sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Lua Nova: a Yaga, o Barba-Azul e o Pânico da Amiga

Seguindo a linha da "Mulher Que Caminha com Altivez" (post 10/11/11), escolhi trabalhar um trânsito lunar que ativava aspectos tanto de minha Casa XII (inconsciente, grosso modo) e Casa II (valores, idem). Tendo a Baba Yaga como 'filtro', o mote era repassar os valores que ainda prejudicam a expressão de meu Self Selvagem e reativar no inconsciente aquilo que algum dia possa ter me ajudado a estar mais próxima deste aspecto, e que possa ter ficado desvitalizado nos últimos tempos. Lembrando sempre que a Lua Nova é uma boa lua para limpeza (repassar valores Casa II) e também para semeadura (replantar aspectos Casa XII), estava eu elaborando justamente os meus propósitos mais claramente quando 'uma coleção' de sincronicidades virou um pouquinho o rumo da conversa. Mas, antes de explicar os causos, algumas digressões.

A primeira delas diz respeito ao fato de que, infelizmente, ainda nos dias de hoje, muitas pessoas desconhecem a força e o valor dos arquétipos do inconsciente coletivo e de como estes afetam de formas bastante objetivas a vida diária de cada um de nós. A ignorância, ao contrário do que se imagina, não imuniza o indivíduo do efeito pernicioso de um arquétipo degenerado pelo desuso ou negativo per si. Uma Baba Yaga enfurecida pode perfeitamente bem, como exemplo de um arquétipo bi-polar capaz de degenerar, 'abocanhar aos pedaços' uma mulher desavisada que ouse desafiá-la mantendo uma postura de 'boa-demais' ou a 'ingenuidade patológica' que ignora todas as exortações da intuição - visto que isto é o equivalente a relegar a Mulher Selvagem à periferia da psique. Em termos práticos a Yaga pode fazer com que ela seja sugada e exaurida até por aqueles que a amam ou, pior!, se envolva sistematicamente com pessoas que apenas lhe ativam mais e mais o arquétipo do Barba Azul - este sim, maligno por si mesmo - até que ela, a mulher, saia finalmente se arrastando pela vida à procura da Velha.

O Barba Azul, por seu turno, é um predador da psique, presente tanto na psique feminina quanto masculina. Seu objetivo é destruir a vida criativa, onde quer que ela aconteça. Sendo endógeno a todos nós, ele pode ser ativado tanto por forças internas quanto externas; ou seja, podemos tanto tê-lo atuando de dentro para fora quanto de fora para dentro, num perfeito movimento de sincronia. E, ainda, podemos acabar servido de 'canais' para ele sem que percebamos, trazendo para aqueles que nos são mais próximos a  força destrutiva que tanto nos apavora.  Em algum outro momento posso até escrever mais sobre estes dois, mas por agora sugiro que quem ainda não se familiarizou com o trabalho de Clarissa Estés e seu brilhante Mulheres que Correm com os Lobos (mas não só este) deveria procurar fazê-lo o mais brevemente possível. Estés foi de uma felicidade ímpar ao conseguir traduzir de forma perfeita o verdadeiro sentido por trás de alguns contos de fada. Seus livros têm todos a propriedade quase mágica de se transformarem completamente a cada releitura que fazemos e ainda não tive uma única paciente que depois de conseguir 'vencer' a primeira leitura (normalmente à base de chicotada - rss), não reportasse um verdadeiro deslumbre nas leituras subsequentes!

Outra digressão importante é um desdobramento do último parágrafo: todos nós estamos todo tempo canalizando a energia de arquétipos e, portanto, é de bom alvitre que observemos muito detalhadamente quais energias estamos deixando fluir através de nós para que possamos fazê-lo exatamente de acordo com nossa vontade, e não de forma inconsciente. E aqui começa a contação dos causos que levaram a 'ligeira' modificação nos rumos do meu ritual...

