quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Obsessão: Parceria Maldita

O processo obsessivo é o que chamo há muito tempo de 'parceria maldita' entre as sombras que trazemos no nosso inconsciente e aqueles que, do plano espiritual querem nos prejudicar. Qualquer sentimento de culpa, mágoa e ressentimento - com a vida ou alguém - é matéria prima fértil, pronta para ser manipulada por nossos obsessores contra nós mesmos. Vejo isto todos os dias na vida alheia, mas escolhi um longo e dramático caso familiar para ilustrar este processo, pois, de quebra, quero desabafar detalhes muito íntimos vividos por mim nesta história.

No segundo semestre de 2004 comecei a perceber que havia algo de errado acontecendo com meu pai. Uma tristeza e uma melanconia em seus olhos e nos de minha mãe me davam esta certeza. Mas por mais que eu questionasse, tudo o que me era respondido era que ele estava muito cansado por causa do trabalho. Com as pessoas que me procuram para buscar ajuda, posso ter uma atitude mais ostensiva diante de uma mentira, questionar fundamente a pessoa, e a fazer 'soltar' o que realmente a incomoda. O fato de me pedirem ajuda implica que elas não possam mentir para mim. Mas com quem não se colocou a meus cuidados e, principalmente, com minha família, tenho que respeitar o direito do outro de não me contar o que não quiser contar - mesmo que minha intuição, muitas vezes, me passe a 'ficha completa'. Passado o Natal, recebi um telefonema de minha mãe comunicando que na primeira semana de janeiro meu pai iria operar uma úlcera no estômago. Lembro de desligar o telefone, encostar no portal que dá para o quintal e pensar: 'eu sabia!, mas não é só isto'.

No dia da cirurgia, estávamos todos os filhos 'de plantão' no corredor do hospital, esperando o médico vir para dar notícias, quando vejo minha mãe saindo numa direção diferente de onde era esperado que ele saísse. Fui atrás e cheguei a tempo de ouvir o médico dizer "era aquilo mesmo, um câncer e nós tivemos que tirar 2/3 do estômago." Senti como se o chão tivesse se aberto sob meus pés, e o hálito de Hades se fez presente. Questionada, minha mãe negou que soubesse, mas já dava para ver que era mentira. As peças começaram a se montar na minha mente e, como um cão que vê uma briga se aproximando, os pelos de minhas costas se eriçaram. Meu pai tinha chegado a uma mesa de cirurgia mentindo para todos nós. Na sua 'vaidade paterna' ele não poderia admitir para os filhos que 'estava realmente doente'. Ele e minha mãe esconderam o diagnóstico de câncer da família inteira e viveram em silêncio, por quase quatro meses, o medo da morte e uma depressão resultante.

Quando cheguei para visitá-lo na manhã do dia seguinte, já via sombras negras rodeando a cama. E, para piorar a situação energética do quarto, todos nós, os filhos, estávamos profundamente magoados pela mentira. Do ponto de vista energético, uma mentira, principalmente aquela que se conta a quem se ama, não somente enfraquece o poder de nossa palavra, mas também gera um sentimento de culpa no inconsciente. O caldo estava pronto e a poção maldita já tinha sido sorvida. E, ao chegar, descobri também que durante a noite, sob influência da agitação criada pelo  psicotrópico utilizado para sedá-lo e da perturbação espiritual, ele havia arrancado a sonda posta no estômago. Questionado, o médico disse que não era um problema e que não haveria necessidade de passar outra.

Por causa do meu trabalho eu não poderia dormir com ele exceto nos fins de semana e a primeira sexta-feira ocorreu três dias depois da cirurgia. Todas as minhas antenas estavam em pé e meus canais de comunicação com o outro lado alargados de forma anormal. Eu via a movimentação espiritual dos corredores e uma quantidade indescritível de miasmas acumulados na área do centro cirúrgico, que ficava a poucos metros do quarto. Via também o corpo do meu pai e sabia que algo havia dado errado, muito errado. Passei a primeira de muitas noites absolutamente em claro, vigilante, tensa, sentindo que debochavam de mim e me desafiavam.

Começou ali um calvário pessoal, uma luta insana pela vida do meu pai. Na manhã seguinte verbalizei pela primeira vez a frase que repetiria como uma cantiga de grilo por 21 dias: tem alguma coisa errada. Mas virei, no mesmo instante, aos olhos do meu pai, da minha família e do médico, uma cassandra amaldiçoada. Sentia que eles me odiavam profundamente cada vez que eu repetia esta frase, mas eu falava e falava. Os obsessores não queria 'quebrar' só o meu pai, iriam aproveitar para me quebrar junto. O medo e a angústia que minha família tinha sentido, voltou-se contra mim. Cheguei a ouvir de uma de minhas irmãs que eu estava projetando no meu pai os erros médicos que levaram à morte meus próprios filhos e "precisava trabalhar isto". E ela cravou em meu peito uma faca que levei dois anos para tirar.

