segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

V-Day - o Dia do Basta!



Quando Eve Ensler começou V-Day, 14 anos atrás, ela teve, em suas palavras, "a idéia ultrajante de que poderia acabar com a violência contra as mulheres. Desde então, centenas de milhares de V-Day ativistas em audiências e nos palcos de mais de 140 países se reuniram para exigir o fim da violência contra as mulheres e meninas. Mas ainda hoje, a ONU afirma que uma em cada três mulheres no planeta vai ser espancada ou estuprada durante a sua vida” - e isto totaliza mais de um bilhão de mulheres e meninas!
Este ano o V-Day alcançou a marca 200 países que se inscreveram para participar deste evento que se caracteriza por manifestações pacíficas em passeatas, danças e flash-mob. Este movimento, chamado “One Billion Rising é o início de um novo mundo inflamado por uma nova energia. Não é o fim da luta, mas a escalada na mesma, e mostra que estamos todos prontos para abalar as estruturas a terra e (re)incorporar valores como respeito e dignidade à mais pura representação do Sagrado Feminino - o corpo!
... Tudo isto me lembra uma história indiana. Quando o poderoso Demônio Asura se tornou invencível, os deuses convocaram Durga e deram a ela todas as suas armas. Assim, montada em um tigre, ela partiu para uma batalha na qual se transformaria em Kali e verdadeiramente destruiria o mal. Neste 14 de fevereiro eu escolhi associar Asura com a violência sexual - e eu invocar Durga todas as deusas guerreiras, de todas as latitudes, de todos os nomes, e de todas as formas para que Elas se juntem neste clamor coletivo de proteção às mulheres e meninas, para que parem todo tipo violência sexual! 
Vamos nos unir energeticamente nessa dança e trazer para o inconsciente coletivo uma força a mais, um chamado de proteção, um grito de guerra em defesa desse um bilhão de mulheres e crianças violadas? Eu realmente acredito que nós estaremos fazendo algo importante se pudermos acender uma vela ou um incenso ou bater nossos tambores, e invocar a Deusa, e chamar a Grande Mãe de volta, para que ela nos proteja a todas e nos dê força e nos ajude a levantar a voz e a erguer a alma. Vamos pedir que nossos corações se unam em um grande círculo de fogo e proteção. Vamos cantar, dançar e emanar energia em nossa fogueira virtual, para unir nossas forças e criar um movimento que abale as estruturas de aceitação passiva e silêncio nocivo. 
Neste dia eu vou bater o meu tambor com mais força! E vou cantar para Durga, para Iansã, para Kali, e vou dançar Bear Claw Dance to “to raise a protection around all women and children”. E você, qual aspecto da Deusa você pode invocar? Que Mãe você trará até aqui para proteger e estender a mão a esse um bilhão de vítimas?
(Para aqueles que desejarem conhecer mais sobre este movimento, recomendo os links:
- http://onebillionrising.org
- http://www.vday.org/home
- http://www.ted.com/talks/eve_ensler_embrace_your_inner_girl.html
- http://www.ted.com/talks/eve_ensler_on_happiness_in_body_and_soul.html 
E para aqueles que querem entender como uma intenção concentrada pode alterar concretamente o mundo, eu recomendo a leitura do livro "The Intention Experiment", de Lynne McTaggart )

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Vai Piorar!

Lei fundamental da magia: cuidado com o que você pede, porque pode acabar conseguindo! E eu, que presto muita atenção nesta lei antes de "abrir a minha boca", mesmo mentalmente, para pedir até uma balinha, ainda assim atirei no que vi e acertei no que nem imaginava...

No início do ano participei de um workshop xamânico para a confecção de um Xale Sagrado. No segundo encontro verbalizei um comentário que criou, imediatamente, o compromisso de fazer mais dois Xales, totalizando três. Até aí tudo bem e no mês passado decidi começar o segundo. Ganhei de uma paciente que foi na África um tecido maravilhoso e resolvi fazer dele um Xale para dar de presente a uma tia, que foi um apoio fundamental nos primeiros anos do meu trabalho, e que também é uma curadora. Como estava sentindo uma necessidade de compreender melhor o sentido real da palavra compaixão, resolvi que dedicaria este à Mãe Kwan Yin, que é a Mãe Compaixão por excelência.

Todas estas decisões já haviam sido tomadas quando fui olhar a minha próxima revolução solar e vi que estaria com Peixes no Ascendente. E Peixes é justamente o signo ideal para se trabalhar a compaixão! Peixes é regido por Netuno e eu tenho Netuno Natal na Casa I, fazendo aspecto com vários planetas, incluindo a Lua Natal - portanto, esta revolução solar estaria reforçando uma qualidade natural do meu Mapa. Além isto meu Peixes Natal está Casa V (da expressão criativa e, por ampliação, expressão do Eu) e, para arrematar, Vênus em conjunção com o Ascendente (Vênus com o planeta do amor e o Ascendente como a linha de interaração entre os mundos internos e externos). Juntando tudo no caldeirão, eu já havia concluído que este era mesmo um bom momento para este aprendizado, mas na segunda passada - para fechar de vez a questão - fui levada pela Mãe Divina a participar de um ritual de Hécate que depois percebi que aconteceu no momento exato no qual a conjunção Lua e Vênus transitava pela minha Casa IX (espiritualidade) em Câncer (o signo da Mãe) e faziam um trígono exato com Netuno Natal. Um mínimo de conhecinento de astrologia mostram o tanto que este momento astrológico de minha vida está belo...

... Mas esta beleza toda tem um custo: um aumento exagerado no meu nível de sensibilidade. Percebam que com Netuno em I, Peixes em V e Vênus no Ascendente eu posso dizer que tenho um grau bastante interessante de amorosidade, sensibilidade e compaixão. Mas o que eu pedi para Kwan Yin quando resolvi fazer um Xale com ela foi que ela me ensinasse a fazer com que esta amorosidade e esta sensibilidade não me machucassem tanto em alguns momentos. Isto porque tanto eu quanto meus guias entendemos que existe uma diferença significativa entre compaixão verdadeira e emotividade  inútil. A primeira constrói e alimenta tanto aquele que é beneficiado por ela, quando quem a sente; a segunda apenas leva ao desequilíbrio mental e emocional de quem sente e é de pouca utilidade para quem precisa de ajuda. Isto para mim é muito claro; mas também era e é muito claro que se o meu sistema imunológico fica afetado de forma negativa pelo meu trabalho, isto é indicativo irrefutável de que não estou sentindo compaixão do jeito certo, pois as pesquisas já provam o que os mestres dizem há milênios: ajudar aos outros faz bem a quem ajuda - e não mal! Portanto, por menos perceptível que seja para o paciente, o fato é que eu estou fazendo por ele menos do que poderia se já tivesse aprendido esta lição - e foi a isto que eu me propus...

