domingo, 11 de setembro de 2011

Mulher do Sol Poente

Guardiã dos sonhos de amanhã
Mãe da noite estrelada
Mostre-me como viver minha verdade
E traga meus sonhos à luz.

Ensine-me como usar minha vontade
Vivendo a verdade que encontrei internamente
Descobrindo todas as partes de mim
Onde a luz e a sombra se misturam.

Deixe-me cantar a canção do futuro
Que diga respeito ao que será
Defendendo todas as leis da Natureza
Para as criaturas, pedras e árvores.

Mãe, eu vejo Você no sol poente,
E A ouço na chuva.
Você me ensina os conhecimentos internos
Através do doce refrão do seu coração.

Esta foi uma tradução livre que fiz (e pedi a uma paciente fluente em inglês que corrigisse) do poema Setting Sun Woman, que Jamie Sams escreveu no livro "The 13 Original Clan Mothers". O poema, por si só, explica que esta é uma guardiã do futuro que nos ensina a vivermos nossa verdade interior, na Terra e para a Terra, materializando nossas potencialidades. Ela nos ensina a harmonizarmos nossa Luz e nossa Sombra e a utilizarmos a força desta harmonização para usarmos nossa vontade corretamente.

... Na minha busca sobre compreender o porquê de ter encontrado as 13 Xamãs (post "De Pachamama às 13 Xamãs"), encomendei o livro de Sams e esta semana ele chegou. Comecei a lê-lo e entendi que este Clã representa 13 aspectos femininos primordiais que, exatamente por serem 'primordiais', podem ser representados de formas diferentes para diferentes mulheres. A autora do livro, por exemplo, as viu em suas visões com aspectos bem mais arquetípicas do que eu. E eu entendo que a forma que o inconsciente escolheu para representá-las para mim foi bem sábia, pois ao ignorar conscientemente informações detalhadas sobre elas, não teria tido a menor condição de 'reconhecê-las' caso se manifestassem a mim com caracteres diferentes do tomaram. Na forma de Xamãs,  pude relacioná-las à cultura indígena norte americana e partir para fazer ali minhas pesquisas.

Outra coisa importante que entendi, logo na introdução do livro, foi que este Clã conduz uma espécie de iniciação feminina anual. Dito de outra forma: ao se sintonizar com cada uma das Mães, em cada uma das lunações, a mulher se reconecta com seu Self feminino e tem a oportunidade de trabalhar conscientemente 13 aspectos basilares de sua constituição psíquica. Esta iniciação, contudo, não é linear - com começo-meio-fim -, mas ocorre numa espiral que se prolonga por toda vida. Se ela se empenhar, a cada ano pode aprofundar sua conexão e amplificar a forma como expressa cada um dos atributos.

Este Caminho, obviamente, tem suas regras e objetivos bem traçados. Há uma busca de cura pessoal e reconexão com o potencial curativo/nutritivo/fertilizador do Feminino, que inclui um ano de preparação, durante o qual a mulher guarda silêncio mensalmente por três dias. "Nestes dias de recolhimento, a mulher visualiza seu útero se abrindo para receber a fecundação do amor do Grande Mistério, dando força para as sementes dos seus sonhos. Ela se abre para receber em seu corpo a força e a nutrição da Mãe Terra." (tradução livre, sem revisão de experts, pág 13)

Ao ler esta descrição, não pude deixar de me lembrar do conto "Pele de Foca", relatado por Clarissa Estés em "Mulheres que Correm com os Lobos" e sentir que esta é, de fato, uma boa forma de devolver a mulher a Si-Mesma. Obviamente vivemos numa cultura muito diferente e, pessoalmente, não conheço nenhuma mulher moderna que poderia guardar total silêncio mensal por três dias! Somos 'multi-facetadas', multi-atarefadas, e nossos compromissos intermináveis transitam de hora em hora entre trabalho, família, amigos, casa e, para umas poucas 'privilegiadas', estudo, criatividade e espiritualidade. E por 'privilegiadas' não estou aqui me referindo às mulheres com recursos financeiros, mas àquelas que conseguiram, com unhas e dentes, brigar por um mínimo de espaço em suas vidas reservado apenas ao cultivo de sua própria alma, sem que ninguém abrisse a porta de supetão para anunciar que, por exemplo, 'acabou o leite da geladeira' ou 'o menino precisa trocar fraldas' ou 'o seu chefe ligou e quer o relatório para antes das 8h'...

Por outro lado, também vivemos numa cultura na qual mesmo a mulher que poderia 'cavar com os ombros' um espaço mínimo que seja não consegue ficar 'consigo' em momento algum. Como psicanalista posso afirmar que em nossa 'civilização' o silêncio é algo que incomoda, sendo visto não como uma oportunidade de estar em sua própria companhia, mas como uma espécie de vazio que chega às raias da tortura. Usa-se com muita frequência a verborragia para fugir do contato com a verdade que lhe vai ao coração, e é nesta conotação que ficar em silêncio pode se tornar algo realmente doloroso: ouvimos os sussurros de nossa Alma e ela pode estar nos dizendo que a forma como conduzimos nossa vida está às avessas do que deveríamos...

Com estas duas vertentes em mente - uma cultura de extroversão e uma necessidade restabelecer o contato com o Self - eu me atreveria a propor a minhas pacientes que guardassem um espaço mensal de silêncio que se não pode ser de três dias, que seja de um dia, ou meio dia ou qualquer tempo no qual elas possam se isolar de tudo e de todos, pôr uma placa de PARE diante da porta, e estabelecerem este contato amoroso consigo. O importante, seja do ponto de vista do inconsciente, seja do ponto de vista da Magia, é a intenção que se põe no ato. O Self e a Mãe Divina nos conhecem a todos e sabem perfeitamente diferenciar as limitações reais daquelas criadas pelo medo de entrar em contato com a verdade do próprio coração.

Pessoalmente não 'sofro' este tipo de limitação, pois por força de um chamado interno que ocorreu na adolescência e também por força de minha profissão, semanalmente guardo um tempo para mim e estou sempre 'lustrando minha Pele de Foca'. Como disse acima, a leitura deste livro vem agregar elementos ao que já faço há três décadas: buscar meu Self e honrar meu amor pela Mãe Divina.

... Não tenho aqui a intenção de resumir em alguns parágrafos um trabalho que Jamie Sams levou mais de 300 páginas para descrever - e recomendo a quem se interessar por este Caminho, que leia e releia o livro inteiro. Estes pequenos comentários anteriores têm por objetivo mostrar que ao se apresentarem para mim na visão de 30 de julho, estas Xamãs estavam me 'convocando' para entrar numa nova fase de desenvolvimento espiritual. Até então meus rituais mensais sempre tinham por mote a conexão dos trânsitos astrológicos lunares sobre meu mapa natal. Com este mote, escolhia um arquétipo feminino já conhecido nos panteões grego, hindu e africano.  Agora, ao que tudo indica, preciso sistematizar de outra forma meu trabalho interior. Como, exatamente, isto se dará, ainda não sei - cabe a Elas e não a mim estabelecer as diretrizes. Mas vou seguindo o fluxo e vendo aonde esta face até então desconhecida de minha Mãe Divina irá me levar. Tenho apenas uma certeza: estarei sempre e cada vez mais perto Dela!

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