No íntimo, meu pai, que é extremamente intuitivo, mas não reconhece isto, também devia receber em sua consciência lampejos da informação de que havia mesmo algo errado; mas aceitar isto seria voltar a viver a mesma fragilidade, o mesmo sentimento de impotência - e era melhor jogar a raiva gerada por todo processo sobre quem afirmava que havia um erro médico do que aceitar este erro. Em muitos momentos ele se permitiu ser extremamente cruel comigo e chegou a me mandar 'cuidar da minha vida', como se ele não fizesse parte dela.

Eu ouvia tudo isto, engolia e continuava minha luta. Invocava dia e noite a presença dos meus guias e puxava deles a força para continuar. Havia algo errado, eu continuava e continuaria dizer até que se descobrisse o que era. Uma semana depois o médico, títere invigilante de obsessores altamente cruéis, deu alta para o meu pai. Tive que me controlar para não brigar de verdade com minha mãe por ter permitido isto. Não estavam vendo, ele não estava bem? A alta durou 12 horas; ele voltou para o hospital com desidratação. E mais: nenhum alimento parava no estômago, nem água, nem mesmo a saliva. Tudo era vomitado. Todo tempo, o tempo todo.

Pouco mais de duas semanas depois meu pai já tinha emagrecido visivelmente. Estava definhando diante de nossos olhos. E mais afundado ainda na depressão: sentia fome, não conseguia comer; sentia fraqueza, estava começando a não conseguir andar direito; se sentia humilhado por estar sendo, pela primeira vez na vida, totalmente dependente de outros. E, para piorar, começou a ter febre. Na medida do que eu conseguia, e do que ele se permitia receber de mim, a 'cassandra de plantão', doava o máximo de energia para ele - e continuava pressionando o médico. Nesse ponto, para 'esfregar na minha cara' que eu estava errada, alguém decidiu chamar o gastro que o havia encaminhado à cirurgia para fazer uma endoscopia. Aleluia! Na noite anterior, repetiram para mim, pela última vez, que a endoscopia iria mostrar que estava tudo bem. Não, não estava. A endoscopia mostrou que, com a retirada precoce da sonda, o estômago formou uma aderência e se fechou - não havia nenhuma passagem, nenhuma comunicação com o resto do corpo. Sem intervenção, ele iria morrer de inanição.

Mesmo com esta batalha pessoal acontecendo, não abandonei meus próprios pacientes. Depois de dez anos de profissão como terapeuta, sabia perfeitamente que não só os estaria ajudando, mas era muito mais ajudada por meus guias ao me permitir ficar sob a salutar influência de sua irradiação por aquelas sete ou oito horas diárias, com minha mente completamente focada em outras pessoas. Meus plantões familiares eram nos fins de semana e, durante a semana, saía do consultório e fazia minha visita que, em muitos dias, não foi nada bem recebida. Mas eu lido com obsessores diariamente, conheço suas estratégias, suas manhas, e tudo o que eles queriam era exatamente isto: que eu abandonasse o barco. Mas sou filha de Durga, filha de Iansã, não abandono pelejas, mesmo que elas me dilacerem. E, como filha e como irmã, eu estava dilacerada. No dia da cirurgia de correção não me preocupei e nem desmarquei os pacientes. Apenas avisei a minha mãe e a minha tia, que agora haviam passado a ouvir com atenção tudo que eu dizia, que na cirurgia daria tudo certo. Depois, seriam três noites de vigília. Eu faria sozinha a primeira e a segunda, e elas fariam a terceira.

Na manhã do terceiro dia fui embora para minha causa exausta, querendo acreditar que elas conseguiriam. Não consegui dormir direito, estava inquieta, mas creditei isto à tensão. Meia noite, toca o telefone: meu pai havia tido uma hemorragia interna, fora levado às pressas ao centro cirúrgico. Percorri a distância de quase 40 km entre minha casa e o hospital num período de menos de 25 minutos - num Ford Ka!. Lá, parada na porta do centro cirúrgico fiz algo que nunca contei a ninguém. Invoquei o espírito o meu pai e disse mentalmente a ele com força, verdade, mas também com raiva: "se você quer mesmo ir embora, se você quiser mesmo morrer, que morra!, mas faça isto agora, deixe de sofrer!" E soltei as amarras. Puxei os fios magnéticos que tinha lançado sobre ele e o deixei ir. Mas isto teve um efeito que nem mesmo eu, com toda minha instrução sobre a mente humana, poderia prever na hora: ao se ver 'sem guarda', ele decidiu lutar. Decidiu revogar o 'pacto maldito' e quis de fato viver. Seu calvário ainda não terminara, mas agora ele iria, muito lentamente, começar a trabalhar conosco para ajudá-lo - eu e meus guias - e não contra nós.