... há no meu condomínio dois cães de rua e pelo menos um dele foi claramente abandonado na rua depois de já ter tido um dono. Eles são companheiros inseparáveis e é perceptível que um toma conta do outro. Desde que comecei o Xale, vê-los na rua começou a me incomodar e ontem, quando decidi pôr uma fita para eles, pedindo a Kwan Yin que tivesse compaixão de seu abandono, prorrompi num choro compulsivo. Hoje decidi que precisava tomar uma atitude e decidi que vou passar a alimentá-los e dar água pelo menos uma vez ao dia. Na volta para casa, quanto mais ia chegando perto de onde eles estavam, mais emocionada eu ficava e, para meu próprio espanto, me peguei tentando achar um abrigo para eles de uma hora para outra. Depois que dei a ração e cheguei em casa - ainda perplexa com o meu estado - perguntei à minha mentora o porque de eu ter ficado tão "fora da casinha" com uma situação que eu mesma já vivi outras vezes (resgatar cães na rua é mais ou menos um hobby) e a resposta dela veio no estilo que costumo dar a meus pacientes; bem humorada, mas também bastante precisa: "Não desanima não; vai piorar! Você pediu para aprender sobre Compaixão Verdadeira, aquela que recolhe a dor mas não interfere no Destino e nem retira o aprendizado. E não haveria aprendizado numa área que você consegue interferir pouco; tinha que ser em um ponto no qual você ainda está lá atrás na lição." E eu, para não ficar por baixo no bom humor, dei a única resposta viável: "Vixi!, me lasquei!"


domingo, 1 de julho de 2012

Convém Explicar... Durga Outra Vez

Terminei o último post comentando sobre a importância de não nos tornarmos excessivamente pacíficos diante do Mal, sob pena de acabarmos passivos. Mas acho prudente explicar isto aqui um pouco melhor, pois sempre haverá aquele leitor mais apressadinho que poderá julgar que estou endossando a violência - e é justamente o contrário disto! Se não, vejamos...

... dê uma olhada a sua volta, no jornal de hoje por exemplo, e depois vá assistir a um programa sobre o mundo animal. Do ponto de vista de morte e violência, quais são as semelhanças entre um psicopata cruel e uma leoa caçando? E qual a diferença? As semelhanças são a estratégia, o controle "emocional", a "escolha cuidadosa do alvo" e a morte certeira da vítima. A diferença é uma só: a motivação! Enquanto a leoa o faz com o consentimento da Mãe Natureza seguindo o princípio básico de que a vida se alimenta da morte (mesmo que seja de um pé de alface, viu?!), o psicopata o faz para mostrar seu poder, eliminar o 'inimigo' e sentir prazer com esta eliminação. E a motivação é também o que diferencia um ato de vingança de uma atitude protetora, defensiva e/ou restritiva do Mal, seja ele físico, emocional e/ou espiritual. 

Diante de um ataque espiritual, especificamente falando, é justamente a atitude emocional de quem reage que faz a maior diferença. Quando lembramos da história de Durga partindo para a batalha, encontramos ali um modelo bastante adequado para nossas reflexões. Ela o faz não por desejo de vingança ou com ódio no coração: segue um pedido de outros deuses e entra na guerra apenas para restabelecer a ordem do mundo. Em algumas versões do mito, quando Ela se transforma em Kali e se embriaga com o sangue do demônio, faz com que Shiva precise intervir para que Sua Dança frenética e sua "sede de sangue" não destrua tudo o mundo. 

Do ponto de vista da mentalidade ocidental, esta versão pode parecer pouco gentil com minha Mãe Divina, mas é uma representação perfeita para nos mostrar que existe um limite para travarmos uma "batalha" - e que este limite é justamente quando deixamos de agir motivados pela certeza de que estamos apenas colocando as coisas nos seus devidos lugares e passamos a agir motivados pela "paixão cega de vingança". Sei muito bem o quanto é difícil controlar nosso emocional e não cruzar esta tênue linha quando quem está sendo atacado é alguém que amamos ou admiramos. E que justamente esta dificuldade faz com que muitas vezes nos tornemos passivos e acreditemos que apenas vibrando amor conseguiremos consertar tudo. Lamento informar, mas diante do Mal Verdadeiro - assim mesmo, em caixa alta - as coisas caminham de forma bem diferente e as providências precisam ser mais ativas e contundentes. Mas em nenhuma hipótese com envolvimento emocional, sob pena de mudarmos de lado sem percebermos...


sexta-feira, 29 de junho de 2012

Grito de Guerra

Minha linda Mãe Divina, em sua forma de Durga, paramentada para a batalha, vence o demônio Rambha. 



Muito silêncio entre o último post e este, eu sei! Mas desde janeiro me via em um conflito ético que apenas hoje minha comadre (sempre a comadre!) conseguiu me ajudar a resolver: como comentar e contar todas as coisas fortíssimas que andaram acontecendo comigo em termos de magia nos últimos meses e, ainda assim, manter o devido respeito a um pedido explícito de sigilo? Saia justíssima (!) da qual só posso sair parcialmente, ou seja, contando apenas alguns fragmentos e deixando para o leitor a curiosidade e a criatividade necessárias para preencher as lacunas. 


A primeira coisa que preciso dizer é que mesmo sendo uma bruxa solitária e tendo declarado que não tinha a intenção de mudar este meu "status", acabei mudando de idéia e me juntei a um grupo de mulheres - especificamente um grupo de Anciãs. Não foi algo que eu procurei, mas aconteceu como uma espécie de consequencia energética, ou "resposta" que a Deusa deu para a força e a intensidade dos meus rituais - alguns deles bem descritos nos posts do ano passado. Não posso dizer como estas mulheres me acharam (seria tentador dizer que elas estavam entre os quase dois mil acessos deste blog, mas não seria a verdade!), e nem como trabalha esta egrégora, pois há uma advertência explícita para mantermos tudo o que diz respeito a nós apenas entre nós. E isto é tudo o que eu posso e quero dizer a este respeito de forma direta. 


