terça-feira, 9 de agosto de 2011

Amor em Duas Versões: Sim, os Pets Também Reencarnam

Aqui e ali um paciente que acabou de perder um animalzinho de estimação me pergunta, normalmente com os olhos marejados, se acredito que eles também reencarnam. "Ora!, eles também estão na cadeia da evolução - e é claro que reencarnam!" E a história que vou contar a seguir ilustra muito bem isto.

O condomínio para o qual me mudei em 1998 fica numa região rural e, quando a aqui cheguei, minha casa era apenas a segunda da rua. Eu saí de um bairro a 8 km do centro da cidade e vim morar aonde judas perdeu as meias - as botas ele perdeu antes! Isolada no 'fim do mundo' eu me senti bem segura até quinze dias depois da mudança quando - aproveitando o fato de que o muro ainda estava sendo fechado - 'ladrões de galinha' roubaram a bomba que jogava a água do poço para a caixa d'água. Na época eu tinha duas fox-paulistinha que não deram o menor sinal de que estávamos sendo furtados: tínhamos saído de um apartamento e elas ainda não tinham entendido que deviam 'cuidar' de todo o lote. Além disto, nenhum ladrão que se preze teria medo de cadelas com meros 5 kg.

Ao descobrir o furto me senti péssima e decidi que precisava de um cão maior. Tenho uma tia que, mesmo sem muitos recursos financeiros, tem o 'hábito' de resgatar cães de rua, cuidar deles e achar-lhes um lar - sim, essa birutice é 'de família!" Liguei para ela e perguntei se havia no seu 'plantel' algum cão adulto, grande ou de porte médio, que estivesse para adoção. Tinha. Ela o havia resgatado da rua no dia em que mudei e a primeira informação que me deu era de que ele não era muito bravo, mas impunha respeito. Entrei no meu Kazinho e fui buscar meu guardião de quatro patas do outro lado da cidade. Ao chegar lá a informação mudou - ele era 'um tanto bravo', mas foi amor a primeira vista.

Com o passar das semanas, ele se revelou o cão mais bravo que já conheci na minha vida, com uma atitude protetora sobre mim que apavorava qualquer um - ele sabia qual era sua missão, e a levava 'a ferro e fogo'. Mas comigo ele era simplesmente um doce, um bebezão dengoso que se jogava na minha frente para que eu lhe coçasse a barriga. Com ele me sentia tão segura que quando a fechadura do portão estragou, levei meses para arrumar - simplesmente fechar o portão era suficiente, ninguém se atrevia a chegar perto.

Durante quase nove anos, meu amor de quatro patas só permitiu que se aproximassem de mim, ou permanecessem dentro de minha casa, cinco pessoas: meus pais, meu irmão, uma grande amiga e a veterinária, por quem ele também se 'apaixonara'. Com todos os outros, eu tinha que prendê-lo, pois o 'ataque' era certo. Mas um dia ele ficou velho, a barba embranqueceu e, em novembro de 2006 eu olhei para ele e senti: ele está indo embora. A veterinária, que mesmo sendo católica-apostólica-romana, era 'obrigada' a ouvir minhas intuições duvidou quando eu disse: não havia qualquer indicação clínica para aquela informação, pelo menos até aquele momento.

Mas, no início de janeiro ele adoeceu seriamente. Começamos - a veterinária e eu - uma luta forte para salvar-lhe a vida. Nada resolveu e quando, finalmente, ele foi desenganado, pedi licença a seu espírito, aos guardiões dos cães, e decidi que iria sacrificá-lo sob anestesia. À guisa de uma loba, que sacrifica um filhote que esteja mortalmente ferido (como Clarissa Estés conta em Mulheres que Correm com os Lobos), quis libertar-lhe o espírito e livrar-lhe de uma agonia que poderia durar mais de 24 horas. Decisão tomada, deitei a seu lado no chão, pois ele nem conseguia se levantar mais, e assim ficamos abraçados por mais de uma hora esperando que outra veterinária da clínica viesse 'realizar o procedimento', pois a que nos atendia não tinha condições emocionais. Conversei com ele, agradeci e chorei muito na despedida: lá se foi meu 'filhão'.

Dias depois, contudo, comecei a ver seu espírito transitando pela casa - o amor era recíproco e ele não iria me abandonar. E por mais que eu explicasse para ele que ele havia feito um bom serviço e as labradoras e uma fox-paulistinha que resgatara há pouco mais de um ano - que na época eram "as cães" que eu tinha, pois as duas outras fox já haviam desencarnado - tinham aprendido muito bem com ele a cuidar de mim e da casa, ele não se permitia seguir em frente. Tão teimoso quanto eu, também não 'largaria o osso' de sua missão.

Em meados de janeiro do ano seguinte, num domingo, ao deitar para o cochilo depois do almoço, eu tive uma visão: via-o como fora antes de morrer e depois o via encolhendo até tomar a forma de um filhote. Voltei para o corpo imediatamente e exclamei: "Ah!, seu danado, você está voltando!" Liguei as minhas antenas e comecei a 'procurá-lo' - sabia que ele estava por perto e que se eu ficasse bem ligada o encontraria novamente.

E isto aconteceu em abril. Um dia, contrariando meus 'hábitos' resolvi ir à clínica comprar vermífugo para 'as meninas' ao invés de pedir que viessem entregar. Ao chegar o veterinário de plantão olhou para minha cara e lascou a pergunta do nada: "Você não tem pena disto?" "Pena, pena de quê?!" "Jogaram uma ninhada de cães num container de lixo; nós os resgatamos e colocamos para adoção." Meu coração pulou - meu bebezão certamente estaria naquela ninhada! E eu o identifiquei de cara. (Mas também trouxe três de seus irmãos, pois realmente fiquei com muita pena de todos e quis dar uma vida boa àqueles cães que entraram no mundo sendo tratados de forma tão cruel. Infelizmente duas de suas irmãs acabaram tendo uma morte trágica dentro de minha casa, mas isto eu conto outra hora).

Quando trouxe aquela 'bolinha de pelos' para casa, batizei-o com o mesmo nome, liguei para a amiga que também fazia parte 'dos amores' de sua outra vida e contei a história. Ela, que é uma médium fenomenal, veio vê-lo: e também o reconheceu. Ele não demorou muito para demonstrar as mesmas manias e o mesmo perfil psicológico e isto era claro para quem o conhecera em sua 'primeira versão'. Mas a comprovação final veio da fonte mais inesperada: a veterinária cristã-ortodoxa. Quando fomos lhe aplicar a segunda dose de vacina ela olhou para ele e, demonstrando certa perplexidade, exclamou: "Ora, você escolheu o nome certo para ele - ele é a cara do 'véio' (como ela o chamava)." Respondi que sim e fiquei dando risada por dentro: ela identificara a 'energia' - fisicamente eles são tão parecidos quanto o Gordo e o Magro!

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