No dia seguinte, o médico, ou melhor, o médium de seus obsessores, fez questão de dizer, olhando em meus olhos, que havia sido avisado às 15 h que meu pai estava com hemorragia, mas 'pediu para o colega plantonista ir observando e só o chamar se realmente precisasse'. Pouco antes da meia noite meu pai entrou em choque e realmente viu a morte de frente. Saiu do centro cirúrgico com uma bolsa de colostomia que só pode ser retirada numa quarta cirurgia, um ano e meio depois. Seu corpo desnutrido e fragilizado, submetido a três procedimentos extensos num período de pouco mais de três semanas não teve condições de sustentar os pontos que se abriram: a cicatrização seria de segunda intenção, o que significa que aconteceria lentamente e ao longo de meses, pois para complicar ainda desenvolveu fístulas.

Seus torturadores, contudo, ainda não haviam terminado de engendrar sua vingança. Foi submetido pessoalmente pelo médico a curativos que fariam os 'procedimentos' da idade média sentirem-se revitalizados. Eu já não era mais a 'cassandra de estimação', mas minha palavra ainda não tinha a força necessária para poupá-lo de outros sofrimentos. O medo continuava presente na consciência e no inconsciente dos meus pais, e isto ainda permitia absurdos. Com a orientação de meus compadres, ambos da área de saúde, comecei a fazer uma campanha para que ele recebesse alta. Tinha que retirá-lo daquele lugar. Mas ele, ainda sob a fascinação do médico, acreditava que a cicatrização ocorreria no hospital; sentia-se humilhado pela colostomia. Mas também começava a se voltar para Deus. No hospital mesmo, converteu-se de coração ao catolicismo e, lembrando-se das lições espirituais recebidas do pai-pastor, começou a se evangelizar de fato. O mal começava lentamente a se transformar em bem.

Em dando momento, o próprio plano de saúde começou a querer mandá-lo para casa e a colocá-lo sob home care - ficava caro mantê-lo ali apenas para fazer curativos. Agradeci a Deus: os curativos mal feitos estavam prejudicando a cicatrização. E, 67 dias depois da primeira cirurgia, contrariando a vontade do médico, o hospital forçou sua alta. Neste momento, consegui colocar meu pai sob os cuidados de um anjo encarnado; uma pessoa que tem mãos de cura e um forte amor pelo que faz e que, por isto mesmo, se torna uma curadora. Sob sua orientação carinhosa, os curativos certos foram aplicados no tempo certo e, aos poucos, a incisão de mais de 30 cm foi se fechando. Pude, então, recolher minhas armas e, como o guerreiro que volta para casa depois de uma batalha sangrenta, tratar uma a uma minhas próprias feridas sem, contudo, deixar de continuar a cuidar de meus pacientes e a travar outras batalhas. Mas todo curador é Kíron, não há muito que se fazer sobre isto.

Há um ano atrás meu pai recebeu a indicação de fazer uma cirurgia de próstata. Desta vez a primeira coisa que eles fizeram foi me contar e comecei, com uma paciência quase búdica, o trabalho de convencê-lo a abandonar o médico que o acompanhava e a ir, pelo menos, conversar com meu compadre - que é cirurgião. Não que não confiasse no médico anterior ou que sentisse que poderia haver um problema, meu foco era outro. Queria que ele vivesse uma história diferente e que se permitisse ter a oportunidade de saber que realmente pode ser protegido e cuidado com amor por um profissional de saúde. Paralelamente, comecei a trabalhar com meus guias para drenar os medos e traumas que borbulhavam no inconsciente da família - desta vez todos nós faríamos uma história diferente.

Meu compadre é também um curador espiritualizado e tem a seu lado guias muito fortes. E mesmo ele conhecendo a todo o processo anterior, ainda tomei o cuidado de explicar detalhadamente tudo o que ia no inconsciente dos meus pais. A cirurgia aconteceu quinze dias atrás; meu pai ficou no hospital meras 24 horas e está em casa se recuperando. Meu único trabalho é lembra-lo o tempo todo que ainda está de repouso, pois sem dor ele precisa da 'memória' para não abusar e se complicar.

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