei aquela história e este momento agora, preciso reconhecer que meu inconsciente certamente sabia que um ano e pouco depois eu iria estar exatamente ali re-significando o conceito 'menina-estrela'. No contexto destas duas historinhas infantis, a interação entre a menina e a estrela é sinônimo da felicidade que se obtém ao buscar e ao realizar sonhos e desejos. E até uma criança conseguiria entender isto. Mas quando se introduz neste contexto o fato de eu ter recebido um nome mágico que me relaciona com estrelas - tal qual as 'meninas' - a coisa ganha ares de numinosidade, principalmente porque se há uma coisa na qual acredito com todas as forças do meu ser é que meu trabalho de ajudar aos outros a ampliar suas consciências os leva a encontrar a verdadeira alegria que vem do Self. Simbolicamente, caminho pela vida exatamente como a menina da historinha que criei no ano passado: distribuindo alegrias (ainda que até chegar lá o paciente se lave em muitas lágrimas...). Não as alegrias passageiras de uma vida passageira; mas aquelas que vêm da alma, do espírito, do Ser profundo e Divino, da Herança Estelar em todos nós.

Perceber que meu inconsciente criou lá atrás uma história que se costuraria perfeitamente com o momento mágico que eu viveria na lua nova de julho e, além disto, iria fazer sentido apenas e tão somente quando eu me dispusesse a escrever um livro, dar a ele a conotação poética de um bordado e, por causa disto, participar de uma oficina na qual se contaria uma outra história que fecharia o ciclo, foi forte - muito forte. Ainda bem que meu lema é 'quando estiver pronta, estou acabada', pois este truquezinho de auto-conhecimento que meu Self me impôs mostra que ainda tenho a aprender e muita, muita estrada para percorrer...

... Quanto ao livro propriamente dito, está ali pelas 15 páginas - somente! - por tudo que foi explicado acima. Mas preciso registrar que ele já nasce com uma dívida de gratidão a este blog e a seus leitores, pois o tom informal e orgânico (como bem definiu minha comadre) dos 43 posts publicados até agora foi transposto para lá. Estou conseguindo 'conversar' com o leitor, expor o lado humano do meu trabalho e, além disto, mantendo uma linguagem de fácil entendimento. Mesmo quando esbarro na necessidade de uma explicação mais técnica, lembro do feedback de uma leitora do artigo do meu site (post Recorrendo aos Universitários) e crio a imagem mental de um leitor-adolescente e não de um psicanalista experiente. E nestas poucas páginas produzidas até agora já pude perceber que ele irá sim explicar tim-tim-por-tim-tim conceitos tão técnicos quanto complexo materno, complexo paterno, complexo autônomo, possessão pela anima/animus, homossexualidade etc. No fim das contas, acabei percebendo que até mesmo este blog, cuja motivação consciente foi apenas compartilhar coisas que não saio por aí falando abertamente, foi engendrado por meu Self com um objetivo muito mais amplo do que a consciência poderia perceber em 01 de agosto: me ensinou a escrever com a clareza e a informalidade necessárias para este próximo projeto literário.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Linhas da Alma

Cá estou, meia-noite e meia, tempo de escrever, de cumprir compromissos, de atender ao chamado. 
Bordando estórias, contando casos, fluindo em palavras pela vida alheia, 
Exatamente como desejei, como pedi, como implorei à Mãe Divina: 
com leveza, suavidade, ética. 
Sigilo - nem a própria mãe há de reconhecer o filho. 

Meia-noite e meia. Trabalhei o dia inteiro, 
Apaguei incêndios de dor, sequei rios de lágrimas, ergui a mão a quem estava no chão.
Ao voltar para casa: trabalhemos mais um pouco - agora no livro. 

