quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Buscando me entender, mas fugindo de rótulos

Quando comecei a realizar a pesquisa sobre as 13 Xamãs, esbarrei no livro "As Máscaras de Deus", de Joseph Campbell, na definição que diferencia um xamã de um sacerdote. Para Campbell, um sacerdote é aquele que se liga a um grupo formalmente estruturado e que segue regras para o desenvolvimento dentre deste grupo. Um xamã, por outro lado, é alguém que, com ou sem a ajuda de um mestre físico, passa por uma experiência, normalmente limítrofe, e adquire a partir disto o contato e o direito a entrar em outras dimensões e realizar, a partir delas, um trabalho de magia ou cura. 

Dentro deste conceito, não posso, sob nenhuma hipótese, me considerar uma sacerdotisa, pois não sou filiada a qualquer grupo, não tenho e não aceito seguidores. Faço meu caminho na busca de auto-conhecimento e de uma relação íntima com a Divindade, em todas suas formas. Não estou presa a rótulos ou escolas. Meus guias e mentores estão todos em outros planos e é dali que me orientaram e orientam. E também eles não tem 'uma escola', pois tanto há os guias orientais, quanto os ocidentais.

A definição de Campbell, portanto, me colocaria, na categoria de 'xamã' - não só pelas experiências que descrevi nos outros posts, mas também porque uso todo conhecimento adquirido na cura de outras pessoas, mesmo que elas não tenham a menor idéia do que faço. Mas confesso que me senti muito surpresa com o que li e, claro, com muitos questionamentos. E pelo que já li no livro do Wagner Frota (citado no primeiro post), e também no que encontrei em seu site (www.xamanismo.com), para ser um xamã é essencial a presença de um espírito guardião que se apresente na figura de um animal de poder. 

No mesmo site, ele cita formas de encontrar o seu animal de poder e eu estava a um pé de fazer isto quando 'travei nas quatro' - que tipo de responsabilidades isto me geraria? Estaria eu a altura delas? Sei, por minha experiência com cristais, que os seres os habitam, e que se permitem virem até nós, têm necessidades próprias e precisam ser tratados com muito respeito e carinho. Do jeito deles, eles podem ser magoados, ser entristecidos e até exauridos a ponto de morrerem ou nos abandonarem. De acordo com um guardião de uma caverna, com o qual me conectei recentemente, cada cristal que ele cria ao longo de século ou milênios é uma manifestação física de seu Ser - e o que quer que se faça à 'pedra', fisicamente falando, está sendo feito a ele; mas nem mesmo a desintegração da 'pedra' poderia destruí-lo, apenas magoá-lo se isto não for para um propósito nobre. Eles aceitam se sacrificar por nós, pois assim também aprendem uma ou duas coisinhas a nosso respeito. Mas merecem, por isto mesmo, toda nossa consideração.

Voltando à questão do animal de poder, meu conhecimento sobre xamanismo é superficial e, portanto, considero bastante necessário entender este ponto antes de invocar um deles, visto que só posso saber como tratá-lo direito se souber o que eles são. É ele um ser multidimensional, uma entidade individual que tem sua 'vida e sua evolução' em outro plano, independente de nós, humanos? Ou é ele um arquétipo do inconsciente coletivo e, por isto mesmo em estreita relação com nossa própria existência?

Na consulta que fiz ao Wagner por e-mail não consegui expressar de forma adequada minha dúvida e, por isto, a resposta que ele gentilmente me deu não fez mais sentido do que o que eu já havia lido. Tenho certa resistência de ficar invadindo a caixa postal de escritores com questionamentos pessoais, pois sei que, do ponto de vista do leitor, o autor se torna alguém que 'convive com ele' durante o período de leitura; mas para o escritor o leitor é um amplo, total e completo desconhecido. E pode mesmo ser um maluco, prontinho para começar a atormentá-lo. Portanto vou tentar aqui ser um pouco mais explícita no meu questionamento e, quem sabe?, consiga uma resposta que me tire as dúvidas. 

Por elementos do inconsciente coletivo, entende-se manifestações de uma Força Divina primordial que dependem da raça, do tempo e da cultura para existirem. Isto fica claro quando pensamos nas civilizações extintas como, por exemplo, a Lemúria ou Atlântida. Quais eram seus deuses? Que deus ou deusa expressava, por exemplo, a força ativa, yang, da criação? Tinham eles deuses para a compaixão, para o parto ou para o mundo inferior? Poderiam ter, mas também poderiam não ter, pois na cultura africana que nos chegou pelo Candomblé, por exemplo, desconheço a existência um lugar como Hades ou o reino de Ereshkigal. Seus deuses desapareceram com estas culturas, ainda que as Energias Primordiais tenham encontrado outras formas de se expressar em outras culturas. 

Um ser multidimensional, por outro lado, não depende 'de nós' para existir. O elemental ou guardião de uma caverna ou floresta jamais acessada pelo ser humano está ali há tempos e vai ali continuar mesmo que toda nossa raça seja extinta. Ele evolui por si mesmo, interagindo de forma completamente diferente daquilo que conhecemos ou podemos imaginar. Sob certas condições, conseguimos entrar em contato com eles e deles aprender alguma coisa. Mas eles não precisam de nós para evoluírem e, quando se permitem serem acessados, podem até aprender algo sobre nós, mas quase como se fosse um 'intercâmbio-interdimensional' e não por precisarem disto.

Quando o Wagner - repito, muito gentilmente para quem teve seu e-mail invadido - me responde que o animal de poder é "um ser espiritual que não só protege e serve o xamã como também se torna outra identidade ou alter ego para ele", me dá a sensação de que eles são manifestações de uma Energia Primordial, como os arquétipos. Mas ao chamá-lo de espírito guardião, me passa justamente a impressão contrária. 

Estes questionamentos certamente são uma bobagem para quem vive a realidade de um animal de poder - eles a vivem com o coração e isto é o que basta. Mas se por um lado a leitura do Campbell e a experiência com as 13 Xamãs me despertou para características pessoais que eu não havia me dado conta ainda, por outro eu me sinto muito inquieta em assumir responsabilidades sem conhecimento de causa. Eu poderia tentar fazer com eles o que eu faço nos meus rituais - primeiro "viver" a realidade, depois analisar e entender. Mas se eu estiver invocando um ser que vive em seu universo confortavelmente sem atrelar sua existência à minha e depois não estar à altura do que ele precisa, posso magoá-lo profundamente. Ainda não desisti de entender (e o coitado do Wagner vai receber daqui a pouco outra invasão em sua caixa postal, até porque, por uma questão de direito autoral, preciso pedir autorização para manter este post no ar) e vou continuar minhas pesquisas. 

Para finalizar preciso contar que quando entrei neste caminho mágico, nos idos de 1993, cheguei a me denominar de Bruxa e até participei, por curto tempo de um grupo misto. Nós estudávamos magia e astrologia e, com eles, aprendi a realizar rituais voltados para a astrologia. Nesta mesma época coloquei um pentagrama no meu pescoço e ele jamais saiu dali. Mas com o que  aprendi ao longo de todos esses anos posso afirmar com toda certeza que o que faço não é wicca - e meu pentagrama continua em meu pescoço como um símbolo da busca pelo auto-conhecimento, um símbolo da 'totalidade' e não como um 'símbolo da bruxa'. 



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