Mas posso dizer que foi graças a esta egrégora da qual participo desde janeiro que consegui forças para auxiliar uma pessoa muito importante para a Mãe Divina - que ficou sob ataque espiritual e temporariamente sem conseguir pedir socorro para o seu próprio grupo. O lado guerreiro de minha amada Durga, de minha amada Kali que não se permite ilusões, de minha Iansã que não aceita covardias e nem ataques espirituais "passivamente", foi lindamente estimulado pela participação em um grupo de anciãs intimoratas. Não que eu tivesse invocado minhas irmãs ou colocado para elas a questão pessoal de outra mulher; mas o simples fato de me saber conectada a um grupo de Guerreiras me fortaleceu emocionalmente para tomar as decisões que tomei e bancar o que banquei. E quem eu realmente invoquei e coloquei para fazer aquilo que eu não tinha condições de fazer sozinha foi um outro grupo - este de espíritos -que desde eras findas me acompanha e tenta (Ah!, como tenta!) me ajudar a evoluir. Banhados na sabedoria dos tempos e profundos conhecedores da Alta Magia, eles são meus mestres, meus guias e meus instrutores. E estão a disposição de quem com eles se sintonizar para pedir ajuda.




... Esta história toda me fez refletir sobre a importância de saber dar um belo e sonoro grito de guerra e partir com unhas e dentes para defender algo ou alguém. Sim, há muito espaço no mundo para a Paz e a Harmonia... mas há mais espaço ainda para a Guerra, principalmente em um planeta que está passando por um processo de reformulação e parece que teve todas as portas dos infernos abertas! Quando mais o tempo passa, mais fica claro que existem muitas almas realmente daninhas encarnadas passeando daqui para ali fazendo gato e sapato da Mãe Terra. Mas eu tenho a sensação, no consultório, que para cada 'espírito de porco' encarnado, existe pelo menos meia dúzia de desencarnados avidamente interessados em colocar o Planeta fora dos trilhos de vez... para a grande perplexidade de seres que aqui estão justamente para tentar ajustar o que foi estragado...


... as mulheres - e também os homens que podem ser chamados de Guerreiros de Luz - têm algumas vezes a tendência de achar que as forças negativas podem ser combatidas apenas com Amor e Paz. Mas esta é uma estratégia perfeita quando o que nos 'ataca' é apenas uma vítima de algum desequilíbrio emocional. Alguém que em sua confusão mental direciona as projeções do próprio inconsciente sobre nós pode ser curado com Hoponopono, Reiki, Passes Magnéticos, Rituais de purificação ou qualquer outra técnica luminosa que o reequilibre. Mas estas técnicas são completamente inúteis quando o que vem em nossa direção é um ser enfurecido de ódio, um "Barba Azul" personificado, um mago negro empedernido ou - como no caso que testemunhei estes dias - um grupo de espíritos maus e mesquinhos e bem organizados a quem pouco interessa perder espaço para o Sagrado Feminino. Quando quem está do outro lado é um "demônio", manda a prudência que nos apossemos de todas  as nossas armas e partamos preparadas para 'cortar cabeças e beber o sangue maldito' - exatamente como Durga/Kali no campo de batalha. 


... Em um nível de absoluta Transcendência, Bem/Mal e Bom/Mau se diluem e deixam de existir. Na prática é como eu digo aos meus pacientes: ou eles acreditam em um Ser Superior ou não - sem meio-termo. E por "sem-meio-termo" quero dizer que em um nível profundo precisamos ter a humildade de aceitar que, por menos que nós compreendamos, até mesmo aquilo que consideramos ser ruim e destrutivo vem da mesma Fonte do bom e construtivo. Mas também precisamos ter a humildade de aceitar que nós ainda não atingimos a transcendência e precisamos ser honestos com nosso verdadeiro estágio evolutivo. Na guerra entre o Bem e o Mal, tomar posição e empunhar armas é fundamental, pois se formos pacíficos demais, delicados demais, conciliadores demais com os "demônios" acabaremos como simples mártires de uma batalha perdida - e nada mais.



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Resgate da Alma

No xamanismo existe um fenômeno chamado 'a perda da alma' que se dá como decorrência de um grande trauma. Falando de forma bem resumida, segundo os xamãs nos momentos de intenso sofrimento emocional a alma pode separar-se do corpo e as consequências disto seriam, dentre outras, uma vida sem sentido, uma vida meramente 'de corpo presente"... Como psicanalista posso dizer que concordo com a existência deste fenômeno, mas nunca - até esta Lua Negra - havia me passado pela mente que não somente pessoas podem 'perder a alma', mas também nacões inteiras! Explicando o causo:

Estava eu tramando um xale no tear para as 13 Mães Ancestrais e fazendo preces e invocando sua proteção quando comecei a sentir seus espíritos a meu redor. Comecei a conversar com elas em uma língua da mente, que não consigo descrever. Falamos de muitas coisas e eu comentei sobre as máscaras da Carolyn (outra hora falo desta história) e de como é forte um trabalho de confecção de máscaras para ancestrais que  viveram em um corpo físico e, ainda, de como me sentia tão exilada por estar tão longe de onde vêm as tradições que melhor se encaixam comigo, como meu jeito de ser e pensar... Nesta hora elas riram - como sempre acabam rindo de mim -, embaralharam um tanto dos fios do tear e me mandaram desmanchar um monte... lá fui eu, refazer o passado... não!, a trama, o urdume, a alma. Ficando só no que a "ciência" comprova, vamos aos fatos: vivemos num país que tem quase 800 sítios arqueológicos catalogados (fora os que não foram encontrados ou já foram destruídos), alguns dos quais com datações de mais de 12 mil anos... um deles bem pertinho daqui, em Unaí... e eu olhei para o quintal, e me lembrei de mim mesma cantando mantras no fundo da gruta de Tamboril, quando ela ainda era aberta ao público e um bando de jovens protegidos apenas pelo Amor da Mãe Divina podia descer seus 4 km sem qualquer equipamento de segurança e voltar completamente ileso seis horas depois... e olhei de novo para o quintal... e vi muitas almas, muitas muitas almas de outras vidas transitando de lá para cá, caçando pequenos animais, comendo frutos, dormindo em grutas que milhares de anos cobriram de poeira e soterraram... ou não.  E eu perguntei às Mães: "vocês também estavam aqui?, entre estas mulheres?, entre esses homens? ensinando tudo e guiando tudo?"... risinhos abafados e uma pergunta de resposta entre solene e divertida: "Aonde nós não estivemos?!"

