domingo, 21 de agosto de 2011

De Volta para Casa

Participei, neste fim de semana, de um workshop sobre Xamanismo Andino e Amazônico conduzido pelo Wagner Frota. Na busca pelo significado do surgimento de tantos elementos xamânicos em minha psique nos últimos meses, este era um caminho natural: estar frente a frente com um Xamã de carne e osso, aprendendo sobre os princípios desta Arte. E, depois do sonho de segunda feira, era óbvio que meu inconsciente tinha 'coisas a me dizer' através desta experiência. Mas posso afirmar que foi muito além de qualquer expectativa e estou escrevendo no calor de uma forte emoção.

A primeira coisa que mexeu comigo foi justamente a namorada do Wagner, Tatiana: a alegria daquela moça, a atitude espontânea de ser, contrastou tão fortemente com a minha atitude 'reservada' que me senti impelida a ser mais natural. Como já disse em outros posts, reconheço que o riso é um remédio sagrado que, quando bem utilizado, ajuda o paciente a desatar uma série de 'nós' em sua psique. Mas ali o 'remédio' estava em outras mãos e era eu quem estava recebendo - o que é pouco usual para mim. O usual para mim é lidar e 'receber' o sofrimento do outro, diariamente. Mas, neste fim de semana, recebi de coração aberto o bálsamo para a alma que ela me deu sem saber que dava. E sou profundamente grata por isto.

Ver o casal junto também foi balsâmico para mim, pois na minha experiência profissional lido muito mais com casais que não se respeitam do que com aqueles que interagem bem com as diferenças e permanecem se amando. Tenho, graças à Deusa!, a sorte de esbarrar aqui e ali em um casal que constrói a ferro e fogo esta ligação de alma - que vai muito além de um contrato social chamado 'Casamento' -, mas são tão raros que, aos poucos, passei a duvidar ser possível uma relação entre pessoas tão diferentes. E como são 'diferentes' (!): o Wagner é quase TOC e ela é TDHI mesmo!!! Mas eles se amam. E ponto. E isto acende uma luz de esperança no meu coração que posso multiplicar e passar para frente (e já multipliquei, pois antes mesmo de chegar em casa, dando 'suporte' por telefone para um amigo com problemas de acreditar que pode ser amado, já usei este casal Wagner/Tatiana como "exemplo" de esperança nos relacionamentos. Boas sementes devem ser jogadas ao vento: aqui e ali elas frutificam!).

Um outro remédio, muito importante para uma ex-inquisitada, veio do grupo todo: sim, é verdade, posso falar das minhas 'experiências mágicas' e ninguém vai ficar me olhando como seu eu fosse 'esquisita' (ou esquizofrênica, dependendo do ceticismo do 'freguês'). Cada um que esteve ali tem sua bagagem, seu escopo de ferramentas, seu caminho - e ninguém julgou ou censurou ninguém. Todos trocamos um pouco e aprendemos um pouco uns com os outros. Estávamos todos de coração aberto para dar e receber - e isto fez com que todo o fim de semana fosse muito gratificante.

Tudo isto, agregado ao conhecimento valiosíssimo que o Wagner compartilhou, já teria feito o workshop valer a pena. Mas o que aconteceu hoje na vivência conduzida por ele foi o ponto máximo, o momento do qual meu inconsciente parecia estar falando na segunda feira. Vou procurar registrar aqui, enquanto ainda estou vibrando na energia.

Começamos com uma cerimônia do cachimbo, que não é andina ou amazônica, mas faz parte da tradição das tribos norte-americanas. Ali eu já comecei a mudar minha energia. Depois veio uma bebida sagrada que ele faz com fumo; só precisei de um mísero golinho para ser jogada em outra dimensão.


Me via sentada de pernas cruzadas diante de uma cadeia de montanhas. O céu era azul e límpido e eu tinha - com no encontro com a Mulher Terra - algo na minha cabeça, como uma tiara que não consigo explicar direito. Eu estava ali, meditando e desfrutando daquele local. Ainda ouvia o que se passava na sala e atendi ao comando de deitar, mas sem estar plenamente presente no corpo. Ao comando do Wagner, vi surgir uma serpente e via claramente as penas que ela tinha na testa. Havia uma tonalidade vermelho sangue, mas não me concentrei bem nas cores. Ela foi se enroscando em mim até me englobar: eu a sentia tanto dentro de minha coluna, quanto me sentia por dentro dela. Havia um fogo subindo por mim e em dado momento, eu mesma era uma tocha humana. Mas não havia incômodo ou descoforto: era uma sensação gostosa. 