Depois do ritual de domingo, desempaquei: sentei e comecei a escrever. 
Seis páginas saíram rápidas, fluidas, gostosas. Hoje, mais três. 
E vai sei assim: aos poucos, aos pontos... lá vem mais um filho. 
O décimo primeiro. 
Abram a sala de partos: eu estou parindo!

domingo, 11 de setembro de 2011

A Força da Mulher do Sol Poente

Tenho que começar este post declarando aos quatro ventos que estou chocada, no bom sentido! Para ritualizar a Lunação de Setembro e procurar juntar a necessidade de trabalhar meu processo criativo (post "Perguntas Criativas"), estabeleci que iria realizar dois rituais complementares: o primeiro seria no pôr do sol de ontem e o outro será no pôr do sol de hoje. Ambos ocorrem durante o trânsito da lua sobre minha Casa V, e a força invocada para trabalhar seria da Mulher do Sol Poente.

No processo, decidi que no primeiro dia iria produzir um Filtros dos Sonhos verde. Passei a tarde de sexta buscando os materiais para este filtro e, depois de atender meus pacientes à noite, sentei para cobrir o aro com uma fita verde, enquanto recitava uma música da Carolyn Hillyer:

Buzzard call you back to the wild Land
Heron fly you home
Journey to the soul of your own land
Where the mothers wait for you return
Heron fly you home


Na tarde de ontem fui à feira de artesanato e consegui comprar de um índio Pataxó um palito de cabelo com penas de arara (eles recolhem as penas na muda dos pássaros) e selecionei duas que têm tons de amarelo e vermelho (a primeira cor em referência ao ar, e a segunda ao sangue/sentimento). Em outras bancas, comprei uma pena de pavão e um cristal de quartzo rosa que incrustei num fio dourado. Também selecionei cinco pedriscos de quartzo rosa que iria inserir no fio. Isto totalizou nove elementos (três penas, seis cristais), pois este é um número feminino. Na sexta ainda havia comprado uma loção aromatizadora para travesseiro com lavanda, chá verde e gerânio que queria magnetizar para usar como outra forma de conexão física com a "Guardiã dos Sonhos de Amanhã".

Na hora marcada para iniciar o ritual, estava tudo preparado no altar. Depois de chamar os elementos, comecei lendo em voz alta a poesia do post anterior, de frente para o sol poente. Fiz uma dança na qual buscava com a mão esquerda a força da Mulher do Sol Poente e a trazia para um chacra (na ordem: frontal/cardíaco/esplênico/base), levando em seguida com a mão direita num amplo gesto que representava que distribuía isto em minha vida. Minha invocação foi: "Mãe, me ensine a viver a Verdade da(o) minha(meu) mente/coração/poder/criatividade
e a levar a Sua Verdade para minha vida." Depois abri o círculo e me sentei para fazer o filtro.

Isto levou algumas horas e, ao terminar, já estava na hora de dormir. E foi aqui que fiquei 'chocada'. Duas horas depois acordei com o primeiro parágrafo de um livro inteirinho na mente. Palavra por palavra!, este ritual me deu a linha pela qual devo conduzir o trabalho literário com o qual vinha me 'debatendo' há duas semanas, pois nenhum dos artigos que escrevi me trouxe o conforto que vem da alma quando estamos no caminho certo (posts "Terra e Espiritualidade", "Recorrendo aos Universitários" e "Golpe Baixo"). Estava tão insatisfeita com o que estava produzindo que peguei alguns artigos de Jung para reler e fui rever "Quem Somos Nós?", na intenção de provocar um insight e achar um 'fio de meada'... acabei achando uma meada inteira! E mais: no sonho que tive à noite, comentava com alguém que eu iria enviar de uma vez três livros para registrar... ora, só se eu escrever três livros de uma vez! Acordei com a impressão de que um deles é exatamente a revisão de Música da Psique (post "O Olhar do Outro"), pois a pessoa com quem comentava havia escrito 'uma música' que eu queria utilizar no meu trabalho... mas o outro não tenho nem idéia! A Mulher do Sol Poente, portanto, pôs fim à minha embrionária 'carreira' de articulista da psique e me mandou de volta para uma forma de expressão que conheço bem: livros. Mas foi muito gentil, e já me deu o primeiro parágrafo... (risos).