... lá fui eu... ajoelhar na grama, pôr a testa no chão... recompor um pouquinho da minha alma brasileira que, afinal, é sempre e a mesma Alma Ancestral!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Cordão de Agradecimento

Gives Praise (Dar Graças)


Obrigada, Mãe, por me ensinar
A elevar meu coração em agradecimento
Inundando meu espírito de alegria
Pelas bênçãos do Caminho da Beleza.

Você me ensinou como cantar,
Como celebrar, dançar e tocar tambor,
E como mostrar minha gratidão
Pela abundância que ainda virá.

Você me mostrou a magia da
Transformação da mente e do coração
Uma atitude que molda em sabedoria
A celebração do que a vida traz.

Eu canto a verdade do agradecimento
Quando dou graças ao Avô Sol
E envio meu amor à Mãe Terra
Pela força de vida com que nos fizeram.
(tradução livre do poema Gives Praise de Jamie Sams)

Claro ficou "Dar Graças" é a tônica desta lunação de dezembro que neste ano acontece em Gêmeos e, no meu mapa, na casa VIII. No fim de semana passado uma pessoa que conheço comentou que ainda não havia conseguido entender como elaboro meus rituais. Vou tentar, portanto, ser um pouco mais específica, pois não tenho problema algum em 'divulgar' meus conhecimentos ou a forma como faço as coisas. Então, vamos lá:

A primeira coisa que sempre fiz foi observar em qual signo a lua está transitando, seja na Lua Cheia, seja na Nova. Na astrologia, dizemos que um astro adquire o 'tom' do signo no qual transita, como se fosse um tecido que você mergulhasse em uma bacia com água colorida. Em termos práticos, Gêmeos é o signo da comunicação, do intercâmbio, da interação verbal e mental. Tem caracteres complementares, como se fosse uma 'via de mão dupla', que podem se tornar ambíguos e conflituosos. Regido por Mercúrio, tem o potencial alquímico, a capacidade de entrar e sair de 'quaisquer mundos', de divulgar informações, de trazer 'coisas de um lugar para o outro'; mas também pode ser trapaceiro e enganador - e, no tarô, pode ser associado ao Mago, para quem também segue esta linha de estudos. Portanto, a Lua aqui ganha as 'cores' destes dois elementos, e eu decido escolher dar ênfase em seu tom comunicativo e mental, e em sua capacidade de transmutação alquímica (quero ressaltar que estas explicações são quase caricatas de tão reduzidas e, portanto, sugiro que quem de fato se interessar por Astrologia, que a estude de forma aprofundada).

Visto o signo, vou buscar no meu Mapa Natal a Casa na qual a Lua estará durante esta lunação: Casa VIII. Esta é a casa na qual lidamos com 'os valores' do outro, a casa na qual interagimos intimamente com aquilo que existe na vida alheia, na qual trazemos 'o outro para nosso universo interno'. Uma maneira fácil de entender esta casa é uma brincadeira que a astrologia tradicional faz: diz-se que 'casamos' na Casa VII e 'convivemos/coabitamos' na Casa VIII. Por isto, esta é também a Casa da sexualidade, da Kundaline e, obviamente, da Magia profunda, pois a Kundaline nos dá a capacidade de utilizar nossa vontade para modificar o mundo a nosso redor. Esta Casa é, portanto, a Casa Natural de Escorpião, que traz profundidade emocional - e, já disse no post da Magia Inconsciente, que não há magia sem motivação emocional. Pela associação com Escorpião, esta Casa é regida por Marte e Plutão, planetas com a capacidade de transformar, transmutar e moldar a realidade externa de acordo com a vontade ou necessidade. Haveria outras associações igualmente importantes para se fazer com VIII/Escorpião, mas escolho trabalhar a Magia por querer reforçar a regência de Mercúrio sobre o signo de Gêmeos.

O próximo passo é buscar os aspectos astrológicos do meu Mapa que quero reforçar, trabalhando especificamente com a astrologia horária. Eu poderia escolher, por exemplo, começar o ritual exatamente quando a Lua em trânsito fizesse aspecto com minha Lua Natal, ou com meu Mercúrio Natal ou com Marte Natal (esotericamente considero Marte como 'a fé que transpõe montanhas'). Mas também posso escolher trabalhar de forma 'mágica' durante todo o trânsito da Lua pela casa específica, realizando uma sequência de atos mágicos sem muita precisão em termos horários e escolhendo este apenas por conveniência temporal. Nesta linha, posso ficar dois dias com o que na Umbanda chamamos de 'gira aberta'. (E foi assim que escolhi trabalhar este mês.)

Em sequência, vem a escolha do aspecto da Mãe Divina que melhor represente tudo o que defini ser necessário trabalhar naquela lunação específica. E como, desde agosto, tenho trabalhado o Clã das 13 Ancestrais, agrego ao ritual o atributo que cada uma delas me traz. Depois é só jogar todas essas informações no Caldeirão, agregar a criatividade, escolher as músicas e o 'aspecto' do altar e pronto! Parece complicado, mas é muito, muito fácil. E eu comecei no final da noite de ontem, quando a Lua estava prestes a entrar em Gêmeos. Num post anterior contei que para fazer as maracas para Pachamama, desmanchei dois cordões de cristal: um de quartzo rosa e outro, branco. Usei poucas contas e guardei o resto, sabedora que um dia iria utilizar aquilo em outra magia. E ontem, quando estava terminando de ler o conto da Jamie sobre Gives Praise, tive a 'inspiração' de utilizar aquelas contas na confecção de um colar de agradecimentos à Mãe Divina.

Foi decididamente muito forte começar por ali. Depois de agradecer pelo 'óbvio', como por minha saúde, pela saúde daqueles que amo e coisas assim, me deparei com um pote ainda cheio de contas e comecei a agradecer por coisas para as quais nunca havia atentado serem dignas de graças - mas que o ritual me levou a perceber que são sim, são mesmo!, pois não são acessíveis a todos como, por exemplo, poder corrigir minha visão com um par de óculos ou meus sobrinhos poderem frequentar uma boa escola. Esta foi a 'essência' desta parte dos meus agradecimentos: descobrir tudo aquilo que costumo ter por 'líquido e certo' e avaliar se realmente é assim. Também agradeci pelas coisas 'ruins' de minha existência e na minha Sombra, algo que sempre faço, pois me ensinaram e me ensinam mais sobre mim mesma a cada dia. 

