quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Papagaio!

Dia desses no consultório um paciente me contou um sonho no qual eu, euzinha mesmo, aparecia como um papagaio (!), interagindo com outra pessoa. Caímos na risada juntos; mas conforme ele foi desenrolando o enredo do sonho, em dado momento eu voltava a ser gente e tinha uma atitude muito específica. Neste ponto, identifiquei que o sonho, na verdade, fora um desdobramento, pois, de fato, eu tinha tido a atitude que ele vira ali e tinha mesmo dito àquela pessoa exatamente o que ele ouvira. Expliquei-lhe, então, que a parte do papagaio foi a forma que o cérebro dele encontrou para contar-lhe outras coisas a meu respeito. Se não, vejamos...

... bem no comecinho da minha carreira, aqui e ali alguém me dizia durante uma consulta "Ah!, foi exatamente do jeito que você disse mesmo" e se punha a "repetir" uma frase da qual eu não tinha a menor lembrança de ter pronunciado! Tinha, naqueles momentos, o ímpeto de parar a fala do outro no meio e começar com perguntas: "eu?!", "eu, como?", "como assim?,"quando eu disse isto?", "em quais circunstâncias?"... mas me calava e ficava coçando mentalmente a cabeça, dizendo a mim mesma: "ok, uma pessoa lhe dizer que você disse algo que não se lembra, tudo bem. Mas isto está ficando frequente..."

Comecei, então, a analisar aquele 'fenômeno'. Problemas de memória? Nem pensar. Quando um TDHI hiperfoca ganha uma memória de dar medo! Não anoto e nunca anotei um único dado de qualquer paciente - fica tudo registrado nos meus neurônios e no além. E qualquer paciente meu pode afirmar que eu me lembro de coisas a respeito deles que até eles esqueceram - e não só os detalhes de suas histórias, mas também os sonhos. De todos! Durante todo o tratamento, por anos. E mesmo aqueles que foram, passaram um tempo fora, e depois voltaram, puderam constatar que bastava me contar o iniciozinho da história e 'bum!", meu cérebro refazia todas as conexões: voltava toda a memória daquela pessoa.

Como na ponta oposta do fenômeno havia 'o outro', passei a me perguntar se não seria o fato comum, provado pela neuropsicologia, de que muitas vezes o que dissemos não é exatamente o que o outro ouve; pode existir um filtro neurótico distorcendo tudo, ou o cérebro simplesmente reorganiza as palavras do jeito que quiser, e não como foram ditas... Mas também não me satisfaziam essas respostas. Continuei observando. E, conforme o tempo foi passando, acabei reparando que aquelas eram as "melhores frases" do consultório. Aí eu comecei a desconfiar qual seria resposta para o 'mistério'...

...Um belo dia, um grande amigo que também é um bom papagaio, do nada, virou para mim e soltou na lata: "você e esse seu guia aí estão tão sintonizados que às vezes é difícil saber se a frase saiu da sua cabeça ou da dele! Bingo! Eu fora promovida: era um papagaio oficial! Sem crista, claro, porque não há nada mais anti-ego do que descobrir que a melhor parte do seu trabalho não é feita por você. Mas, feliz, porque descobrir que 'não estava sozinha' naquele consultório ao lidar com todo tipo de dor e sofrimento era e é muito consolador.

De lá para cá já se passaram mais de dez anos. Muita coisa mudou. Já não atendo mais com astrologia, nem faço atendimentos pontuais apenas para prescrever florais - que foi, na verdade, como tudo começou, no final de 1999. Estou mais consciente da minha mediunidade e minha interação com os guias agora não é mais tão 'velada' como no começo - e os pacientes mais atentos sabem direitinho a hora em que paro para ouvir 'o outro lado'. E quando o paciente é 'velho de casa' e já se acostumou a me ver trabalhando em  parceria espiritual, eu muitas vezes não faço cerimônia nenhuma em parar o que ele (paciente) está falando e responder verbalmente a um guia: "não, não vou dizer isto" ou "devagar, que eu não entendi o que você (o guia) quis dizer".

Outra coisa que mudou muito desde minha promoção a papagaio de estimação da espiritualidade é que hoje não tenho mais dois ou três pacientes de atendimento psicanalítico: são 35! E, exatamente por isto, aquele mesmo amigo que um dia me revelou minhas penas - de papagaio, veja bem - comentou que hoje há muitos guias trabalhando comigo. E se o papagaio ainda é o mesmo - euzinha - o guia pode mudar de um atendimento para o outro. E, para mim, isto é claríssimo: com um paciente posso ser leve e bem humorada; com o seguinte posso virar a 'senhora seriedade'; e, no terceiro, falar, francamente, 'de homem para homem'.

Mas não se apavorem: não incorporo, não perco a consciência, nem fico sacolejando na cadeira: sou médium de irradiação intuitiva ali. Um papagaio discreto. Meu trabalho é manter as penas limpas e o bico afiado, o que significa dizer: estudar muito, pesquisar bastante, questionar ao máximo, aprender tudo que posso, armazenar em meu cérebro a maior quantidade de informações disponíveis e, depois, com toda humildade que meu ego imperfeito conseguir, colocar tudo isto para ser usado pelos amigos espirituais.

Quanto aos meus 'esquecimentos', confesso que andei fazendo algumas queixas: "não dava para ninguém aí dizer 'dá o pé louro'? Às vezes eu perco coisas bem legais! Maldade..." E fiz bico - de gente. Rapidinho veio a resposta: quando eu preciso bilocar, eles devem assumir o controle total de minhas falas e eu, atarefada noutro canto, falo coisas das quais nem me lembro. Então tá, né? Currupaco!

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