Hoje o processo de ritualização continua: no pôr do sol repito o ritual de ontem e depois me sento para reproduzir em argila um totem que a Jamie fez de ossos (há uma foto no livro citado no post anterior). Ainda que não seja do mesmo material, decidi fazer isto porque aquela imagem simplesmente não saiu da minha mente durante toda semana: bastava ficar um pouco quieta que a via claramente diante de mim. Inicialmente eu pensei em fazê-la durante o dia e sacralizar no ritual. Mas a temperatura, que está agora em torno dos 32 graus, é impeditiva para trabalhar com argila - se se molhar demais o material durante o trabalho, ele racha quando seco. Obviamente que depois de esculpida, irei voltar muitas vezes a trabalhar com ela, pois há pinturas e adornos a serem postos. E há um lado bom de se trabalhar assim: consolida-se a força de um ritual.

... amanhã eu vejo o que a noite posterior a isto me trará. Se "só" um Filtro dos Sonhos já fez o que fez, nem consigo imaginar o que um totem de argila será capaz de fazer. O trabalho com argila é um trabalho com o elemento Terra e os junguianos conhecem bem a força que este material evoca no inconsciente: é, de todas as formas de arte-terapia, a que mexe mais profundamente. Há mesmo a possibilidade de que eu só veja os efeitos ao longo de dias ou semanas, pela própria capacidade de mexer nas estruturas de base da psique. Mas não vou antecipar nada... já vi o suficiente para saber que estou lidando com um aspecto da Mãe Divina muito mais potente para mim do que jamais poderia imaginar - e eu tenho que confessar que ainda estou tentando entender tudo isto...

... Ontem, antes de dormir, estava pensando no quando o totem que a Jamie apresenta é diferente de tudo que eu já havia visto. Esteticamente ele foge completamente às regras, mas ainda assim é muito belo - de um jeito que não consigo explicar. Quando me sentei na cama, olhei para uma imagem de Lakshimi que tenho voltada para minha cama e falei mentalmente com Ela: "Mãe, eu A amo tanto que, para mim, a Senhora é bonita em todas as suas expressões!"

Mulher do Sol Poente

Guardiã dos sonhos de amanhã
Mãe da noite estrelada
Mostre-me como viver minha verdade
E traga meus sonhos à luz.

Ensine-me como usar minha vontade
Vivendo a verdade que encontrei internamente
Descobrindo todas as partes de mim
Onde a luz e a sombra se misturam.

Deixe-me cantar a canção do futuro
Que diga respeito ao que será
Defendendo todas as leis da Natureza
Para as criaturas, pedras e árvores.

Mãe, eu vejo Você no sol poente,
E A ouço na chuva.
Você me ensina os conhecimentos internos
Através do doce refrão do seu coração.

Esta foi uma tradução livre que fiz (e pedi a uma paciente fluente em inglês que corrigisse) do poema Setting Sun Woman, que Jamie Sams escreveu no livro "The 13 Original Clan Mothers". O poema, por si só, explica que esta é uma guardiã do futuro que nos ensina a vivermos nossa verdade interior, na Terra e para a Terra, materializando nossas potencialidades. Ela nos ensina a harmonizarmos nossa Luz e nossa Sombra e a utilizarmos a força desta harmonização para usarmos nossa vontade corretamente.

... Na minha busca sobre compreender o porquê de ter encontrado as 13 Xamãs (post "De Pachamama às 13 Xamãs"), encomendei o livro de Sams e esta semana ele chegou. Comecei a lê-lo e entendi que este Clã representa 13 aspectos femininos primordiais que, exatamente por serem 'primordiais', podem ser representados de formas diferentes para diferentes mulheres. A autora do livro, por exemplo, as viu em suas visões com aspectos bem mais arquetípicas do que eu. E eu entendo que a forma que o inconsciente escolheu para representá-las para mim foi bem sábia, pois ao ignorar conscientemente informações detalhadas sobre elas, não teria tido a menor condição de 'reconhecê-las' caso se manifestassem a mim com caracteres diferentes do tomaram. Na forma de Xamãs,  pude relacioná-las à cultura indígena norte americana e partir para fazer ali minhas pesquisas.