... aqueles que têm 'olhos para ver' já conseguiram perceber que este tom 'didático' do post tem tudo a ver com Gêmeos/Mercúrio... nem preciso comentar!

... espero ter dado uma boa visão de como são elaborados estes rituais 'solitários'. E sou grata por poder fazer isto! 

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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Lua Nova: a Yaga, o Barba-Azul e o Pânico da Amiga

Seguindo a linha da "Mulher Que Caminha com Altivez" (post 10/11/11), escolhi trabalhar um trânsito lunar que ativava aspectos tanto de minha Casa XII (inconsciente, grosso modo) e Casa II (valores, idem). Tendo a Baba Yaga como 'filtro', o mote era repassar os valores que ainda prejudicam a expressão de meu Self Selvagem e reativar no inconsciente aquilo que algum dia possa ter me ajudado a estar mais próxima deste aspecto, e que possa ter ficado desvitalizado nos últimos tempos. Lembrando sempre que a Lua Nova é uma boa lua para limpeza (repassar valores Casa II) e também para semeadura (replantar aspectos Casa XII), estava eu elaborando justamente os meus propósitos mais claramente quando 'uma coleção' de sincronicidades virou um pouquinho o rumo da conversa. Mas, antes de explicar os causos, algumas digressões.

A primeira delas diz respeito ao fato de que, infelizmente, ainda nos dias de hoje, muitas pessoas desconhecem a força e o valor dos arquétipos do inconsciente coletivo e de como estes afetam de formas bastante objetivas a vida diária de cada um de nós. A ignorância, ao contrário do que se imagina, não imuniza o indivíduo do efeito pernicioso de um arquétipo degenerado pelo desuso ou negativo per si. Uma Baba Yaga enfurecida pode perfeitamente bem, como exemplo de um arquétipo bi-polar capaz de degenerar, 'abocanhar aos pedaços' uma mulher desavisada que ouse desafiá-la mantendo uma postura de 'boa-demais' ou a 'ingenuidade patológica' que ignora todas as exortações da intuição - visto que isto é o equivalente a relegar a Mulher Selvagem à periferia da psique. Em termos práticos a Yaga pode fazer com que ela seja sugada e exaurida até por aqueles que a amam ou, pior!, se envolva sistematicamente com pessoas que apenas lhe ativam mais e mais o arquétipo do Barba Azul - este sim, maligno por si mesmo - até que ela, a mulher, saia finalmente se arrastando pela vida à procura da Velha.

O Barba Azul, por seu turno, é um predador da psique, presente tanto na psique feminina quanto masculina. Seu objetivo é destruir a vida criativa, onde quer que ela aconteça. Sendo endógeno a todos nós, ele pode ser ativado tanto por forças internas quanto externas; ou seja, podemos tanto tê-lo atuando de dentro para fora quanto de fora para dentro, num perfeito movimento de sincronia. E, ainda, podemos acabar servido de 'canais' para ele sem que percebamos, trazendo para aqueles que nos são mais próximos a  força destrutiva que tanto nos apavora.  Em algum outro momento posso até escrever mais sobre estes dois, mas por agora sugiro que quem ainda não se familiarizou com o trabalho de Clarissa Estés e seu brilhante Mulheres que Correm com os Lobos (mas não só este) deveria procurar fazê-lo o mais brevemente possível. Estés foi de uma felicidade ímpar ao conseguir traduzir de forma perfeita o verdadeiro sentido por trás de alguns contos de fada. Seus livros têm todos a propriedade quase mágica de se transformarem completamente a cada releitura que fazemos e ainda não tive uma única paciente que depois de conseguir 'vencer' a primeira leitura (normalmente à base de chicotada - rss), não reportasse um verdadeiro deslumbre nas leituras subsequentes!

Outra digressão importante é um desdobramento do último parágrafo: todos nós estamos todo tempo canalizando a energia de arquétipos e, portanto, é de bom alvitre que observemos muito detalhadamente quais energias estamos deixando fluir através de nós para que possamos fazê-lo exatamente de acordo com nossa vontade, e não de forma inconsciente. E aqui começa a contação dos causos que levaram a 'ligeira' modificação nos rumos do meu ritual...

O primeiro destes casos diz respeito a três homens feridos e que, devido a isto, para usar a linguagem do Robert Bly (João de Ferro), permanecem com a 'chave debaixo do travesseiro da mãe'. Em sua vida adulta, eles simplesmente não têm conseguido seguir adiante e se permitir realmente adentrar nos relacionamentos afetivos. Não, eles não são meus pacientes - se o fossem, já teriam 'tomado jeito'. Eram, até alguns dias atrás, os companheiros de três de minhas pacientes. Mesmo amando profundamente, o que ficou muito claro para mim, para eles próprios e mesmo para as pacientes, eles acabaram por perder as relações e deixaram escorrer pelos dedos essas mulheres decididamente maravilhosas que preferiram caminhar sozinhas a viver com migalhas de amor. Para mim foi de cortar o coração ver as relações se esvaírem, pois conheço perfeitamente bem a psique masculina para saber que eles simplesmente não conseguiram - ainda que desejassem. Sei bem a diferença entre um homem 'sonso', um homem 'mau' e um 'homem temporária ou permanentemente incapacitado' - e consigo mostrar isto para as pacientes. Também sou absolutamente a favor de tentarmos tudo até que de fato não haja mesmo mais o que fazer, pois como fica bem claro no conto Mulher Esqueleto, nossa cultura tem a tendência de sair correndo rápido demais e fugir descaradamente até do menor desafio que uma relação nos proponha. Mas quando atingimos realmente o fim, se permanecemos na relação, ela acaba nos fazendo mal, acaba degenerando para uma negatividade que nos contamina e contamina o(a) companheiro(a) e passamos a fazer involuntariamente o papel de Barba Azul para quem amamos, acusando e ferindo o outro de forma surda ou aberta com cobranças e censuras de toda sorte que apenas minam a auto-estima, a auto-confiança e a capacidade do outro de se refazer depois de uma queda.