Em seguida o Wagner chamou um Puma e ele veio dourado como um sol. Lindo!, parou na minha frente e ficou me encarando. Sei que ele me perguntou alguma coisa e que ficamos conversando um tempo antes de começar a subir o resto da montanha - pois eu já estava bem próxima ao cume. Mas não consegui me lembrar depois deste diálogo, exceto que também ele me chamava de Mulher das Estrelas (algo que não quis compartilhar com o grupo, pois ser chamada por outros seres por este nome é algo com o qual ainda estou me acostumando! E ainda teria que explicar... sem chance.) Fiquei sabendo depois que em algum momento o Wagner deu o comando para nos fundirmos com o Puma, mas eu já não estava nadinha na sala. 


De repente eu simplesmente me transformei em um pássaro - um Condor foi o que descobri depois -, mas naquele momento eu não sabia que pássaro eu era, eu apenas "era". Senti meu corpo se transformar no corpo de um pássaro, com absolutamente todos os detalhes de um pássaro gigante! E fui voando em direção ao Sol. É quase impossível traduzir em palavras a sensação de liberdade de estar voando, absolutamente livre de todas as amarras, de todos os laços, vínculos, pesos e tudo mais que caracteriza a vida normal do dia-a-dia. Não havia passado, presente ou futuro. Apenas o Sol à minha frente cada vez maior, cada vez mais próximo do meu campo de visão, englobando todo meu horizonte, deixando tudo e todos para trás - sem medo, sem angústia, apenas indo. Em dando momento, aconteceu o mais forte: meu corpo e o do Sol passaram a ter a mesma 'matéria'. Eu era 'feita' do Sol, como se fora uma imagem que Ele projeta, como se Ele tivesse me esculpido de sua própria essência. Ainda era um pássaro. Ainda era "eu". Mas este eu-pássaro era feito de Sol pelo Sol. O sentimento de 'estou de volta em casa' foi o que me dominou. "Eu sou isto", foi a única coisa que eu pensei. "Eu sou apenas um reflexo do Sol, uma extensão dEle mesmo". 


Estar ali era estar de volta à minha natureza... mas de algum lugar do Cosmo veio o comando de voltar. Comecei a me debater com esta idéia. Não, eu não queria voltar. Mas os milênios de treinamento como sacerdotisa me ensinaram que um comando dado durante um ritual não pode ser questionado se confiamos em quem nos conduz. Eu tinha que voltar. E ponto! Sei que houve uma parte em que um beija-flor vinha em nosso coração. Mas eu ainda estava no Sol e vi sim um beija-flor - mas de lá de cima, não 'na sala' como as outras pessoas viram. Foi difícil voltar. 

Foi difícil conseguir pegar meu corpo de novo. Saí da sala ainda 'mais pra lá do que pra cá' e só lembro de já estar sentada em um banco, olhando para as árvores e me perguntando atônita: 'mas o que é mesmo que eu estou fazendo aqui?'. Nesse momento apareceu uma Xamã do meu lado direito. Cabelos trançados, estatura mediana. Ela se debruçou mansamente sobre mim e disse simplesmente: "ainda é aqui que você tem que estar". Comecei a chorar - de birra, eu sei! Mas não há muito o que fazer. Manda quem pode, obedece quem tem juízo! Se é aqui que tenho que estar, é aqui que ficarei. Pelo menos por enquanto... o Sol que me aguarde!

Um comentário:

  1. Linda viagem ao centro de seu ser ancorado na aura misteriosa que nos rodeia desde nosso nascimento e nos desperta quando somos chamados
    pela divindade divina encarnada num ser que nos rodeia por amor. Sempre
    voltamos de nossas jornadas misteriosas e líricas até o momento em que
    o chamado para a eternidade de nosso ser se completar no infinito certo,até lá qualquer viajem ao centro de ti mesmo te proporcionará sempre mais busca pelo desconhecido que te faz delei!tar e acreditar que não estamos sós neste imenso universo chamado Luz !"

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