Outra coisa importante que entendi, logo na introdução do livro, foi que este Clã conduz uma espécie de iniciação feminina anual. Dito de outra forma: ao se sintonizar com cada uma das Mães, em cada uma das lunações, a mulher se reconecta com seu Self feminino e tem a oportunidade de trabalhar conscientemente 13 aspectos basilares de sua constituição psíquica. Esta iniciação, contudo, não é linear - com começo-meio-fim -, mas ocorre numa espiral que se prolonga por toda vida. Se ela se empenhar, a cada ano pode aprofundar sua conexão e amplificar a forma como expressa cada um dos atributos.

Este Caminho, obviamente, tem suas regras e objetivos bem traçados. Há uma busca de cura pessoal e reconexão com o potencial curativo/nutritivo/fertilizador do Feminino, que inclui um ano de preparação, durante o qual a mulher guarda silêncio mensalmente por três dias. "Nestes dias de recolhimento, a mulher visualiza seu útero se abrindo para receber a fecundação do amor do Grande Mistério, dando força para as sementes dos seus sonhos. Ela se abre para receber em seu corpo a força e a nutrição da Mãe Terra." (tradução livre, sem revisão de experts, pág 13)

Ao ler esta descrição, não pude deixar de me lembrar do conto "Pele de Foca", relatado por Clarissa Estés em "Mulheres que Correm com os Lobos" e sentir que esta é, de fato, uma boa forma de devolver a mulher a Si-Mesma. Obviamente vivemos numa cultura muito diferente e, pessoalmente, não conheço nenhuma mulher moderna que poderia guardar total silêncio mensal por três dias! Somos 'multi-facetadas', multi-atarefadas, e nossos compromissos intermináveis transitam de hora em hora entre trabalho, família, amigos, casa e, para umas poucas 'privilegiadas', estudo, criatividade e espiritualidade. E por 'privilegiadas' não estou aqui me referindo às mulheres com recursos financeiros, mas àquelas que conseguiram, com unhas e dentes, brigar por um mínimo de espaço em suas vidas reservado apenas ao cultivo de sua própria alma, sem que ninguém abrisse a porta de supetão para anunciar que, por exemplo, 'acabou o leite da geladeira' ou 'o menino precisa trocar fraldas' ou 'o seu chefe ligou e quer o relatório para antes das 8h'...

Por outro lado, também vivemos numa cultura na qual mesmo a mulher que poderia 'cavar com os ombros' um espaço mínimo que seja não consegue ficar 'consigo' em momento algum. Como psicanalista posso afirmar que em nossa 'civilização' o silêncio é algo que incomoda, sendo visto não como uma oportunidade de estar em sua própria companhia, mas como uma espécie de vazio que chega às raias da tortura. Usa-se com muita frequência a verborragia para fugir do contato com a verdade que lhe vai ao coração, e é nesta conotação que ficar em silêncio pode se tornar algo realmente doloroso: ouvimos os sussurros de nossa Alma e ela pode estar nos dizendo que a forma como conduzimos nossa vida está às avessas do que deveríamos...

Com estas duas vertentes em mente - uma cultura de extroversão e uma necessidade restabelecer o contato com o Self - eu me atreveria a propor a minhas pacientes que guardassem um espaço mensal de silêncio que se não pode ser de três dias, que seja de um dia, ou meio dia ou qualquer tempo no qual elas possam se isolar de tudo e de todos, pôr uma placa de PARE diante da porta, e estabelecerem este contato amoroso consigo. O importante, seja do ponto de vista do inconsciente, seja do ponto de vista da Magia, é a intenção que se põe no ato. O Self e a Mãe Divina nos conhecem a todos e sabem perfeitamente diferenciar as limitações reais daquelas criadas pelo medo de entrar em contato com a verdade do próprio coração.

Pessoalmente não 'sofro' este tipo de limitação, pois por força de um chamado interno que ocorreu na adolescência e também por força de minha profissão, semanalmente guardo um tempo para mim e estou sempre 'lustrando minha Pele de Foca'. Como disse acima, a leitura deste livro vem agregar elementos ao que já faço há três décadas: buscar meu Self e honrar meu amor pela Mãe Divina.