O outro caso, contudo, tem um tom bem mais sombrio e muito mais pernicioso que os anteriores: uma paciente que, sob a tirania de seu Barba Azul intrapsíquico, se envolveu com um homem que não teve, tem ou teria qualquer problema em 'materializar' o Barba Azul fisicamente para ela. Durante a relação ele, que é casado, lhe disse coisas como 'eu jamais me casaria com você', 'você é burra', ' você não serve nem para ser minha amiga'... mas lhe era útil para sexo, para servir de acompanhante e outras coisas que ele achasse interessante na hora. E por mais que ela tentasse romper com ele, sob a fascinação desta poderosa força auto-detrutiva do Predador, conjurada e conjugada à força destrutiva da própria relação, acabava se submetendo a todas as vontades do amante, quaisquer que fossem. MAS, ao contrário do que muitos poderiam pensar, de burra ou ignorante esta mulher não tem nada. Jovem, bonita, conquistou por mérito intelectual e profissional um cobiçado cargo na empresa para a qual trabalha. E esta paciente tem um outro atributo que deixaria qualquer um que a conhecesse completamente sem entender como não saiu ainda desta relação: ela é uma bruxa nata, uma dessas mulheres que num passado qualquer mergulhou fundo na magia e voltou a esta encarnação com um sólido conhecimento que agora lhe chega sob a via intuitiva. Muitas vezes quando olho para ela, me vejo há décadas atrás dizendo e fazendo coisas sem ter a menor idéia de como 'sabia' daquilo... e, para ser bem honesta, às vezes a sinto mais Bruxa do que eu mesma fui, sou ou serei um dia. Ela é de arrepiar!!!

... Continuando o causo da Lua Nova, na terça estava eu apanhando do inglês e tentando entender o livro Sacred House, da Carolyn Hillyer, quando esbarrei no seguinte feitiço:

"One who is without courage
will be granted a refuge
where all is absolved
by the writer of vows
and compelled to journey
until the carved scavenger
shall be torn apart
shall be torn in two."

Entendo 'carved scavenger' como o próprio Barba Azul e na mesma hora me lembrei tanto de uma amiga-bruxa que tomou contato há algumas semanas com o fato de ter estado sob domínio destas forças e, portanto, estava precisando de coragem para se perdoar e combater o negativo da forma adequada; quanto da paciente bruxa - e acabei mandando a transcrição do feitiço para ambas. No decorrer da semana, acabamos 'evoluindo' para sincronizarmos nossos rituais. Funciona assim: estaríamos as três invocando a Yaga para nos ajudar a recuperar a força da Mulher Selvagem e, a partir dela, criar um círculo de proteção forte o suficiente para manter o Predador longe. As músicas escolhidas foram da Carolyn, claro, com ênfase em 'Dança da Garra da Ursa' (post 'Não Resisti') e 'Give Me Wild', uma música que, vamos combinar?!, é a cara da Baba Yaga e perfeita para invocar a Mulher Selvagem. Mesmo meu inglês macarrônico é capaz de ler isto... rss.:


Storm beast rides in the belly of the night
Give me wild give me wild
Give me wild give me wild

Storm  beast curled on the wing of the wind
Give me wild give me wild
Give me wild give me wild

Waters amber waters crashing waters stinging rains
Wash me through wash me through
Give me wild give me wild

Mist yawning mist spinning mist trailing spirits
Wrap me round wrap me round
Give me wild give me wild

Clouds rolling clouds darkness clouds heavy thunder
Press me close press me close
Give me wild give me wild

Earth twisting earth heaving earth swaying belly
Rock me hard rock me hard
Give me wild give me wild

Light flashing light piercing light bolting horses
Fire my soul fire my soul
Give me wild give me wild

Trees beating trees madness trees leaping shadows
Free my dance free my dance
Give me wild give me wild

Ontem, portanto, fizemos o ritual MAS, no meio do caminho, ao invés de trabalhar meu próprio mapa natal, como havia planejado, me vi invocando a força da Yaga e da Mulher Selvagem para TODAS as minhas pacientes! Já tinha deixado o altar montado antes de ir para o consultório - o que é o mesmo que dizer que já tinha passado o dia mais pra lá do que pra cá - e, portanto, foi bastante fácil entrar em transe, chegar à casa da Yaga, perfilar as pacientes diante dela e fazer uma invocação de força que me arrepiava da cabeça aos pés. Pedi a Ela que acordasse a intuição dentro daquelas mulheres, que as chamasse à consciência de forma positiva, que as fizesse despertar para a necessidade de apurar olhos e ver com a alma; de aguçar os ouvidos e ouvir com o coração; que lhes ensinasse a separar o milho bom do milho mofado e a tirar o melhor do negativo (sementes de papoula do estrume). Que elas aprendessem a sentir o cheiro do Predador à distância e mantivessem especial cuidado com ele; que jamais se permitissem sentir menores ou inferiores a ninguém; que pudessem, daquele dia em diante, olhar com dignidade e cabeça erguia nos olhos de suas irmãs, de seus parceiros e, claro, daqueles que lhes quisessem algum mal. Pedi proteção e coragem e, mais do que pedir, eu exigi que Ela assim procedesse, baseada na autoridade de saber que dedico meus dias e minha vida para recolocar outras mulheres no Caminho e, portanto, sinto com direito de fazer exigências de colaboração por parte da Yaga e de quem quer que seja. 

... Terminado o ritual, fui dormir... com certa dificuldade, óbvio, devido à quantidade de energia que mexi. Mas dormi bem, ainda que tivesse que madrugar por causa do jardineiro...

... Pouco depois das nove uma outra amiga, que é minha vizinha, me ligou para contar que sonhou que via minha casa sendo invadida com três ou quatro homens e que me ouvia gritar por socorro; mas se sentia impotente para me ajudar e acordou em pânico... "hummm, pensei com meus botões, andei 'cutucando' alguns 'vespeiros'... sem problemas, pois como tudo que faço por minhas pacientes: para cada um que queira me derrubar, tenho dois que estão para me ajudar! Que assim seja; assim é!"


terça-feira, 15 de novembro de 2011

'Isso' é um Problema! E Falar 'Daquilo' é Outro Problema!