O primeiro destes casos diz respeito a três homens feridos e que, devido a isto, para usar a linguagem do Robert Bly (João de Ferro), permanecem com a 'chave debaixo do travesseiro da mãe'. Em sua vida adulta, eles simplesmente não têm conseguido seguir adiante e se permitir realmente adentrar nos relacionamentos afetivos. Não, eles não são meus pacientes - se o fossem, já teriam 'tomado jeito'. Eram, até alguns dias atrás, os companheiros de três de minhas pacientes. Mesmo amando profundamente, o que ficou muito claro para mim, para eles próprios e mesmo para as pacientes, eles acabaram por perder as relações e deixaram escorrer pelos dedos essas mulheres decididamente maravilhosas que preferiram caminhar sozinhas a viver com migalhas de amor. Para mim foi de cortar o coração ver as relações se esvaírem, pois conheço perfeitamente bem a psique masculina para saber que eles simplesmente não conseguiram - ainda que desejassem. Sei bem a diferença entre um homem 'sonso', um homem 'mau' e um 'homem temporária ou permanentemente incapacitado' - e consigo mostrar isto para as pacientes. Também sou absolutamente a favor de tentarmos tudo até que de fato não haja mesmo mais o que fazer, pois como fica bem claro no conto Mulher Esqueleto, nossa cultura tem a tendência de sair correndo rápido demais e fugir descaradamente até do menor desafio que uma relação nos proponha. Mas quando atingimos realmente o fim, se permanecemos na relação, ela acaba nos fazendo mal, acaba degenerando para uma negatividade que nos contamina e contamina o(a) companheiro(a) e passamos a fazer involuntariamente o papel de Barba Azul para quem amamos, acusando e ferindo o outro de forma surda ou aberta com cobranças e censuras de toda sorte que apenas minam a auto-estima, a auto-confiança e a capacidade do outro de se refazer depois de uma queda.

O outro caso, contudo, tem um tom bem mais sombrio e muito mais pernicioso que os anteriores: uma paciente que, sob a tirania de seu Barba Azul intrapsíquico, se envolveu com um homem que não teve, tem ou teria qualquer problema em 'materializar' o Barba Azul fisicamente para ela. Durante a relação ele, que é casado, lhe disse coisas como 'eu jamais me casaria com você', 'você é burra', ' você não serve nem para ser minha amiga'... mas lhe era útil para sexo, para servir de acompanhante e outras coisas que ele achasse interessante na hora. E por mais que ela tentasse romper com ele, sob a fascinação desta poderosa força auto-detrutiva do Predador, conjurada e conjugada à força destrutiva da própria relação, acabava se submetendo a todas as vontades do amante, quaisquer que fossem. MAS, ao contrário do que muitos poderiam pensar, de burra ou ignorante esta mulher não tem nada. Jovem, bonita, conquistou por mérito intelectual e profissional um cobiçado cargo na empresa para a qual trabalha. E esta paciente tem um outro atributo que deixaria qualquer um que a conhecesse completamente sem entender como não saiu ainda desta relação: ela é uma bruxa nata, uma dessas mulheres que num passado qualquer mergulhou fundo na magia e voltou a esta encarnação com um sólido conhecimento que agora lhe chega sob a via intuitiva. Muitas vezes quando olho para ela, me vejo há décadas atrás dizendo e fazendo coisas sem ter a menor idéia de como 'sabia' daquilo... e, para ser bem honesta, às vezes a sinto mais Bruxa do que eu mesma fui, sou ou serei um dia. Ela é de arrepiar!!!

... Continuando o causo da Lua Nova, na terça estava eu apanhando do inglês e tentando entender o livro Sacred House, da Carolyn Hillyer, quando esbarrei no seguinte feitiço:

"One who is without courage
will be granted a refuge
where all is absolved
by the writer of vows
and compelled to journey
until the carved scavenger
shall be torn apart
shall be torn in two."

