segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O Olhar do Outro

Música da Psique é o título de um livro inédito de minha autoria que, pelo menos por enquanto, prefiro que fique exatamente assim. E o motivo é que ele descreve com uma riqueza enorme de detalhes toda uma iniciação que ocorreu em 1999 e durou exatos 40 dias e 40 noites. Conduzido pelo meu inconsciente, e pelos guias que me acompanham, o processo ocorria durante a noite e, durante o dia, eu analisava detalhadamente tudo e tomava nota. Depois de um tempo compilei um livro, mas reservei sua leitura apenas para minha mãe e para o terapeuta que tinha à época. Hoje avalio que até isto foi um equívoco, pois somente quem tem intimidade com energias astrais, com guias espirituais e com arquétipos pode, de fato, compreender a riqueza e a profundidade de um evento que mudou definitivamente minha vida, que deu sentido à minha existência e me tornou o que sou. Aquele olhar desavisado, incapacitado de compreender a validade e a amplitude de uma iniciação conduzida de forma 'não-física' (como Clarissa Estés já afirmava ser possível em Mulheres Que Correm com os Lobos) foi a pá de cal para que eu me 'fechasse em copas' e passasse a viver uma espécie de 'vida dupla', deixando à mostra apenas uma aparência de 'normalidade' confortável para quem caminha pela Terra com os olhos fincados no tangível. Meu outro lado, que de longe considero o mais real, aparece às pessoas apenas ocasionalmente, como se fora bolhas de um vulcão submerso que emergem à superfície de um lago calmo.

Contudo este isolamento que poupa aqueles que me cercam de terem que 'engolir' assuntos que vão desde astrologia a um diálogo profundo com uma entidade, passando por rituais de magia e encontros com seres de outras dimensões, passou a me incomodar de forma inesperada nos últimos tempos. Eclodiu dentro de mim a necessidade de ter o 'olhar do outro' sobre minha vida privada.

Certamente esta necessidade bem humana de compartilhamento já se encontrava em estado latente, mas se tornou consciente com a leitura do livro do Wagner Frota, "Caminhando com os Ventos". Ver alguém com coragem suficiente para expor sua vida interior me deixou de queixo caído e me fez repensar minha postura. Olhando à minha volta, contudo, preciso admitir que convivo com católicos, não-médiuns, não-sacerdotes/sacerdotisas; assim como convivo com não-artistas, não-artesãos, não-amantes de cachorros e árvores. É, no mínimo, pedir demais àqueles a quem amo que mergulhem comigo em minhas realidades internas e entendam frases do tipo: "realizei um ritual muito forte ontem" ou "estou angustiada por um cachorro doente" ou "fiquei triste porque uma árvore do meu quintal morreu" ou "tive um sonho muito significativo esta noite" ou "consegui equacionar de um jeito inesperado o problema de uma pintura".

Esta é, então, a proposta deste blog: ter, de certa forma, este olhar: mas apenas daqueles que se afinizam com o que vivo, e por livre vontade - não por 'obrigação'.

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