Ontem minha comadre comentou que ao ler os posts deste blog fica impressionada com o quanto eu me observo e me analiso. Minha primeira reação foi começar a rir, pois para mim a capacidade de se auto-observar é algo inerente ao ser humano e quando ela - ou qualquer um - me diz isto, vem na minha mente um desenho animado de um peixinho dizendo para o outro: "Nossa, como você consegue ficar tanto tempo debaixo d'água?!" Brincadeiras à parte, sei que é um hábito que a cultura não alimenta e, por isto, parece algo tão misterioso. E sei também que qualquer coisa que nunca se tenha feito ou que não se faça freqüentemente ganha ares de 'mistério' facilmente. Além disto, nem posso rir muito dos outros, pois, desde domingo, estou eu lidando justamente com algo que é fácil para a maior parte das pessoas mas que para mim é um grande 'problema'. Como costumo brincar no consultório, não dá para o macaco sentar em cima do rabo para falar do dos outros... Se não, vejamos:

No post "Lua Cheia de Novembro" comento no final que a Mãe Divina, através do Oráculo, me incitava a trabalhar a Casa VII procurando me permitir receber ajuda e 'delegar' algumas coisas aos outros. Se Ela tivesse me pedido para atravessar o oceano caminhando talvez fosse mais fácil para mim!!! Eu tenho uma dificuldade fora do normal de ser apenas receptora, em qualquer circunstância. Mas consigo, sob controle, manter a pose e não me meter facilmente aonde não sou chamada. Do ponto de vista exterior, isto costuma bastar; mas do ponto de vista interno é sempre uma queda-de-braço com meu impulso de ajudar, contribuir, colaborar. Como analista sei que se por um lado são estes impulsos que tornam os grupos solidários e sólidos, também sei que individualmente é uma porta aberta para a sombra do 'faz-tudo, sabe-tudo, pode-tudo'. E, também como analista, sei que essa mal-disfarçada Superwoman é um convite para o Self me tacar uma lasca de kriptonita bem no meio da testa!

Curiosamente é mais fácil quando vejo que a questão não tem a ver com as 'dinâmicas de grupo', mas com os processos individuais. Sei perfeitamente bem que quando alguém está sofrendo, aquele sofrimento está servindo a algum propósito que me foge à compreensão e, por isto mesmo, deve ficar fora da minha alçada até que a pessoa me peça ajuda. Mas quando se trata de sentar o traseiro numa almofada, relaxar e apenas receber alguma coisa... ai, ai. Aí lascou-se. Some-se a isto a minha visceral dificuldade de ser 'mulherzinha' e tiro zero de vez! Antes que eu mesma pisque o olho, já estou pedindo licença para acrescentar alguma coisa, metendo a mão num processo que não fui chamada ou carregando tantas sacolas de supermercado quanto os homens presentes...

... sei lá, estou há tantos anos fazendo tudo por mim mesma que acho que sou capaz de ficar vermelha de vergonha - tipo assim: como um pimentão! - se alguém resolver carregar alguma coisa para mim. Me sinto como se estivesse fazendo 'corpo mole'. Note que o problema não seria problema se eu me comportasse de forma 'igualitária'. Contudo, o que o Oráculo quis dizer foi a mesma coisa que ouvi de todos os meus amigos, todos os meus familiares e também todos os homens que passaram pela minha vida: eu não deixo 'espaço' para o outro se sentir necessário na minha vida. Eu consigo entender o que eles me dizem. Mas não consigo explicar que, principalmente quando se trata de minha própria vida, 'não consigo não agir primeiro e perguntar depois'. Ainda há muito trabalho a fazer... e talvez eu devesse pedir ajuda (?! - rss).

... Mas nem tudo foi puxão de orelha neste fim de semana. Para equilibrar este fiasco, aconteceu tanto na meditação do plenilúnio, quanto no final do workshop do tambor, um fenômeno que tem se tornado cada vez mais freqüente desde o ritual citado no post Terra e Espiritualidade: ser invadida por uma onda de prazer que inunda todas as células do meu corpo. Se dosassem minha serotonina, apontaria uma 'overdose'! Eu ainda não descobri exatamente como faço isto, por isto fica muito difícil explicar. Só posso dizer que... que... nem sei o quê! Deixa eu tentar de novo: sabe quando se está próximo de atingir um orgasmo? Mas no orgasmo o prazer é genital, certo? Neste caso o prazer é no corpo inteiro: da pontinha do pé até o último fio de cabelo. Literalmente minhas células pulsam... Não é um 'gozo' - é melhor que isto, exatamente por ser energizante! Consegui me explicar? Espero que sim: por enquanto é o máximo que consigo.

domingo, 13 de novembro de 2011

Não resisti!

Esta música da Carolyn Hillyer não sai da minha cabeça desde que este CD chegou (Ice). Quando vocês lerem vão entender a metade do porquê... a outra metade fica por conta do poder sonoro da música mesmo - dá vontade de sair pulando, cantando e batendo o tambor!!!



DANÇA DA GARRA DA URSA

Mulheres estão invocando na direção da floresta da Ursa,
pedindo que as proteja.
Elas sussurram para seus trambores
E cantam as palavras frias
dadas pelas mães de suas mães
E recriam o mundo com sua música.
Todos os dias elas invocam a Ursa,
Todas as noites elas invocam a Ursa,
Ela vira? Ela virá? Ela virá?

Elas torcem seus cabelos úmidos
Em uma trança apertada, na qual usam
Empedrados ossos brancos de prender o cabelo,
Empedrados ossos azuis de prender o cabelo
Dados por irmãs de suas irmãs
E elas criam uma dança
De equilíbrio perfeito
Todos os dias elas invocam a Ursa,
Todas as noites elas invocam a Ursa,
Ela virá? Ela virá? Ela virá?

Elas cruzam os campos nevados
Por onde o gelo azul se derrama
E aonde encontram a liberdade de espírito
Que irão trazer de volta
Para dar as filhas de suas filhas.
E elas soltam as asas que
Existem dentro do coração da mulher.
Todos os dias elas invocam a Ursa,
Todas as noites elas invocam a Ursa,
Ela virá? Ela virá? Ela virá?

Ao amanhecer o som de um rugido escuro ecoa
Vindo dos penhascos de gelo.
Elas ouvem como o som se aproxima.
Existe um espírito feroz próximo ao acampamento,
Mas não é um urso da floresta.
Tão forte foi a magia que as mulheres fizeram que chamaram uma 
Ursa do gelo
Poderosa e bruta
É seu poder terrível que responde à canção
E as envolve com sua garra
Todos os dias elas invocam a Ursa,
Todas as noites elas invocam a Ursa,
Ela virá? Ela virá? Ela virá?

A Ursa do Gelo fará a jornada pela planície alta
Quando as mulheres cantarem a Canção da Garra da Ursa.
É ela quem as protege, agora e sempre:
Lembre-se disto caso pense em fazer algum mal a uma mulher.


sábado, 12 de novembro de 2011

Pois é...