... Não tenho aqui a intenção de resumir em alguns parágrafos um trabalho que Jamie Sams levou mais de 300 páginas para descrever - e recomendo a quem se interessar por este Caminho, que leia e releia o livro inteiro. Estes pequenos comentários anteriores têm por objetivo mostrar que ao se apresentarem para mim na visão de 30 de julho, estas Xamãs estavam me 'convocando' para entrar numa nova fase de desenvolvimento espiritual. Até então meus rituais mensais sempre tinham por mote a conexão dos trânsitos astrológicos lunares sobre meu mapa natal. Com este mote, escolhia um arquétipo feminino já conhecido nos panteões grego, hindu e africano.  Agora, ao que tudo indica, preciso sistematizar de outra forma meu trabalho interior. Como, exatamente, isto se dará, ainda não sei - cabe a Elas e não a mim estabelecer as diretrizes. Mas vou seguindo o fluxo e vendo aonde esta face até então desconhecida de minha Mãe Divina irá me levar. Tenho apenas uma certeza: estarei sempre e cada vez mais perto Dela!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Perguntas Criativas

Ontem dormi refletindo sobre algumas questões que sempre me intrigaram: por que temos a capacidade de criar coisas negativas para nossa vida e não exercemos o mesmo poder para coisas positivas? Por que o negativo nos mobiliza para mudanças e o positivo não? Vejo isto em minha vida e na vida de todos que me cercam profissional e pessoalmente. Acredito que este é o tipo de pergunta que realmente merece que nos debrucemos sobre ela, e nesses anos cheguei a algumas conclusões que desejo compartilhar. 

A primeira delas diz respeito à tendência que a psique tem de se comportar como um corpo em movimento inercial. Por pior que seja uma situação em nossa vida, o fato de ela ser 'conhecida' nos causa menos angústia que o novo. Tendemos, portanto, a ficarmos em uma espécie de zona de conforto até que o Self providencie uma exacerbação do sofrimento ou traga um elemento novo que nos obrigue a levantar o traseiro da cadeira de expectador da vida, e buscarmos um rumo diferente. Não fossem esses episódios que põem por terra tudo aquilo que considerávamos certo, ficaríamos estacionados na evolução. E é desta constatação que retiro a certeza de que tudo de ruim que nos acontece tem uma semente positiva em seu bojo.


Ao nos questionarmos sobre finalidade de uma 'trombada' que algum episódio deu em nossa vidinha conhecida - ou mesmo quando não cabem questionamentos, apenas vivenciar aquilo -, podemos descobrir os propósitos do Self para as chamadas 'bênçãos disfarçadas de perda'. Por pior que seja uma situação, ela sempre irá nos levar ao crescimento: cedo ou tarde, compreendemos que foi a partir dela adquirimos uma perspectiva diferente e demos um passo a mais em direção à maturidade e sabedoria. Mas, sendo sempre assim, porque não fazemos isto voluntariamente, ou seja, por que não buscamos atingir a maturidade e a sabedoria antes que elas venham nos 'atingir' incrustadas nas pedras da dor? A conclusão que chego aqui é que a pergunta já é resposta, ou seja, exatamente por falta de maturidade e sabedoria nos agarramos ao passado, ao presente e à nossa inércia costumeira. 

É a falta de sabedoria que gera o medo que nos impede de usarmos nossa capacidade criativa para nos 'anteciparmos' e tomarmos o movimento evolutivo em nossas próprias mãos. E isto me leva à segunda conclusão: temos a tendência infantil que não querermos nos responsabilizar por nossas vidas. É mais fácil pôr a culpa nos pais (pobre das mães!), nos cuidadores, nos companheiros, nos chefes, na Nação, nos políticos, nos vizinhos, em Deus ou em qualquer 'outro'. E note que aqui uso duas palavras diferentes: responsabilidade e culpa. 

