sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O Eruexim de Iansã e a Preta-Velha que Tinha Meu RG

Há tantas histórias em minha mente. Causos deste e do outro mundo - principalmente do outro mundo - que gostaria de poder compartilhar, mas que guardo comigo, pois pertencem ao ponto aonde a trajetória de outros cruza com a minha. E se, da minha parte, poderia falar abertamente - em termos, pois tenho o ranço de já ter "p-assado" na Inquisição, como contei no post "Cidadã da Terra", e dizer que eu sou 'reservada' é pouco! -, falar do outro seria trair sua confiança. Mas aqui e ali consigo extrair de uma história todos os elementos referentes a outra pessoa, deixando apenas a parte que me cabe e posso, então, comentar com uns poucos. E duas dessas histórias me alegram muito, pois são a prova de que 'do outro lado' tenho mais amigos do que possuo consciência.

Um desses 'causos' aconteceu há muitos anos. Uma jovenzinha, kardecista, estava passando por uma crise emocional muito feia, e um processo obsessivo dos grandes, e fez o que muito kardecista acaba fazendo: foi parar no pé de um preto-velho, ou melhor, preta-velha. Depois de contar seus dramas, chorar tudo e se lamentar por tudo, ouviu da velha a frase: "Fia, você precisa buscar aquilo que aqui na Terra se chama terapia. Mas não pode ser com qualquer um não. Tem que ser uma mulher, que entende muito das coisas coisas do lado de cá, mas também das coisas do lado de lá. E, fia, ela tem que gostar muito de nós aqui (os pretos-velhos)." Conhecendo hoje a jovem posso afirmar que ela deve ter arregalado um olho do tamanho do mundo. Ela conta que saiu da consulta, parou no estacionamento e ficou se perguntando aonde encontraria uma terapeuta com aqueles atributos tão específicos? Tinha que sair perguntando e, não por coincidência, a primeira amiga para quem ela ligou respondeu, tão surpresa quanto ela:  "conheço sim, é minha vizinha!" E passou meu nome e telefone.

Quando a moça chegou para a primeira consulta e me relatou a forma como chegara ali, fiquei impressionada. Apesar de ser médium umbandista, na época trabalhando ativamente, nunca havia sequer ouvido o nome daquele centro específico e, certamente, não conhecia ninguém que trabalhava ali. As referências batiam quase com tanta precisão que passei a brincar que aquela vovó tão querida devia ter até meu CPF e RG: não só gosto muito de todos os vovôs e vovós (e todas as entidades da Umbanda), mas tenho, dentre meus livros, dois que tratam de forma analítica das "coisas deste e do outro lado" (obviamente não vou citá-los aqui... não é um espaço para marketing).

Uma outra história acontecida não muito tempo depois foi ainda mais divertida e ganhou uma dimensão bem interessante. Uma paciente umbandista (sim, de 35 pacientes, só tenho um que não é ou kardecista ou umbandista ou espiritualista de alguma forma) tinha uma amiga que precisou de socorro espiritual de emergência. Reuniu-se, então, a redor dela, um grupo de médiuns e um preto-velho incorporou. Depois do socorro, ele se deteve para conversar com os outros membros do grupo e, neste ponto, minha paciente perguntou: "Vô, eu posso encaminhar esta amiga para minha analista?" Ele pediu que ela mentalizasse a analista e, um tempo depois, ele começou a rir e disse: "Ah!, pode sim. Essa fia eu conheço", e começou a falar várias coisas a meu respeito que também bateram. Mas a 'pérola' ele deixou para o final: "... mas o que aquela fia tem mesmo é um chicote de três pontas - e é esse que funciona!" Ele estava se referindo ao Eruexim de Iansã (também conhecido por Erúkéré, dependendo da Nação).

Quando a paciente me contou isto, explodi numa enorme gargalhada: minha 'fama de braba' já tinha chegado no além! Como no outro caso, desconhecia completamente tanto a casa quanto o médium - e tenho igualmente a certeza de que, exceto por minha paciente, a recíproca era verdadeira. Minha 'brabeza' contudo, não se direciona a tudo e a todos, mas às Sombras, sejam elas pessoais ou não. Como ficou claro no post "Obsessão: Parceria Maldita", quando deixamos aspectos negativos dentro de nós fermentarem e apodrecerem, eles nos tornam presas fáceis dos 'eguns', e controlá-los é uma especialidade de Iansã. Assim, todo processo de 'desobsessão', sob meu ponto de vista, inclui obrigatoriamente a higienização do inconsciente. Mas isto é algo que nosso ego não gosta muito de fazer e, portanto, muitas vezes, para ajudar o paciente a se 'mexer' e a superar seus limites, eu sou muito, muito brava com ele. Mas isto é 'remédio', não agressão gratuita, e todos são unânimes em reconhecer que funciona.

A história ganhou proporções interessantes e foi passando de um paciente para o outro, ainda que todo o contexto fosse se diluindo até desaparecer. E quando alguém me indicava para outro alguém, incluía o  "chicote" nas 'referências', ajudando a filtrar os pacientes que precisavam de uma terapia mais leve daqueles que precisavam colocar a mão na lama do inconsciente - e mesmo quem não me conhecia, entendia muito bem do que se tratava. Apenas uma vez, durante todo este tempo, esta palavra me causou uma confusão. Descontextualizada, ela passou para uma pessoa a impressão de que se tratava do chicote do patriarcado e provocou uma crítica à qual eu preferi não responder porque, afinal, eu havia cometido o erro de usá-la sem explicar exatamente do que se tratava. E, além disto, tenho a crença, talvez adquirida na Inquisição, de não adianta tentar mudar a opinião que os outros têm de nós. Apenas nós e nossos guias espirituais sabemos quem realmente somos.

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