Às vezes sinto como se estivesse caminhando pela trama de um tecido, pelos fios de uma malha. Uma coisa puxando a outra, um elemento intrinsecamente conectado a outro. Conscientemente sei que é assim: mas note que eu disse que 'às vezes eu sinto' - e isto é diferente de saber. Quando se 'sabe' algo, têm-se uma informação que, apenas depois de bastante digerida e assimilada pela alma, poderá vir a se transformar em conhecimento. Este, por seu turno, engloba pensamento e sentimento numa única esfera: e quando algo chega neste nível, podemos realmente dizer que compreendemos este algo.

Pois bem, refazendo a mesma frase do início: às vezes me aproximo da verdadeira compreensão de que minha vida não é feita de uma sucessão de atos isolados por uma linha espaço-temporal, mas de um conjunto holográfico de atos que compõem um existir. E, nestes últimos meses, tenho percebido este holograma de uma forma bem mais concreta que em qualquer outro período de minha vida.

Olhando em retrospecto, na última semana de outubro completou-se um ano da entrada do Cristal da Anja (post 'São Camilo...") na minha vida; e vejo claramente o quanto mudei neste último ano. De forma às vezes sutil, às vezes ostensiva, a influência deste Templo Dévico sobre mim é evidente de várias maneiras e em várias áreas; mas indubitavelmente foi na Magia o seu maior impacto. Sem muito planejamento consciente, muitas vezes apenas seguindo um impulso, fui agregando ao longo deste ano outras abordagens energéticas que se somaram a tudo que eu já utilizava - e que convergiram de formas inesperadas e, muitas vezes, curiosas.

Hoje, por exemplo, eu estava em uma sala com outras sete pessoas, participando de um workshop sobre tambor e, no fundo da sala, o livro 'Deusas da Galeria Celestial', de Romio Shrestha, estava em um cavalete, aberto na página da Tara Verde! (Post anterior - aliás achei a idéia tão interessante que já copiei, pois o meu ficava em cima de um móvel.) Quem leu o post 'O Tambor' viu ali que minha conexão mais forte com este instrumento de poder começou com as músicas da Carolyn Hillyerr. Eu obviamente já tinha um tambor que veio de uma xamã peruana e foi feito na cabaça; mas só o tocava em ocasiões muito especiais. Contudo, a Carolyn reverberou tão fundo na minha alma que mandei vir do outro lado do Atlântico um instrumento que tenho tocado com freqüência, ora acompanhando as músicas dela, ora de forma totalmente intuitiva. E isto é, honestamente, a coisa mais forte para mim. Contudo, ainda assim resolvi participar deste workshop, pois como as 13 Xamãs estão do lado de cá do oceano, quis aprender os chamados toques tradicionais do xamanismo norte-americano e ver quais são as semelhanças e diferenças em relação ao que já tenho feito (sempre lembrando que a força maior de uma magia, qualquer que seja, é aquela que vem pura do coração - e isto pode ou não estar de acordo com a tradição).  Portanto, sob certos aspectos, minha presença ali não passava de curiosidade científica... pelo menos era o que minha consciência imaginava. Mas, como tem acontecido nos últimos meses, o Inesperado sempre põe uma vírgula aonde eu achava que viria um ponto.

Antes de qualquer coisa, iríamos ser conduzidos em uma visualização cujo propósito era nos colocar em contato com o chamado animal de poder (algo que desde o primeiro post deste blog me intriga profundamente e até me traz um certo receio pelo grau de responsabilidade que gera). Ô ow!, eu tinha posto este 'assunto' de lado, loiramente acreditando que a ignorância seria a melhor alternativa... e tinha conscientemente passado por cima da informação de que esta 'busca' também fazia parte da proposta do workshop... mas, como já estava lá (e não dava para sair correndo!), entrei de coração na visualização, procurando me manter isenta de expectativas, intenções e, claro!, receios.

Depois do relaxamento inicial, que conseguiu me desconectar do barulho urbano, o comando nos mandava para o que se chama 'lugar de poder', e aqui a coisa já ficou interessante, pois fui parar exatamente no mesmo lugar que começou a 'viagem' do post 'De Volta para Casa'. Assim que 'pus os pés' lá, antes de qualquer comando ou chamado, praticamente antes mesmo de eu acabar de chegar e contemplar a paisagem, ouvi o pio de uma Águia ecoando pelo vale. Arrepiante! Na condução da visualização deveríamos entrar numa caverna e encontrar ali o guardião de todos os animais de poder, que iria nos dar permissão para encontrar o nosso na saída da caverna... eu entrei, o pio da Águia me acompanhou e, quando saí, lá estava ela, majestosa em sua força... quando tudo terminou, o som continuou reverberando dentro de mim e, ao chegar em casa, comecei uma pesquisa na internet justamente para confirmar se aquele pio era mesmo de uma Águia. Não demorou para achar um vídeo que começa exatamente com o mesmo pio - e meu coração pulou no peito, como se tomado de uma emoção totalmente desconhecida para mim, algo que vou levar dias para entender...

... Eu estaria faltando com a verdade se não contasse que quando voltei à consciência duvidei de mim mesma. Já disse inúmeras vezes que minha atitude inicial é sempre submeter qualquer coisa que acontece ao escrutínio da consciência e apenas quando suportados todos os testes lógicos e racionais é que afirmo que algo é como parece ser. E eu duvidei simplesmente porque a primeira coisa que me veio à mente quando 'voltei' foi o encontro com o Xamã do Supermercado. Certo que a meu 'favor' existia o fato de que nestes dias eu estava trabalhando uma música de proteção da Carolyn que invoca uma Ursa Branca e seria mais fácil minha consciência 'torcer' a visão para algo no qual eu que estava ligada minutos antes de chegar no workshop - e não para um episódio que relatei em 12 de agosto. Mas, por hábito ou vício,  coloquei a questão em suspenso assim mesmo: nem sim, nem não, aguardemos os fatos...

... nem precisei aguardar tanto assim: na saía, na calçada de uma das avenidas principais da cidade, com árvores no canteiro central, mas cercada de prédios por todos os lados, uma pena! Sim, uma pena, a quinze passos da saída do workshop. Não era de Águia, obviamente!, mas isto não me impediu de abaixar humildemente, recolhê-la e trazê-la para casa. Está ali no altar... agora me cabe estudar sobre a Águia.