Enquanto a responsabilidade implica em tomar posse de condições necessárias para realizar algo - e cria, por isto mesmo, um compromisso com o que se realiza -, a culpa é mera sentença de que há um agente e uma vítima. A primeira põe conscientemente o poder em nossas mãos; a segunda, retira. Pelo menos é o que acreditamos. Mas a verdade é que mesmo que um evento tenha vindo do Self diretamente e, à revelia total do ego, utilizado um 'outro' como aparente agente, o fato é que nos cabe sempre uma responsabilidade em tudo que nos acontece. Não culpa!, res-pon-sa-bi-li-da-de. Somos co-criadores de nossa vida, quer gostemos ou não disto. E temos uma capacidade quase infinita para criarmos coisas ruins para nós mesmos. Por mais que os padrões de interferência de onda possam explicar como o outro efetivamente altera - para o bem ou para o mal - aquilo que nós mesmos criamos, a própria presença deste outro em nossa vida já é algo que consciente ou inconscientemente buscamos. 

Aqueles que não têm uma visão espiritual, e não consideram como válida a possibilidade de uma reencarnação, podem objetar que existem pessoas e circunstâncias que nos são impostas e não escolhidas por nós. Eu discordo totalmente: o Self preexiste e pós-existe ao ego e este, como Jung bem definiu, é uma criação do primeiro. O objetivo de toda e qualquer vida sobre o planeta - incluem-se aí as vidas ditas 'inferiores' em relação ao homem - é a evolução, e o ego humano não foge a esta lei. É através dele que o Self adquire experiência em sucessivas encarnações até tomar posse completa de sua Natureza Divina. Do ponto de vista desta Natureza, positivo e negativo se interpõe e interpenetram, sendo apenas expressões de um processo criativo que ainda somos incapazes de compreender totalmente com o coração e a mente. E eu volto aqui a questão da criatividade, concluindo com meus botões que ela é um patrimônio do qual não temos como abrir mão - para o bem ou para o mal. Talvez, num mero trocadilho filosófico, não sejamos nós que a possuímos, mas ela que nos possui até virarmos o jogo e a tomarmos em nossas mãos. 

...Pessoalmente passei mais da metade de minha vida não me considerando uma pessoa criativa - o que, por tudo que acabo de dizer, significa que não tomava posse de minha criatividade. Apenas nas duas últimas décadas foi que coloquei a mão nisto. Mas ainda de forma semi-consciente. Como assim?!, podem perguntar aqueles que convivem comigo e que vêem uma verdadeira explosão de 'coisas que eu fiz' a meu redor. Simples: criar algo e sentir-se criativa são duas coisas diferentes. Em termos práticos, significa que reconhecia e reconheço a existência de um hiato entre o que produzo e o que sinto ser capaz de produzir. Filigranas da psique... Apenas quando resolvi que uma das formas de ritualizar minha entrada na menopausa seria produzir um scrap-book com as coisas que criei ao longo desses anos (inspirada na Coletora de Ossos, de Clarissa Estés) foi que efetivamente comecei a tomar posse consciente disto. Apenas quando vi que tenho mais de cem quadros pintados, dez livros registrados e sei mais lá quantas outras 'artes' foi que principiei a desconfiar que estava desatualizada a meu próprio respeito. E quando digo que principiei, é principiei mesmo: apenas no universo das palavras é que sinto com o coração que sou realmente criativa; nas outras áreas me vejo muito mais como uma 'copiadora' (mais recentemente o bordado e o próprio scrap também têm me chegado ao emocional como patrimônio). 

Técnica e racionalmente sei que me escorar na posição de mera reprodutora de obras alheias, no biscuit, na costura e na pintura, está bem longe da verdade. Qualquer artista sabe que ninguém de fato copia nada, e mesmo um pintor refazendo uma pintura de outro irá deixar impressas ali as marcas de sua individualidade; mas a falta de maturidade ainda não me permite atingir o estágio de tomar emocionalmente posse total de mim mesma. Paradoxo, isto, não? Mas como não sou do tipo que 'deixa barato' quando descobre algo a ser trabalhado na psique, vou usar a próxima Lua Cheia que, não por coincidência, vira exatamente na minha Casa V, da criatividade, para dar mais um passinho nesta direção. Um dia eu chego lá! 



sábado, 3 de setembro de 2011

O Lazer da Biruta

Terminei o artigo que comecei a escrever esta semana para o site, mas não fiquei satisfeita com o resultado. Confesso que havia uma preguiça mental me cercando estes dias, não sei se por cansaço ou pelo calor, que me deixa low battery. E nessa onda de 'não aguento nem pensar', fui separar uns DVDs para gravar e resolvi rever a Quantum Edition do "Quem Somos Nós?", Como?! Isto mesmo: coisas inteligentes me relaxam, mudam minha disposição mental e me põem idéias na cabeça. Muito pouco comum, admito; mas o fato é que aboboraterapia para mim só se for em doses homeopáticas: em excesso acaba me estressando. 