Entendo 'carved scavenger' como o próprio Barba Azul e na mesma hora me lembrei tanto de uma amiga-bruxa que tomou contato há algumas semanas com o fato de ter estado sob domínio destas forças e, portanto, estava precisando de coragem para se perdoar e combater o negativo da forma adequada; quanto da paciente bruxa - e acabei mandando a transcrição do feitiço para ambas. No decorrer da semana, acabamos 'evoluindo' para sincronizarmos nossos rituais. Funciona assim: estaríamos as três invocando a Yaga para nos ajudar a recuperar a força da Mulher Selvagem e, a partir dela, criar um círculo de proteção forte o suficiente para manter o Predador longe. As músicas escolhidas foram da Carolyn, claro, com ênfase em 'Dança da Garra da Ursa' (post 'Não Resisti') e 'Give Me Wild', uma música que, vamos combinar?!, é a cara da Baba Yaga e perfeita para invocar a Mulher Selvagem. Mesmo meu inglês macarrônico é capaz de ler isto... rss.:


Storm beast rides in the belly of the night
Give me wild give me wild
Give me wild give me wild

Storm  beast curled on the wing of the wind
Give me wild give me wild
Give me wild give me wild

Waters amber waters crashing waters stinging rains
Wash me through wash me through
Give me wild give me wild

Mist yawning mist spinning mist trailing spirits
Wrap me round wrap me round
Give me wild give me wild

Clouds rolling clouds darkness clouds heavy thunder
Press me close press me close
Give me wild give me wild

Earth twisting earth heaving earth swaying belly
Rock me hard rock me hard
Give me wild give me wild

Light flashing light piercing light bolting horses
Fire my soul fire my soul
Give me wild give me wild

Trees beating trees madness trees leaping shadows
Free my dance free my dance
Give me wild give me wild

Ontem, portanto, fizemos o ritual MAS, no meio do caminho, ao invés de trabalhar meu próprio mapa natal, como havia planejado, me vi invocando a força da Yaga e da Mulher Selvagem para TODAS as minhas pacientes! Já tinha deixado o altar montado antes de ir para o consultório - o que é o mesmo que dizer que já tinha passado o dia mais pra lá do que pra cá - e, portanto, foi bastante fácil entrar em transe, chegar à casa da Yaga, perfilar as pacientes diante dela e fazer uma invocação de força que me arrepiava da cabeça aos pés. Pedi a Ela que acordasse a intuição dentro daquelas mulheres, que as chamasse à consciência de forma positiva, que as fizesse despertar para a necessidade de apurar olhos e ver com a alma; de aguçar os ouvidos e ouvir com o coração; que lhes ensinasse a separar o milho bom do milho mofado e a tirar o melhor do negativo (sementes de papoula do estrume). Que elas aprendessem a sentir o cheiro do Predador à distância e mantivessem especial cuidado com ele; que jamais se permitissem sentir menores ou inferiores a ninguém; que pudessem, daquele dia em diante, olhar com dignidade e cabeça erguia nos olhos de suas irmãs, de seus parceiros e, claro, daqueles que lhes quisessem algum mal. Pedi proteção e coragem e, mais do que pedir, eu exigi que Ela assim procedesse, baseada na autoridade de saber que dedico meus dias e minha vida para recolocar outras mulheres no Caminho e, portanto, sinto com direito de fazer exigências de colaboração por parte da Yaga e de quem quer que seja. 

... Terminado o ritual, fui dormir... com certa dificuldade, óbvio, devido à quantidade de energia que mexi. Mas dormi bem, ainda que tivesse que madrugar por causa do jardineiro...

... Pouco depois das nove uma outra amiga, que é minha vizinha, me ligou para contar que sonhou que via minha casa sendo invadida com três ou quatro homens e que me ouvia gritar por socorro; mas se sentia impotente para me ajudar e acordou em pânico... "hummm, pensei com meus botões, andei 'cutucando' alguns 'vespeiros'... sem problemas, pois como tudo que faço por minhas pacientes: para cada um que queira me derrubar, tenho dois que estão para me ajudar! Que assim seja; assim é!"


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