Tenho uma urgência na alma que nunca consegui delimitar direito: fui sempre assim e foi por isto que comecei meu Caminho aos 12 anos. Olho para a vida como se cada dia fosse uma oportunidade de aprender alguma coisa nova, pôr em prática algum conhecimento, despertar alguma potencialidade - e não há tempo a perder. Lógico que aqui e ali tenho meus momentos de hortifrutigranjeiros na companhia da família e de amigos. Mas, quando estou sozinha, só três coisas realmente oxigenam meus neurônios à guisa de verdadeiro lazer: meus cães, um trabalho artístico/manual ou algo que me desafie a forma cotidiana de pensar. E a física quântica é uma destas opções. 

Não que me considere entendida do assunto - longe disto -, pois como os próprios físicos quânticos definem, quem diz que a entende, na verdade não entendeu nada! Ah!, como foi bom saber disto. Quando li "O Universo numa Casca de Noz" pela primeira vez, cheguei na última página pensando que havia lido um livro inteiro em hebraico - e ninguém me avisou?! Como diria o Djavan, 'é mais fácil aprender japonês em braile'... Melhorou bastante quando li "Alice no País do Quantum"... mas ficou legal mesmo quando vi "Quem Somos Nós?" pela primeira vez. E quando saiu a Quantum Edition, fui ao delírio! Eles pularam dos meros 108 minutos da versão para o cinema e chegaram a nada menos que 13 horas. Coisa para biruta nenhum botar defeito...

Minha fascinação pela Física Quântica em geral, e por este documentário especificamente, se explica por si mesma: vejo nela a forma 'moderna' de dizer aquilo que tanto os místicos, quanto os filósofos vêm dizendo há milênios. Identifico ali, também, uma maneira de embasar cientificamente coisas que vivo no dia-a-dia, de forma pessoal ou através dos pacientes. Por exemplo: a capacidade que um paciente tem de me afetar ao projetar deliberadamente uma energia ruim sobre mim (post "Encruzilhadas da Vida) ou de eu mesma modificar o sentimento de uma manicure (post "Alegria Toldada") se explica pelo entrelaçamento. A capacidade de atuar em duas dimensões diferentes (posts "Papagaio" e " Obsessão - Parceria Maldita" entre outros) se explica pelo fato de a consciência partir de um campo de onda e poder colapsar em realidades diferentes. O fato de selecionarmos inconscientemente para nossa vida eventos que apenas reforcem nossas crenças internas conscientes ou pré-conscientes (posts "Da Sombra à Luz" e "Tabula Smaragdina") se explica com a brincadeira que o filme faz sobre o que chamam de 'vícios em peptídeos'. 

Experimentos baseados em Física Quântica também provam com dados e números a telepatia e o potencial profético de todos nós, teclas nas quais venho batendo no consultório há mais de uma década. E mais: aquilo que no filme eles chamam de 'o observador que cria a realidade' é, desde os tempos imemoriais, aquilo que filósofos alquimistas chamaram de Pedra ou Lapis, e que Jung chamou de Self. E outra: já se prova também que a oração pode modificar não somente uma estrutura orgânica, mas uma comunidade inteira, e isto é um bom argumento que uso no consultório para falar abertamente de espiritualidade com os pacientes. E, ainda: que quando projetamos de forma intencional e concentrada uma energia sobre uma coisa, ela efetivamente fica 'programada' para fazer acontecer o que projetamos - e este é o motivo pelo qual gosto tanto de dar cristais de quartzo rosa de presente: sempre 'ponho' uma boa intenção neles. 

Ou seja:  um documentário como estes, visto e revisto algumas vezes (já devo estar na quinta ou sexta 'revisão'), pode ajudar muito a modificar nossa cosmovisão e restruturar nossa própria configuração cerebral, nos capacitando a ampliar a consciência e a permitirmos que o Self flua de maneira mais plena. Claro que ninguém precisa ser tão biruta quanto eu a ponto de achar que isto é 'lazer', mas ainda assim recomendo. Para mim é prazer garantido!!!

 

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Tabula Smaragdina

"O que está em baixo é igual ao que está em cima. E o que está em cima é igual ao que está embaixo, para que se realizem os milagres da coisa única. (in Estudos Alquímicos, C. G. Jung § 175.)"

O princípio da Tabula Smaragdina é a base sobre a qual os alquimistas estruturaram todo seu trabalho. E, como já tive oportunidade de dizer (post Alquimia da Alma), a alquimia é a 'avó' da análise junguiana. Na busca do significado, tanto de símbolos, quanto de eventos concretos, tratamos o simbólico como real e o real como simbólico e, a partir disto, encontramos as mensagens do Self e o potencial evolutivo de tudo que ocorre à psique. Feita esta apresentação, gostaria de continuar o assunto do post anterior e explicar que este princípio alquímico não é 'mera teoria estapafúrdia', mas tem implicações práticas bem visíveis.

No atendimento que fiz do meu amigo ontem, levamos pouco tempo para descobrir que há ainda em sua psique um elemento 'censor' interno que se volta contra sua homossexualidade e o faz sentir-se indigno tanto de felicidade, quanto de 'respeito'. Foi muito triste constatarmos que este auto-preconceito, ao ser ignorado e não trabalhado por tantas décadas, adquiriu força libidinal suficientemente para reverberar no inconsciente de outra pessoa e torná-lo alvo de um ataque justamente na área sexual. Por sorte - e eu realmente considero sorte - o inconsciente do litigante identificou algo em meu amigo que considera uma 'perversão', mas errou o alvo: meu amigo nunca passou nem perto de um relacionamento com menores de idade e muito menos com 'meninas'. Juridicamente isto irá fazer muita diferença. Mas o impacto é interno, não só por expor sua vida íntima, mas por reverberar em seu emocional.

A questão da não aceitação de si mesmo é algo 'banal' em um consultório de análise; e não é diferente para os pacientes que têm a homossexualidade como opção sexual. Com eles, contudo, este fato adquire muitas vezes o contorno de auto-destruição, tanto física, quanto social e psicológica. Fazendo um eco absurdo com o preconceito social, as pessoas que escolhem nascer com um cérebro biologicamente preparado para sentir atração sexual por indivíduos do mesmo sexo - e também aqueles a sentem por ambos os sexos - costumam guardar no íntimo toda sorte de acusações injustas a respeito de si mesmas. E, muitas vezes, este 'dedo acusatório' que apontam contra si é tão violento e pesado que eles o 'soterram' nas camadas mais fundas da psique. Tudo isto amplifica a urgência de uma análise profunda e eleva aos píncaros a necessidade de desenvolver amor-próprio e auto-estima legítima, mesmo que o meio não lhes 'autorize' isto.

Já tive vários casos com contornos bem próximos aos do meu amigo e todos têm em comum a necessidade de superação. Da putrefatio alquímica se extrai a Pedra, ou seja, da matéria negra do inconsciente se extrai o Self.  Nesta linha, expliquei-lhe que, a despeito do sofrimento de ter sido vítima de uma injustiça, é justamente este choque que lhe abre as portas psíquicas para uma superação importante em sua evolução. A constatação de que, em nível simbólico, esta acusação tratou-se de uma projeção da própria injustiça à qual seu inconsciente o submete, irá habilitá-lo a mergulhar em camadas muito profundas do inconsciente, pôr a mão nesta questão e trazê-la à tona para ser trabalhada. Como uma Hidra de Lerna, é chegada a hora do preconceito ser retirado dos pântanos da Sombra e exposto à luz da consciência pelo ego heróico.